*Por André Machado Jr – CEO da AsQ
A saúde suplementar brasileira está diante de um cenário preocupante. Hoje o setor é integrado por aproximadamente 700 operadoras de planos de saúde que atendem um contingente de 50 milhões de pessoas. Um em cada quatro brasileiros têm plano de saúde no Brasil – e 70% desses beneficiários têm o serviço pago por empresas dos mais variados portes e setores que veem na assistência à saúde suplementar um diferencial para retenção de talentos e manutenção de um bom ambiente de trabalho. Ao mesmo tempo, há crescimento significativo da sinistralidade (relação entre os custos dos serviços médicos e hospitalares prestados e as receitas geradas por cada contrato).
O resultado é a necessidade de grandes reajustes no valor dos planos, o que impacta o caixa das empresas financiadoras. Na média, a alta dos planos empresariais tem ficado em torno de 30% em 2023. Já imaginou ter que pagar um reajuste de 30% em qualquer serviço fixo que você utiliza? A conta não fecha.
A eventual manutenção do quadro atual deve provocar uma fuga de beneficiários dos planos de saúde. As operadoras tendem a ter prejuízos ou, pelo menos, sofrer com o comprometimento de suas receitas. Ao mesmo tempo, a possível queda no número de pessoas com plano resulta em alta na demanda pelo SUS, um sistema valioso e essencial, mas que também sofre com a alta das despesas e com recursos limitados. Imagine a sobrecarga do sistema público com a eventual migração dos usuários em pouco tempo.
Há uma série de fatores relacionados ao agravamento do problema – e é mais do que urgente buscar soluções. Investir em Atenção Primária à Saúde e em serviços que integrem a saúde ocupacional a assistência é o diferencial que vai mudar esse jogo. Isso pelo fato de precisarmos, urgentemente, atuar na promoção à saúde e na prevenção de doenças. Precisamos conhecer a nossa condição de saúde e focarmos para termos mais qualidade de vida e, por conta disso, reduzir desperdícios no setor.
Outro dado interessante, que comprova isso, vem do relatório recente da Organização Mundial de Saúde (OMS) com uma análise dos efeitos do sedentarismo. O dado indica que aproximadamente 500 milhões de pessoas no mundo irão desenvolver problemas cardíacos, obesidade ou outras doenças atribuídas à ausência de cuidado. No Brasil, até 45% da população convive com pelo menos uma doença crônica não transmissíveis (diabetes, hipertensão, obesidade, doenças cardíacas, entre outras).
A experiência mostra que os dois cenários apresentados acima estão profundamente interligados. Sabemos que a metade dos fatores que determinam a nossa saúde estão ligados aos nossos hábitos. Por isso, precisamos adotar hábitos saudáveis: atividade física, alimentação saudável, utilização do sistema de saúde para promoção e prevenção, por exemplo, são aliados nesse processo. As empresas, por sua vez, devem estimular e facilitar o acesso das pessoas a esses recursos. No final do dia, todos ganham.
Os trabalhos que tenho a oportunidade de desenvolver com grandes empresas têm demonstrado dados interessantes. Com o estímulo adequado, o engajamento das pessoas nas ações que promovem saúde pode chegar a 90%, com 93% de satisfação e 10% de redução de custo global com saúde para a empresa, além de diminuição de 43% de horas de atestado. Esses são alguns dados que demonstram o quanto investir certo em saúde corporativa faz sentido para as pessoas, que ficam mais produtivas, e para as empresas, que têm retorno positivo sobre esse investimento.
Em tese, os ganhos de bem-estar e longevidade deveriam ser suficientes para nos convencer a todos sobre a importância da adoção de hábitos saudáveis. A realidade mostra, porém, que no corre corre da vida diária, esses fatores são menos valorizados do que deveriam. Quem sabe a iminência de sérios obstáculos financeiros para o setor, com impacto sobre todos os envolvidos, não seja estímulo mais eficiente para transformarmos nossa vida para melhor?