Criatividade: negócios e cultura

A gestão da criatividade tornou-se um desafio. De um lado para as organizações que pretendem sustentar, economicamente, seus negócios por meio da inovação. De outro, para o universo artístico e cultural, que está cada vez mais presente nas pautas econômicas e que, recentemente, recebeu destaque no Ministério da Cultura por meio da criação da Secretaria de Economia Criativa, cuja missão é conduzir o desenvolvimento econômico por meio do apoio dado aos profissionais, micro e pequenos empreendimentos criativos brasileiros, tornando a cultura um eixo estratégico nas políticas públicas de desenvolvimento do país.

Criatividade, como um recurso para o crescimento econômico, pode ser uma quebra de paradigma que requer a união de conceitos artísticos, científicos, sociais, ecológicos e econômicos. Trata-se de um tema interdisciplinar, transversal que deve posicionar-se também como estratégico, aproveitando a disponibilidade de recursos tecnológicos que, atualmente, facilitam as conexões; a diversidade contemporânea e o trabalho colaborativo que aparece fortalecido em contra partida a um modelo tradicionalmente competitivo.

Nesse contexto, dimensões subjetivas que tradicionalmente transitam pelo universo criativo passam a frequentar também o ambiente de gestão das empresas e dimensões objetivas, características da tradicional administração de negócios passam a serem incorporadas ao universo artístico e cultural, gerando estranheza, tensão e desafiando os gestores. Para adaptar-se a nova realidade é preciso, por um lado trazer para o ambiente dos negócios a originalidade típica do ambiente artístico e, por outro, levar os padrões de gestão clássicos do ambiente de negócios para o cultural, quebrando paradigmas e criando novos modelos que ultrapassem expectativas e os limites imaginários estabelecidos por um padrão de comportamento que já não se sustenta.

Para acompanhar esse movimento sócio econômico e cultural, novos perfis de liderança para os negócios são esperados tanto pelas organizações que pretendem inovar como por aquelas cuja atividade principal é voltada ao setor cultural.

Esse novo personagem é flexível, curioso, experimenta e descobre novas maneiras para fazer as coisas. Tem capacidade para observar e associar temas distintos, conectar pessoas e trabalhar com elas, facilitando a criação de algo novo por meio da formação de redes de relacionamento que se mesclam as equipes de trabalho, que por sua vez são multidisciplinares e demandam um trabalho motivacional individual e coletivo.

Modelos de gestão que aproximam o setor público e privado, o universo acadêmico e o não acadêmico, trabalham interesses econômicos e sociais em comum, por meio de equipes motivadas e focadas, que valorizam a diversidade, a multidisciplinaridade técnica e artística já mostraram resultados positivos e hoje são referencias internacionais na utilização de criatividade como recurso para o desenvolvimento. Cidades como Londres, Berlim, Barcelona e Amsterdam, por exemplo, reconheceram o papel da criatividade no contexto econômico e alavancaram novas possibilidades de negócios em diferentes setores.

No Brasil não é diferente: por um lado, cidades como Paraty/RJ, Tiradentes/MG, Guaramiranga/CE e Cataguases/MG já trabalham esse modelo de gestão cultural, social e econômica de maneira integrada. Por outro lado, por meio de iniciativa da Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do estado de São Paulo alguns municípios destacam-se com espaços que oferecem oportunidade para as empresas transformarem pesquisa em produtos de mercado, aproximando universidades, centros de pesquisas e escolas, do setor produtivo. São projetos do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos que estimulam o empreendedorismo e promovem desenvolvimento por meio da educação, ciência, tecnologia e inovação. Ambos, alicerçados em um recurso comum, a competência criatividade.

A união dessas competências cultural, artística, científica e tecnológica pode potencializar o desenvolvimento do país por meio da integração dos setores, de diferentes saberes, da gestão de relacionamento entre pessoas com interesses em comum, cujo trabalho, pode proporcionar o amadurecimento do mercado brasileiro que, pelo tamanho é, naturalmente, um destaque global.

Criatividade já é parte da pauta econômica e o Brasil, apesar do senso comum o considerar um país criativo, teve essa dimensão entre as destacadas como uma oportunidade de melhoria na última avaliação da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) onde o país ficou em 47º lugar do ranking global de avaliação de patentes, reforçando a relevância do tema no ambiente científico e relacionando criatividade a produtividade intelectual.

A dinâmica de mercado contemporânea vem de encontro ao equilíbrio necessário para administrar negócios utilizando a criatividade como um recurso e para administrar ações culturais, fortemente relacionadas ao potencial criativo, como uma possibilidade importante de crescimento econômico.

A gestão da criatividade nos negócios e dos negócios criativos é um tema novo, que exige profissionais com capacidade de lidar e criar em cenários e interesses, aparentemente, conflitantes. Este equilíbrio pode mudar o perfil das empresas, artistas e produtores no Brasil e impulsionar a economia nesse momento de crises e oportunidades.

Adriana Baraldi é especialista em criatividade para inovação. Consultora e professora universitária. Mestre em administração de empresas. Defende ações de desenvolvimento social por meio da educação. Aplica criatividade como recurso para estratégia com foco em inovação. Experiencia profissional em empresas multinacionais com Bunge, Firmenich e Bayer. Gestora da área de marketing e desenvolvimento de novos negócios, produtos e conceitos.

Erick Krulikowski é sócio diretor da i Setor. Tem mais de 15 anos de experiência em gestão executiva de projetos e negócios nas áreas da cultura, educação e saúde, com ênfase em planejamento estratégico, administração financeira, captação de recursos e desenvolvimento institucional. Graduado em Música pela Universidade de São Paulo (USP), tem MBA com ênfase em Marketing pela Universidad Latinoamericana de Ciencia y Tecnologia (San Jose, Costa Rica). Participa do curso de Análise de Empresas e Valor do Programa de Educação Continuada da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP).

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