Consultor e escritor analisa para onde vamos em termos de gestão empresarial

O consultor Sandro Magaldi é um homem inquieto. Reconhecido como um inovador no campo do empreendedorismo, ele alia uma atuação que une a academia e o mercado. Criador e comandante do site meuSucesso.com, mentor da Endeavor e professor de MBA na ESPM, FIA e Fundação Dom Cabral, Magaldi é autor dos livros “Movidos por Ideias: Insights para Criar Empresas e Carreiras Duradouras” e “Vendas 3.0: Uma Nova Visão para Crescer na Era das Ideias”, dois sucessos de venda.

Dono de uma visão muito particular das possibilidades empreendedoras do brasileiro, ele prepara o lançamento para o início de 2018 de um novo e aguardado projeto, o livro “A gestão na quarta revolução industrial – de onde viemos, onde estamos e para onde vamos”, onde passa em revista a história da gestão desde seus primórdios até a fronteira do marketing digital e as enormes possibilidades abertas com a tecnologia nos dias atuais. “Não é um livro de ferramentas, de how to.

Hoje não tem mais receita de bolo, o que é preciso é gerar reflexão”, adianta. Para isso, Magaldi reuniu mais de 90 cases de bons referenciais de gestão que vão desde um pequeno restaurante no interior de São Paulo até práticas utilizadas pela Tesla, Netshoes ou Apple. “Isso permite que o leitor faça sinapses que o levam a pensar como um bom exemplo pode ser aplicado ao seu conteúdo”, ensina. Conversamos com Magaldi logo após uma concorrida palestra na RD Summit deste ano, onde falou de seu novo livro e suas ideias, misturando empolgação e didática.

Sua palestra na RD Summit foi extremamente concorrida e o público pareceu bastante aberto aos desafios de aprender a partir de novos paradigmas. Foi essa a sua sensação?

Sandro Magaldi – Fiquei muito feliz, pois a ideia era essa, trazer uma luz a toda a transformação que está rolando. No meuSucesso começamos a fazer esses projetos, os estudos de caso dos empreendedores. Mas também há um mundo em transformação e muita gente pensa no que fazer e quais os modelos de gestão e de liderança dessa nova era. E na questão da educação, é uma história bizarra.

No mercado, o cara chega lá, tem que ser inovador. Mas vá assumir risco na escola para ver o que acontece, você repete o ano. Quer dizer, se estamos reclamando do mundo corporativo, que é da revolução industrial, na educação ainda estamos na revolução francesa, ou seja, já se passaram 400 anos de transformação. Então qual é a nossa ambição? Temos que ver qual é o modelo que emerge disso tudo, quais os modelos estratégicos e de negócios? Qual o modelo de educação e como temos que educar os nossos colaboradores? E também o modelo de liderança. Na liderança nós pegamos todas as competências tradicionais, que são válidas, mas requerem complemento. Então a gente fala em aprender a desaprender, tomar risco.

Como nasceu a ideia para o novo livro “Gestão na quarta revolução industrial: De onde viemos, onde estamos e para onde vamos”?

Esse projeto começou de uma maneira engraçada, porque a gente pensou, poxa, legal essa transformação toda, mas de onde veio o mundo da gestão para chegar até aqui. Então nós fizemos uma linha do tempo da gestão, desde a revolução industrial até os dias de hoje. O que aconteceu na sociedade que gerou mudanças no mundo corporativo? Deu 25 páginas. Mas quando acabou a gente pensou, mas vamos parar? Então nos aprofundamos e daí veio todo o desdobramento do livro, que no início ia ser um paper, um artigo acadêmico. Porque nós temos um entendimento de que para predizer o futuro, temos que entender de onde a gente veio, qual a origem de todas as transformações. Então começamos com uma leitura histórica do mundo da gestão e vamos até a visão de modelos de gestão, que envolve estratégia, educação, liderança.

Essas transformações estão ancoradas em uma nova maneira de pensar?

Quem está liderando as transformações da sociedade atual são empreendedores, são empresas que fazem uma boa leitura e transformam toda a sociedade. Plataforma de negócios como o Uber, estão mudando a matriz de mobilidade urbana. O trânsito em São Paulo caiu 4% no primeiro semestre, e especialistas reputam isso ao uso dos aplicativos. Ou seja, a tecnologia está fazendo com que pessoas como eu vendam o carro e só andem de transporte de terceiros.

