Apesar de ainda existir uma distância entre o discurso e a prática, há empreendimentos digitais dedicados a fazer valer a Agenda 2030, colaborando para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
Praticamente metade do tempo transcorreu. Resta apenas a outra metade – oito anos para 2030, prazo previsto em 2015 para que o planeta cumprisse 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os chamados 17 ODS. Será que, agora em 2022, quando a Conferência de Estocolmo – o primeiro evento da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre meio ambiente – completa 50 anos, governos, negócios e sociedade estão de fato cientes e comprometidos com a importância de se pôr em prática a Agenda 2030 (nome do pacto rumo à execução dos ODS)?
Para o filósofo, poeta e escritor Rodrigo Starling, gestor de organizações sociais, ainda há um “gap gigantesco” entre discurso e prática na pauta sustentabilidade. Ao mesmo tempo, há casos inspiradores – por exemplo, negócios sociais, concebidos e colocados no mercado com o propósito de atender um ou mais dos ODS. São startups do futuro, alinhadas à Agenda 2030. “Num cenário adverso, conceitos como liderança transformacional e resiliência são vitais. O que são os líderes de vanguarda, senão voluntários transformadores?”, ressalta.
Starling é secretário executivo do Comitê de Desenvolvimento das Parcerias, Voluntariado Transformador e Cidadania da Fundamig (Federação Mineira de Fundações e Associações de Direito Privado). Em parceria com o Minas Voluntários (Centro Mineiro de Voluntariado Transformador), do qual o filósofo já foi presidente, a Fundamig mantém uma revista virtual, a Nave (acrônimo para Núcleo de Altos Estudos em Voluntariado e Sustentabilidade), em que práticas em convergência com os ODS são reunidas e apresentadas.
O especialista cita ainda um levantamento feito pelo Instituto Legado, que lista 17 negócios sociais inspiradores – um para cada Objetivo do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030. São iniciativas de empreendedorismo social em diversas regiões do País, como o Olha o Peixe!, voltado às comunidades pesqueiras do Paraná, alinhada ao ODS 12 (Consumo e produção sustentáveis). Ou o Cerrado de Pé, na Chapada dos Veadeiros, concebido para atender o ODS 15 (Vida terrestre).
Outra iniciativa é a Rede Brasil do Pacto Global no Brasil – que envolve empresas do País a uma rede lançada em 2000 pela ONU justamente para reunir instituições comprometidas com princípios universais nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção. A Rede Brasil do Pacto Global conta hoje com mais de 1,1 mil empresas brasileiras registradas.
Contudo, entre a adesão formal e o pôr a mão na massa está o “gap”, isto é, a distância entre discurso e prática, a que se refere Starling. Isso é constatado pela participação dessas empresas brasileiras nos eventos e nas ações promovidos pela rede Pacto Global em nível internacional. Embora o número de empresas brasileiras signatárias na rede passe das dez centenas, apenas algumas dezenas delas são frequentadoras contumazes dos foros em que se buscam ações concretas.
Em movimento do discurso para a prática, o empreendedor social Marcos Rocha Martins Silva lançou recentemente um negócio para contribuir com o cumprimento do ODS 7, que trata de assegurar energia sustentável a preço acessível para toda a sociedade. Trata-se de um sistema de financiamento de construção de usinas de energia solar a partir de recursos vindos de taxas de transação de uma moeda digital, a EnyCoin (ENY), da startup da qual Marcos Silva é CEO, a EnergyPay.
“A crise hídrica expôs a urgência de o Brasil diversificar sua matriz energética. A EnyCoin é um instrumento para viabilizar, financeiramente, a construção de usinas de geração solar”, assinala o empreendedor. A primeira, em Itaobim, Minas Gerais, já está em implantação e deve iniciar operação ainda neste ano. Serão outras 14 mais até 2025 – além de Minas, também na Bahia e Rio de Janeiro.