Web Summit: inspirações, experiências e transformações

Por Fabiana Ramos, CEO da PinePR*

Principal evento de inovação e tecnologia do mundo é também uma oportunidade imperdível de pensar um mundo com um toque mais feminino

Participar do Web Summit Lisboa, um dos maiores eventos de inovação e tecnologia do mundo, foi uma experiência difícil de descrever. Levamos uma delegação de executivas de diversos setores e tivemos uma intensa programação, com visitas a centros de inovação, universidades, empresas e inúmeras oportunidades de networking.

Diante de tantas experiências, a ida ao Web Summit foi uma oportunidade de perceber o quanto as lideranças femininas estão ocupando espaços, com base em muita competência e capacidade de realização. Esta edição do evento teve pouco mais de 70 mil participantes, sendo 43% mulheres (um pouco mais que em 2022). Mais importante foi o “lugar de fala”: 38% dos palestrantes eram do sexo feminino, contra 34% nos dois anos anteriores. É possível equilibrar mais essa balança, mas o evento está indo no caminho certo.

Com representantes de 153 países, o Web Summit promove incríveis oportunidades de interação e de entender como outras culturas, povos e realidades socioeconômicas criam ambientes de negócios poderosos. Mas ainda existem muitas barreiras a superar, especialmente no dia a dia do trabalho.

A terceira edição do estudo anual State of Gender Equity in Tech, divulgada pelo Web Summit logo no início do evento, mostrou que quase metade das quase 500 entrevistadas sentem que as empresas onde trabalham não tomam as medidas apropriadas para combater a desigualdade de gênero (quase o dobro da edição passada) e 53,6% sentiram sexismo no trabalho nos últimos 12 meses. Por outro lado, 76,1% das respondentes disseram ser estimuladas a perseguir ou manter uma posição de liderança em suas empresas.

Como líder de uma agência de comunicação fundada por mulheres e que tem a questão da liderança feminina muito forte em seu DNA, esses números mostram que a intenção de promover diversidade e protagonismo feminino é declarada, mas muitas vezes fica apenas no discurso. Afinal de contas, 77,2% das mulheres dizem precisar trabalhar ainda mais para provar seu valor.

Do discurso para a prática

A causa do empoderamento feminino muitas vezes assusta, mas é absolutamente necessária para criarmos um mundo mais inclusivo, diverso e que acolha todas as diferenças. E isso passa pela construção de lugares que permitam a livre troca de ideias. Como disse Katherine Maher, a CEO do Web Summit, logo na abertura do evento: “Todas as pessoas devem ter o direito de expressar suas opiniões sobre qualquer assunto. De forma respeitosa, é preciso desafiar e ser desafiado para que possamos crescer”.

Essa troca intensa de ideias se mostra ainda mais importante diante dos desafios que fazem parte do horizonte de empresas de todos os segmentos, em todo lugar do mundo. Embora o tema da Inteligência Artificial seja inevitável no mundo dos negócios hoje em dia, o Web Summit trouxe o tema à tona com um viés humano: em tempos de máquinas cada vez mais poderosas, aumenta a importância de sermos ainda mais humanos.

O engajamento real e efetivo virá do fit das pessoas com a cultura. Por isso, estamos em uma posição muito interessante (e desafiadora) de podermos transformar a cultura de nossas empresas para criar estruturas que acolham as diferenças e trabalhem com elas para a construção de um futuro melhor. Esse é um trabalho em construção em todo lugar, e precisamos ser um pouco menos rigorosos em nossas exigências: hoje, tudo é work in progress, o tempo todo.

Com isso, o mindset das empresas e das pessoas precisa mudar. Somos “metamorfoses ambulantes”, nos readaptando a cada mudança. Construir resiliência passa a ser mais importante do que solidificar conhecimentos – o mundo muda rápido demais para isso.

O grande desafio é construir negócios duradouros, baseados em pessoas, em uma sociedade em contínua transformação. Precisamos ser mais como barcos que flutuam e acompanham os movimentos das ondas, em vez de tentarmos impor nossa vontade sobre o mar. Ao mesmo tempo, a liderança das empresas precisa promover uma “mentalidade líquida”, o que passa por reconhecer suas próprias fragilidades e buscar apoio.

Tudo começa em nós mesmas

Uma das coisas que mais me impressionaram nesta edição do Web Summit foi a grande quantidade de startups focadas na solução de questões relacionadas à saúde mental. De todos os lugares do mundo. Dos mais variados tamanhos. Isso mostra que esse é um problema real e global: esperamos ouvir muito sobre Inteligência Artificial (e ouvimos bastante), mas ficou claro que temos que cuidar, urgentemente, de nossa Inteligência Emocional.

O modelo de sociedade baseada em uma corrida intensa e eterna atrás de conquistas está se mostrando insustentável – e estamos arrastando o planeta inteiro junto conosco. Precisamos, com urgência, repensar como atuamos como sociedade, como empresas e como profissionais. A saúde mental das pessoas se tornou um foco tão intenso das startups porque é uma questão prioritária – e é hora de adotar um novo olhar, mais empático, cuidadoso e, por que não, carinhoso.

Um olhar mais feminino.

Reconhecer as fragilidades e limitações nunca foi algo muito bem aceito no ambiente de trabalho. Mas o Web Summit trouxe inúmeros momentos em que ficou clara a necessidade de mudança. E mudar o olhar trará um refresh muito bem vindo. Como disse Annabelle Baker, diretora da Lush, precisamos trazer elementos de diversão para o trabalho e ir além dos aspectos racionais do negócio. Somente assim a inspiração para o crescimento pode ter espaço para crescer.

Parece uma ideia muito estranha, mas relaxar e abrir espaço para um ambiente de menos pressão gera resultados muito melhores. Uma conversa em um barco atravessando o Rio Tejo é mais memorável e efetiva do que uma reunião em um ambiente impessoal, da mesma forma como nossas melhores experiências acontecem quando estamos cercados de boas pessoas, em lugares que nos inspiram. Precisamos, todos e todas, abrir mais oportunidades para que momentos inspiradores aconteçam – e quando eles ocorrem, nos tornamos pessoas melhores. Menos máquinas e mais humanas.

*Fabiana Ramos é CEO da PinePR, agência de PR especializada no atendimento a scale-ups, empresas de tecnologia e grandes players inovadores, com atuação dentro e fora do Brasil, e possui 19 anos de experiência em empresas multinacionais. É responsável pela expansão comercial da agência e por posicionar a PinePR  como referência no mercado, garantindo a melhor experiência  para os clientes. Em sua última experiência, atuou por 3 anos na expansão comercial da Swarovski, desenvolvendo  uma abordagem internacional de vendas.

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