O que pode ser resolvido em uma reunião on-line será mantido, exigindo uma reformulação do setor de turismo, comenta Marcos Linhares, CEO da travel tech OnFly. Setor acumulou perdas de US$ 35 milhões desde o início da pandemia.
Quando a pandemia da Covid-19 começou e o home office virou rotina para milhões de trabalhadores, eventos e reuniões que antes eram presenciais passaram a ser comuns nos aplicativos Zoom, Teams e Meet. O resultado foi a derrubada do turismo de negócios, que enxergava a vacinação como a “luz no fim do túnel” para a retomada.
Mas a má notícia para a cadeia relacionada ao setor é que o turismo corporativo passará por uma profunda transformação e não deverá retornar suas atividades como antes. Pesquisa publicada no site “The Hustle”, baseada em relatórios e fontes da indústria, aponta que em outubro de 2021 as vendas de passagens de avião para empresas foram 58% menor em relação aos níveis de 2019, na plataforma Kayak, líder de procura de passagens, o volume de buscas para destinos líderes em viagens a negócios (como São Paulo, por exemplo) caiu 88%.
“Este declínio causou turbulência para os modelos de receita das maiores companhias aéreas do mundo. Em 2020, em grande parte devido à escassez de viagens de negócios, as principais companhias aéreas do mundo perderam US$ 35 bilhões”, diz o estudo.
No Brasil, no primeiro semestre deste ano houve uma queda de 39,6% nas viagens empresariais, em relação ao mesmo período do ano passado, conforme aponta a Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (Abracorp), com operações que totalizaram R$ 1,427 bilhão, em comparação aos R$ 2,364 bilhões de janeiro a junho do ano passado.
Para Marcelo Linhares, CEO da Onfly, travel tech de Belo Horizonte que permite que empresas e seus colaboradores façam reservas de voos, hospedagens e locação de carro on-line, a pandemia não é a única responsabilizada pelas baixas do setor – que ficou anos com reduzida capacidade crítica e uma profunda “miopia” diante das evoluções tecnológicas que aconteçam no mundo. “Portanto, o momento agora pede uma completa reinvenção. É preciso mudar para as coisas não continuarem como estão”, opina.
As viagens de negócios não acabarão definitivamente, mas serão completamente transformadas pois a pandemia provocou profunda mudança de hábito nos consumidores, e isso exige novos contornos, priorizando a experiência e segurança do viajante corporativo e o cumprimento do orçamento das empresas, comenta o empreendedor.
“Sabemos que o isolamento nunca será uma característica da natureza humana. Por outro lado, percebemos que o perfil do viajante de negócios mudou bastante, com a extinção quase que total das viagens “bate-volta”, bem comum antes de 2020. Além disso, antes da Covid-19, as empresas estavam habituadas a planejar viagens com 12 dias de antecedência, em média. A realidade agora é outra e elas tomam suas decisões em cima da hora, evitando problemas com remarcações e cancelamentos”.
Depois de quase ter encerrado as atividades em 2020, a Onfly deve fechar 2021 com R$ 40 milhões de volume transacionado e 300 clientes recorrentes, com um modelo que mistura software com agenciamento online.
Para as empresas que precisam das viagens corporativas, o executivo sugere:
– Focar em um planejamento, para reduzir as chances de possíveis erros ou problemas;
– Estabelecer contratos com plataformas especializadas em viagens corporativas, deixando assim a equipe focada em questões mais estratégicas e menos operacionais;
– Analisar sempre os dados, para melhor experiência dos colaboradores e economia para os acionistas.