E aqui no Brasil nós temos o 99Taxis, então não estamos falando só de gringo, que são plataformas que unem motoristas autônomos, clientes e consumidores. E isso move a matriz de mobilidade urbana de uma cidade como São Paulo. Percebe o virtuosismo do empreendedorismo, como ele transforma? O Airbnb, por exemplo. Não havia leitos para comportar todo mundo na Olimpíada, mas não aconteceu nada porque o Airbnb ocupou parte disso aproximando demanda e oferta. Isso é virtuoso. Por isso eu tenho a visão de que muito da transformação social vai acontecer através da evolução do empreendedorismo, sobretudo no Brasil. É por meio dessa matriz que a gente quer mobilizar e mover vetores até então inimagináveis, como a saúde, educação e mobilidade.

Exemplos que atingem uma área ampla de atuação, correto?

Veja, eu moro em um bairro legal de São Paulo, só que ele é circundado por cidades com menos poder aquisitivo. Queria alguma coisa para comer, entrei no iFood e comecei a ver um monte de restaurante. Eu moro perto de Santana do Parnaíba, e encontrei um restaurante chamado Paranaibão. Me chamou atenção o nome. É uma hamburgueria gourmet que não tem nem restaurante aberto, que só por ter uma plataforma digital já existente conseguiu mudar e competir com grandes restaurantes. Então olha a inclusão gerada pelo empreendedorismo, e isso vale para a sociedade como um todo, e a gente pode pegar 500 exemplos como esse.  E empreendedores pequenos, não estamos falando só dos gigantões. Olha só o caso daRD, que era pequena e hoje é uma empresa vibrante, que começou graças a uma boa leitura desse mercado, entendeu essa matriz de marketing digital que está mudando tudo e trouxe uma solução adequada.

Dentro dessa perspectiva de ferramentas adequadas para mudar e crescer no empreendedorismo, o digital é a grande chave?

Eu não tenho dúvidas. A matriz de transformação é digital, a união da tecnologia com a comunicação. O entendimento do desenvolvimento tecnológico mais a Internet, que está transformando toda a sociedade. A primeira noção que eu trago sempre é a do conhecimento, eu acho que a gente só vai conseguir migrar e passar para o outro lado da ponte se a gente adquirir boas referências.

Como sair do ponto comum e quebrar hábitos?

É muito difícil. O ser humano não está acostumado a lidar com rupturas. Então nós temos que entender que nós preferimos sempre o status quo. Então, se a gente não gosta,vai haver uma refração, nem que seja inconsciente. Então a primeira coisa é assumir isso. E como fazer essa transição? Pelo conhecimento. Uma das ambições que me levou a fazer esse livro foi essa, a de trazer uma luz a isso.

Hoje, com a web, você tem muita informação disponível. A grande dificuldade é que você tem demais. Então busque bons curadores. O que é um curador? É aquele cara em quem você confia, que tem um conteúdo relevante. Busque entender de onde ele está buscando a informação. E vá buscar conteúdo fora do país. Infelizmente hoje o mercado editorial brasileiro não está em uma boa fase, você não encontra uma profusão de literatura contemporânea boa em português, por isso eu sempre recomendo buscar outras referências. Coloca no Google tradutor, se você não fala inglês. Open your mind, abra a sua cabeça. Vá entender o que estão fazendo, o que esses caras que você gosta estão falando. Porque se você não tiver abertura, você sempre vai bloquear o novo.

Adotar novas formas de gestão e de encarar o mercado?

Tem que aprender a desaprender, tem que ter humildade. Pela primeira vez na história recente da humanidade existe o bônus da ignorância, não o ônus. Ser ignorante nesse contexto é mais vantajoso do que pensar que sabe tudo. Porque se você pensar que sabe tudo você não sabe nada e fica pouco aberto ao novo. Por isso a humildade para adquirir novos conhecimentos é um passo inicial para se transformar. E vai testando, validando, conversando com novos empreendedores.

A Ambev, por exemplo, tem uma aceleradora, a ZX Ventures, que está dedicada a construir soluções que vão destruir a Ambev, que vão disruptar a própria Ambev. É aquilo, eu não posso olhar só para o presente, tem que olhar para o futuro também. E aproveitar o virtuosismo da experiência com a inovação, da ruptura com o conhecimento estabelecido. E para isso precisa de humildade e sede de conhecimento.

O que me deixa motivado é ver milhares de jovens empreendendo. O pessoal que não está enxergando acha que Startups é uma onda, mas não é uma onda, é um tsunami. Então isso me motiva, ver gente querendo absorver novos conhecimentos. É daí que irão surgir os insumos necessários para essa transformação.

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