A complexidade brasileira é o paraíso dos empresários

Quando a gigante multibilionária eBay chegou a China achou que iria se fixar rapidamente. Entretanto, Jack Ma, naquele momento fundador de uma pequena empresa chamada Alibaba, reuniu sua equipe e disse: “O eBay está chegando. Eles podem até ser um tubarão grande no oceano, mas nós somos um crocodilo no rio Yangtze – maior rio de toda Ásia. Quando o crocodilo luta contra o tubarão no oceano, ele perde facilmente, mas se lutarmos no rio, nós ganhamos”.

O Alibaba não só derrotou o eBay, mas se tornou maior, com um valor de mercado de US$ 220 bilhões, sete vezes que a empresa norte-americana, dominando não só a China, mas a maioria dos mercados onde o eBay costumava dominar.

A história de Alibaba é um exemplo a ser seguindo pelos empresários brasileiros. Jack Ma era um professor simples de uma escola chinesa e começou a companhia digital em um momento em que o país não tinha capital disponível para investimentos e nem uma cultura ligada à Internet ou empreendedorismo. Ele muitas vezes cita: “Ninguém queria trabalhar para nós. As pessoas não conseguiam entender o que estávamos fazendo, por isso decidimos contratar quem entrasse pela porta. Não tínhamos escolha e todos pensavam que estávamos loucos”.

Como no Brasil, a China possui números elevados em relação ao PIB, população e território, combinados com mercados extremamente burocráticos, complexos e altamente regulamentados, com uma falta generalizada de cultura de negócios em sua força de trabalho.

Em 2013, lembro de ver os fundos de capital de risco no exterior saindo do país, tendo como base as premissas de que a burocracia e a complexidade do mercado matam o empreendedorismo. Escutei de muitos executivos brasileiros que o Brasil é o pior lugar na terra para se iniciar um negócio, especialmente quando uma crise política e econômica se inicia. Jack Ma pode ter pensado o mesmo sobre a China em 1999. Provavelmente seria mais fácil comprar uma passagem para o Vale do Silício, onde milhares de empreendedores competiam para resolver problemas, só que em um ambiente de negócios favorável, onde milhares de investidores estavam dispostos a dar apoio às ideias mais loucas.

Mas a filosofia de negócios de Jack Ma era diferente. Como qualquer outra pessoa bem-sucedida, ele focou onde estavam as oportunidades e não perdeu tempo reclamando sobre algo que ele não podia controlar.

Ele idealizou uma forma de conquistar investimentos de capital para seu negócio, assim navegaria na complexidade do mercado como ninguém, não tendo nenhuma concorrência forte em um mercado de bilhões de dólares. O Alibaba estaria incubado em um ambiente seguro, sem a necessidade de se preocupar com os competidores predatórios e comer uma fatia de seu “território”. Os concorrentes domésticos com financiamento insuficiente morreriam rapidamente e os concorrentes estrangeiros teriam dificuldade de entender um ambiente tão complexo. Em outras palavras, o Alibaba era – naquele momento – um pequeno, mas fortíssimo crocodilo lutando no rio Yangtze, onde os tubarões não podiam lutar. Seu ambiente era grande o suficiente para alimentar esse único crocodilo e o transformaria em um monstro, contra quem nenhum tubarão sonhasse em lutar.

Conheci Jack Ma em Davos, Suíça, em 2015. Naquele dia, sua recomendação para começar uma empresa em um mercado emergente era perfeita. Ele dizia para não se queixar e encontrar oportunidades onde todo mundo vê problemas, transformando esses problemas em sua vantagem. “A diferença que separa os empresários de sucesso dos demais é que eles nunca reclamam, sendo confiantes o suficiente para nunca desistir.”

Ou seja, se você estiver investindo em um mercado complexo, certifique-se de abordar um mercado massivamente grande e usar essa complexidade a seu favor. Desta forma, você irá incubar um pequeno crocodilo que irá se tornar gigante, podendo assim ganhar dos outros tubarões no oceano aberto.

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