Há pelo menos cinco anos, o pagamento via celular é assunto de debate entre operadoras, bancos e empresas de cartão de crédito no País. O desafio, de acordo com especialistas, é aumentar a abrangência da oferta do serviço, para que o consumidor possa testá-lo. Depois de Oi e Cielo, que se uniram em setembro de 2010 para desenvolver soluções de pagamento via telefonia móvel, Vivo e Telefônica celebraram ontem uma joint venture para explorar este mercado.
Números recentes mostram que a capilaridade do serviço ainda é limitada. Segundo a consultoria Gartner, a base mundial de 6 bilhões de celulares deve gerar apenas 141 milhões de transações de pagamento este ano. De acordo com o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude, estatísticas como transparecem mais a dificuldade das empresas em oferecer o serviço do que o desinteresse por parte do consumidor. "Setenta e cinco por cento dos clientes querem usar o pagamento por celular. O problema é que a abrangência dessa opção ainda é limitada."
Mesmo a Oi, que lançou a primeira versão de sua plataforma de pagamentos móveis há cinco anos, ainda estuda formas de garantir o acesso do consumidor ao serviço. Em setembro do ano passado, a empresa lançou duas frentes de expansão do serviço Paggo: formou uma joint venture com a Cielo para expandir a rede habilitada a aceitar pagamentos por celular e fechou um acordo com o Banco do Brasil para emissão de cartões de crédito e débito que já vêm habilitados para uso em sua base de aparelhos móveis.
Ambas as iniciativas ainda funcionam em fase de testes. Segundo o diretor de produtos financeiros da Oi, Gabriel Ferreira, a expansão dos serviços começou por Pernambuco e deverá atingir o restante do País ao longo de 2012. "É um modelo que ainda não decolou por conta de uma combinação de fatores que agora começa a ficar madura", diz o executivo. Ele cita a renovação da base de aparelhos móveis – com a maior predominância de smartphones – e a criação de diferentes nichos de mercado para o pagamento móvel como exemplos deste processo.
Oportunidades. Nesta fase de aprendizado sobre o mercado de pagamentos móveis, Ferreira diz que ficou claro que era preciso deixar claro ao consumidor que o celular poderia trazer vantagens claras em relação ao plástico. Uma delas é o uso do cartão de crédito em situações em que o cliente, na maior parte dos casos, ainda é obrigado a usar dinheiro vivo. "O celular é uma opção válida para segmentos como o porta a porta, delivery, táxi, feirantes e profissionais liberais. O custo de aceitar o cartão diminui com o pagamento móvel", explica. "A ideia é que esses segmentos ‘pulem’ a fase do cartão de plástico, passando do dinheiro vivo para o celular."
Ferreira afirma também que a evolução do mercado também exigirá que todas as operadoras de telefonia móvel migrem para uma plataforma tecnológica comum – só assim o serviço poderá ganhar escala relevante. O sistema atual, explica o executivo, ainda mostra que o pagamento por celular ainda está numa fase "verde", uma vez que as parcerias limitam o universo de usuários. "É um processo natural de amadurecimento. Acredito que a parte tecnológica vai virar commodity dentro de dez anos. O diferencial será o serviço, a oferta e o marketing", explica.
Baixa renda. O maior exemplo de sucesso no uso do celular como meio de pagamento é a plataforma da M-Pesa, da Safaricom, no Quênia. Neste caso, a telefonia celular acaba por substituir a operação bancária, permitindo que a população como um todo tenha acesso a serviços de pagamento – o serviço é utilizado hoje por 14 milhões de quenianos.
A brasileira Freeddom, que oferece tecnologia para pagamentos por celular, desenvolveu uma parceria para oferecer um serviço parecido na Nigéria. O United Bank for Africa (UBA), maior instituição financeira do país, contratou a empresa para atender a metade de sua base de clientes. "Serão 4 milhões de pessoas que serão transferidas de um sistema bancário comum para uma conta operadora por celular. Será uma forma de reduzir custos", afirma Guilherme Messiano, diretor de Novos Negócios da Freeddom.
A empresa agora aplica o mesmo raciocínio ao Brasil: quer usar as grandes cadeias de varejo como plataforma para aumentar o tráfego do pagamento por celular no país, atingindo os "sem banco". A meta da companhia é que clientes de redes populares possam usar o limite de seus cartões para outros fins, como comprar créditos para celular pré-pago. "É uma vantagem para a loja, pois o cliente passa a usar o limite com mais frequência", diz Messiano. "Trata-se de uma receita nova: o cliente deixará de usar o dinheiro e passará a usar o crédito para carregar o celular."