Bancos tradicionais ao mundo das fintechs: oportunidades da revolução financeira

*Por Felipe Valença, CEO da Acqio

Não é de hoje que a forma como a sociedade se relaciona com aspectos financeiros do dia a dia vem se modificando. Estamos observando nos últimos anos uma grande mudança na mentalidade de pessoas e instituições quando o assunto é finanças. Como executivo com mais de 20 anos de atuação nesse mercado, sou privilegiado em observar o dinamismo que essa revolução tem causado para o sistema financeiro brasileiro e para a vida de pessoas e empresas. Apesar de já vermos mudanças substanciais nesse sentido, ainda estamos apenas no começo.

Desenvolvi boa parte da minha carreira em grandes instituições financeiras, com atuação nacional e internacional. Isso me permitiu ter um olhar sobre como a preparação é importante para lidar com o dinamismo do sistema financeiro. A mudança de bancos tradicionais para o mercado de startups só foi possível em razão dessa preparação contínua. Eu tive espaço para experimentar um pouco de tudo e adquirir experiência técnica em relação ao ecossistema e ao ambiente empresarial, com PMEs e acionistas, em 20 anos de mercado financeiro. Fui trainee, passei por vários cargos gerenciando relacionamentos com empresas de pequeno, médio e grande porte e trabalhei com renda fixa e fundos de investimento. Tudo isso me deu uma base importante.

Com o surgimento das chamadas fintechs, o próprio universo dos bancos tradicionais se modificou. Essas instituições sabiam – e sabem – que o dinamismo do setor financeiro (que sempre foi muito elevado) passaria a um novo patamar. Isso porque o uso intenso da tecnologia, além do próprio modelo de gestão das startups, tornaria a oferta de serviços financeiros para o usuário mais dinâmica. Hoje, como CEO de uma fintech de meios de pagamento, vejo na prática como isso é verdade.

Mas essa transição na mentalidade exige aprendizados. Como executivo, saí do varejo bancário para trabalhar em grandes bancos de investimento e aprendi bastante com gestores. Para se ter uma ideia, vários bancos foram projetos de empreendedores que saíram do escritório e foram ao mercado para implantar planos diferentes. Antes de me tornar CEO de uma empresa nativa digital, passei por diversos aprendizados. Só cheguei ao cargo atual, depois de ser executivo em áreas operacionais, como jurídico, logística, riscos, projetos, produtos e tecnologia. Conhecer as áreas internas operacionais me deu base de conhecimento para o desafio que estava por vir de liderar a empresa.

É evidente que as principais diferenças de trabalhar em um banco de grande porte e migrar para empresas jovens e em franca expansão está na capacidade criativa e de rápida execução. As fintechs, por exemplo, oferecem um ambiente e liberdade de negócio que uma instituição financeira tradicional não consegue prover. Em um local mais liberal profissionalmente, você tem a oportunidade de aprimorar sua capacidade de inovação, de gerar valor. Além, é claro, da agilidade nos processos e evolução no mercado. Esse, inclusive, é o grande desafio que grandes empresas do setor financeiro se deparam hoje em dia: como carregar a inovação com agilidade.

Como a entrega e a agilidade de serviços financeiros para o consumidor e para outras empresas já é uma realidade, o que vamos continuar a observar é uma mudança de mentalidade. As fintechs continuarão a crescer e inovar, e as instituições financeiras tradicionais continuarão a buscar acompanhar esse ritmo. E mais do que isso, surgirão outros exemplos de empresas inovadoras que surgiram a partir da experiência de pessoas que construíram suas carreiras dentro de grandes bancos tradicionais.

Antigamente, era mais difícil ver tantas pessoas dispostas a desbravar o mundo do empreendedorismo, mas de acordo com um levantamento realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo junto a professores, coordenadores de curso e gestores de incubadoras, de 40% a 60% dos alunos expressam o desejo de empreender ainda nos bancos das universidades, não apenas pelo lucro monetário obtido, mas pelas características do modelo de negócio, pois é uma oportunidade para “trabalhar com o que gosta”. Além disso, as startups crescem a cada ano. Para se ter uma ideia, o Brasil saltou de pouco mais de 4 mil startups em 2015 para mais de 13 mil no ano passado, de acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups).

Ainda veremos muitas oportunidades surgindo com a troca de conhecimento entre as instituições tradicionais com as fintechs. Com inovações como o sistema de pagamentos instantâneos PIX e o desenvolvimento do Open Banking, o empreendedorismo do sistema financeiro no Brasil ainda renderá muitos frutos. E a troca dos profissionais que atuam em bancos tradicionais com as empresas de tecnologia financeira só reforçará essa revolução financeira, que está apenas no começo.

*Felipe Valença possui mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro. Com passagens por ABN AMRO Real, Banco Safra e Goldman Sachs, hoje é CEO da Acqio, fintech brasileira que atua como adquirente e desenvolve soluções de pagamento para o varejo

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