CEO brasileiro ou estrangeiro?

21|05|2012

Uma multinacional precisa substituir o presidente da subsidiária no Brasil que pediu demissão, foi dispensado ou transferido para outra unidade. Qual o melhor caminho? É melhor a multinacional contratar um brasileiro, que conhece bem o mercado brasileiro, ou trazer para o Brasil um executivo da matriz ou de outra unidade no mundo? Segundo um leitor, o Brasil tem executivos de classe mundial e não haveria necessidade de serem preteridos por profissionais de outros países.

Essa é uma questão que envolve a cultura organizacional das empresas, os valores que prioriza, sua visão do negócio e suas estratégias de médio e longo prazos. Mas envolve também outros fatores, como a percepção que a organização têm dos outros países, construída com base em fatos reais e objetivos, mas muitas vezes contaminada também por preconceitos e estereótipos.

No passado, a falta de confiança de muitas multinacionais em relação ao País e à sua economia se estendia aos executivos nativos. “Como posso investir num lugar onde você dorme sob uma lei e acorda sob outra”, disse certa vez Jack Welch, legendário comandante da GE, ao justificar os poucos investimentos da empresa no Brasil e na América Latina. Se o País não inspirava tanta confiança, nossos executivos também não tinham uma percepção absolutamente positiva por parte das empresas estrangeiras. Assim, era mais comum a multinacional destacar para comandar as operações no Brasil profissionais da matriz e de unidades de países desenvolvidos, em detrimento dos profissionais locais.

Com o crescimento da economia brasileira, nossos executivos estão mais bem preparados e passaram a ser mais bem vistos no exterior. O aprofundamento da globalização também ajudou: as organizações passaram a enviar executivos brasileiros para a matriz e outras localidades, de onde eles voltam com preparo suficiente para assumir postos de direção no Brasil.

Mais atentas à realidade do Brasil, que passou a ser um de seus mercados prioritários, as multinacionais aprenderam também a identificar e valorizar qualidades, como flexibilidade e capacidade de construir relacionamentos, e diferenciais de nossos executivos. Em muitos casos, brasileiros já são convidados até a integrar a alta direção das organizações nas suas próprias matrizes.

Existem, contudo, multinacionais que atuam há décadas no País e, por questão cultural, ainda resistem a designar brasileiros para comandar suas operações locais, principalmente no setor industrial, por acreditarem que só um presidente estrangeiro tem condições de manter o padrão de manufatura e produção da matriz.

Mas, em muitos outros setores, como no varejo, as organizações preferem brasileiros que, por motivos óbvios, têm mais capacidade de perceber os aspectos culturais e hábitos do consumo local. E isso se tornou ainda mais imperativo com a ascensão da classe C ao consumo, fenômeno de difícil compreensão para quem não conhece a realidade brasileira. Enfim, caem as últimas barreiras que impedem os brasileiros de chegar ao topo.

Marcelo Mariaca é presidente do conselho de sócios da Mariaca e professor da Brazilian Business School.

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