A complexidade e a forte regulamentação do setor podem trazer riscos graves às empresas e à economia sem uma política de compliance e governança, debatem empreendedores durante evento realizado em Florianópolis.
As fintechs, startups que desenvolvem produtos e serviços financeiros, lideram, com larga vantagem, o volume de recursos investidos por fundos de investimento: só no primeiro quadrimestre de 2021, foram US$ 731 milhões aportados em 45 negócios no país, segundo o levantamento do Distrito Dataminer.
Em Santa Catarina, duas fintechs tem nadado de braçada com a digitalização dos meios de pagamento acelerados pela pandemia. A PagueVeloz, de Blumenau, começou 2020 com 65 colaboradores e está chegando a 400 pessoas na equipe, com perspectiva de crescimento de 270% com sua solução de conta digital para pequenos e médios negócios. O Asaas, de Joinville, também chegou a outro patamar nos últimos anos. Fundada em 2011, a plataforma de pagamentos, cobranças e antecipações para empreendedores praticamente triplicou o volume de colaboradores ao longo do último ano e meio. Nesse período recebeu um investimento R$ 38 milhões do InovaBra Ventures e já adquiriu duas startups para ampliar o portfólio de serviços.
Mas por trás do crescimento acelerado das fintechs, está um mercado altamente regulado e complexo, que exige um elevado nível de governança e transparência dos empreendedores. “Assim como você não abre uma padaria sem padeiro, você não pode começar um fintech sem um especialista no mercado financeiro, ou pelo menos sem saber a quais autarquias tem que se reportar. O primeiro passo é saber quem vai te regular”, comenta Piero Contezini, CEO e cofundador do Asaas, durante palestra no primeiro dia do Startup Summit 2021, em Florianópolis.
“São quase 800 circulares que devem ser cumpridas por instituições de pagamento. Por isso, você nunca vai se arrepender se começar a empresa já com bons advogados e contadores. Mas não terceirize as atividades, o empreendedor precisa saber exatamente o que pode fazer e especialmente o que não pode fazer”, destacou.
Para Nilton Spengler Neto, diretor de Operações da PagueVeloz e advogado, o mercado tem alto grau de regulação em função do “risco sistêmico” que as instituições de pagamento oferecem ao mercado. “Se disponibilizamos para milhares de pessoas uma conta digital e não honrarmos os compromissos, por algum motivo, o cliente pode quebrar e isso desencadeia problemas em série na economia. A regulação é necessária e positiva para o mercado”.
Além disso, há riscos como fraudes fiscais e lavagem de dinheiro, que podem até mesmo implicar judicialmente os empreendedores se não houver controle e mecanismos de transperência por parte das plataformas. “Hoje temos 20 pessoas atuando no Asaas com compliance e governança, em função da grande demanda por órgãos como o Banco Central. Além disso, todos os valores acima de R$ 10 mil que achamos suspeitos nós registramos no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf)”, detalha Contezini.
Na avaliação dos empreendedores, os avanços em inovação do Banco Central ao longo da décadas não só permitiram que novas tecnologias e sistemas (como o Pix e Open Banking) se tornassem realidade e estimularam a criação de novas startups para o setor, como também tornaram o Brasil em referência mundial. “O Pix trouxe voz ativa para implantar novos produtos financeiros, ampliar a competitividade. Agora vem o Open Banking e teremos cada vez mais novos serviços neste setor. Tudo que acelera transações financeiras acelera a economia”, conclui Spengler.