As vendas de Natal deste ano ficaram abaixo da expectativa dos lojistas, apesar de terem registrado um pequeno acréscimo em relação ao Natal de 2010, considerado o melhor dos últimos dez anos. Três levantamentos preliminares sobre o desempenho do varejo, feitos por entidades diferentes, mostram que as projeções não se confirmaram. Até por conta disso, ontem mesmo já começou a liquidação dos estoques que sobraram.
Levantamento nacional da Associação dos Lojistas de Shopping (Alshop) com 150 lojas indica que o faturamento nominal dos shopping centers cresceu 5,5% em relação ao Natal de 2010. A entidade esperava uma alta de 6,5%. Levando-se em conta a inflação acumulada no período, estimada em 6,5% pelo IPCA, houve até queda real na receita, de cerca de 1%.
Outra enquete realizada ontem pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que as vendas aumentaram 2,33% na comparação com o ano passado. A expectativa dos lojistas era crescer cerca de 8%.
Dados da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) de consultas feitas para vendas à vista e a prazo apontam para a mesma direção. Entre os dias 1.º e 25 de dezembro, houve uma acréscimo de 1,9% no número de consultas em relação a igual período de 2010. Os economistas da ACSP projetavam um crescimento de 2%.
Um levantamento feito pela Serasa Experian só para a semana do Natal revela que o número de consultas para vendas quitadas com cheque, cartão ou qualquer meio de pagamento que não seja dinheiro vivo cresceu 2,8% em relação aos mesmos dias de 2010. Na cidade de São Paulo, o acréscimo foi de 2,5%. Neste caso, não existiam projeções, mas numa enquete feita no começo do mês com lojistas, mais da metade (55%) dos entrevistados acreditava que iria faturar mais do que no Natal do ano passado.
Apesar da frustração, representantes do varejo ponderam que o resultado não foi ruim. "Foi um bom Natal, levando-se em contas as circunstâncias atuais", diz o economista da ACSP, Emílio Alfieri. Além disso, a base de comparação, que é o Natal de 2010, é muito forte.
O economista destaca o surpreendente desempenho das vendas à vista. Até o dia 15, elas estavam empatadas com as de 2010. Mas, após o recebimento da segunda parcela do 13.º salário, no dia 20, a venda à vista deslanchou. Isso significa que o consumidor evitou o endividamento e optou pela compra de itens de baixo valor unitário.
Perfumaria. A preferência por produtos de menor valor é comprovada pelo levantamento feito pela da Alshop. O setor de perfumaria e cosméticos foi o que mais cresceu (18%), seguido pelo segmento de óculos, bijuterias e acessórios (17%). A decepção, segundo o presidente da Alshop, Nabil Sahyoun, veio dos artigos de vestuário, que registraram um acréscimo de apenas 2% nas vendas.
O aumento do preço do algodão, na casa de 20%, e a facilidade de viajar ao exterior e comprar roupas com preços mais em conta explicam esse resultado. "Hoje os brasileiros estão no terceiro lugar no ranking dos que visitam os Estados Unidos", observa Sahyoun.
Até mesmo os produtos eletrônicos, com a novidade dos tablets, e os eletrodomésticos, beneficiados pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), não deslancharam como se esperava. Nesses dois segmentos, o aumento médio das vendas foi de 5%.
A maior procura por itens de menor valor fez o gasto médio oscilar entre R$ 150 e R$ 200 nos shoppings frequentados pelas classes de maior poder aquisitivo e entre R$ 20 e R$ 45 nos shoppings populares.
Ano. Apesar do desempenho modesto do Natal, a Alshop divulgou as vendas do ano, que cresceram 12% em termos nominais e 6%, descontada a inflação do período. Segundo dados da Alshop, 60% desse desempenho foi obtido no primeiro semestre. Com o acirramento da crise financeira internacional, o quadro mudou a partir de setembro.