De amigos no colégio a donos da maior empresa de suplementos da América Latina

Mariane Morelli tinha 19 anos e estudava Direito em Matão, interior de São Paulo, quando, em uma conversa de cabelereiro, ouviu falar sobre um segmento que estava crescendo no Brasil: suplementos alimentares. Na época, 2006, o mercado de suplementos alimentares – de proteínas e outros produtos fitness – era praticamente desconhecido pelo público geral e usados somente por aficionados em esportes de alta performance e academia. Mariane, que havia acabado de receber o seguro de vida pelo falecimento de seu pai, levou a ideia de investir nesse segmento ao amigo da escola, Alberto Moretto, na época também com 19 anos e fazendo faculdade de Física. Eles começaram a pesquisar a fundo o setor e viram que podia ser um segmento interessante para investir.

O irmão de Alberto, Carlos Moretto, embarcou na ideia. Na época com 23 anos, largou o dia a dia no sítio de plantação de laranjas que administrava junto ao pai e, juntos, começaram a pesquisar o mercado e as possibilidades de entrada nesse segmento. Viram que havia potencial e juntaram as economias das famílias e investiram em máquinas para produção de suplementos. Eles contam que o apoio da família foi fundamental para o negócio acontecer, afinal eles eram muitos jovens, inexperientes e sem nome no mercado para poder fazer empréstimos ou negociações. “Meu pai ajudou com o banco, minha mãe vendeu a empresa de terceirização de roupas que tinha acreditando no negócio e veio nos ajudar no dia a dia, hoje é nossa diretora financeira”, conta Carlos.

Assim começou a Supley, detentora da marca MaxTitanium, que recentemente adquiriu a concorrente Probiótica, que pertencia à multinacional de origem canadense Valeant Pharmaceuticals International Inc., e se tornou a maior empresa de nutrição esportiva da América Latina. A empresa foi montada em setembro de 2006. “Passávamos a madrugada produzindo e de dia saíamos para vender, em várias cidades no Estado de São Paulo. Os três faziam tudo: produção, faturamento e venda”, conta Mariana.

Os problemas surgiram logo. As primeiras máquinas compradas na verdade eram menos eficazes do que esperavam, o que obrigou os três sócios a venderem quase todos os equipamentos para comprar outros mais adequados. O investimento na época, reunindo os três sócios foi de R$ 100 mil reais e era tudo que as duas famílias tinham. “Esse valor era extremamente importante para nós, a empresa tinha que dar certo”, conta Mariane. Menos de seis meses depois de abrirem a empresa, vendo que havia ainda muito a aprender sobre o setor e que o conhecimento estava praticamente todo fora do Brasil, Mariane vendeu seu carro e usou o dinheiro para passar 3 meses visitando lojas de suplementos em São Francisco e outras cidades da Califórnia.

Da viagem, voltou com aprendizados e inovações para a época, como a venda de produtos via mensagens instantâneas (MSN) e novos produtos. “Ser jovem ajudou, éramos mais abertos à inovação e menos avessos ao risco”, diz Mariane. “Começamos a fazer degustação dos shakes, proteínas e maltos, e isso também atraiu bastante gente para conhecer os produtos.” Com poucos anos a empresa já havia dobrado de tamanho, sempre crescendo mais que a média de mercado – estimada em 10% ao ano pela Brasnutri – Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos Nutricionais e Alimentos para Fins Especiais.

Em 2011, os sócios chegaram em um momento de expansão que precisavam de qualquer maneira investir mais para expandir. O pai dos sócios, Luis Moretto, acreditou no crescimento e vendeu o sítio da família, onde plantavam laranjas, para investir na empresa. O valor total da venda do sítio foi investido na empresa, que mudou de prédio para continuar o crescimento. A empresa cresceu junto ao mercado consumidor. “Na época tínhamos um público direcionado, atletas, pessoas que viviam de esportes.

Hoje o público consumidor vai muito além dos atletas e bodybuilders”, explica Carlos. Confundido com “bomba” no passado, o Supley também ajudou a eliminar o preconceito do setor. “Nesse trajeto, focamos em um item muito importante: trabalhar com seriedade para mudar a visão negativa que esse mercado de suplementos tinha”, diz Carlos. “Temos uma prática de mercado que se baseia na confiança e na qualidade dos produtos.” Hoje, Alberto José Moretto (32 anos), CEO; Carlos Philipe Moretto (36 anos), Diretor Industrial; e Mariane Machioni Morelli (31 anos), Diretora Comercial e Marketing comandam a empresa líder do mercado – com market share no Brasil estimado de 25%.

Juntas, Probiótica e Supley passaram a ter um faturamento aproximado de R$ 250 milhões ano, com expectativa de crescimento acima da média de mercado nos próximos cinco anos. Seus produtos são vendidos em todo o território nacional e na Europa, onde o Supley está presente em 5 países (com destaque para Portugal e Espanha). Atuam com cerca de 6.000 pontos de venda em diversos canais: Lojas especializadas ou Body Shops; E-commerce especializado; Farmácias e Drogarias; Lojas de Produtos Naturais; e Distribuidores. A visão para o futuro é também promissora. “A aquisição da Probiótica foi a primeira de outras que poderão ocorrer nos próximos anos. Estamos reforçando nossa estratégia de crescimento e utilizando a sinergia das duas empresas em diferentes linhas de produtos dentro do mercado de suplementos”, complementa Alberto.

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