Empreender no Canadá

A oportunidade de morar no Canadá e ao mesmo tempo abrir um negócio foi o caminho da consultora de imigração Mariana Chagas, que trocou Joinville em Santa Catarina por Montreal, na província do Quebec e segunda maior cidade canadense, há 10 anos. Mariana explica que atualmente há três formas de imigrar como empreendedor. “Dentro da categoria de negócios (business), o Quebec tem três tipos de programas: Investidores, Autônomos e Empreendedores. Para obtenção do CSQ (Certificado de Seleção do Quebec), o candidato precisa comprovar experiência profissional de dois anos nos últimos cinco anos, desenvolver um plano de negócios e fazer visitas exploratórias pelo Quebec para reconhecimento do mercado. Esse candidato também precisa comprovar um patrimônio líquido de CAD$ 100,000 (para autônomos), CAD$ 300,000 (para empreendedores) e CAD$ 1,600,000 (para investidores)”, orienta Mariana Chagas do Liaison.

Decepcionado com a crise financeira e a falta de perspectiva profissional, Victor Fernandes, de 23 anos, morador da Penha, Zona Norte do Rio, sonha em deixar a Cidade Maravilhosa e abrir um negócio no Canadá. Há dois anos, Victor começou a vender salgadinhos e doces, em um quiosque, após investir 4 mil reais e contar com a ajuda da família. “Eu trabalho e muito, mas me sinto desmotivado com a carga de impostos no Brasil. Quero ir para o Canadá para tentar construir algo melhor para minha família”, fala o rapaz.

A ideia do pasteleiro já é uma realidade para muitos brasileiros que decidiram trocar o Brasil pelo Canadá. Atualmente, entre as mais de 30 formas possíveis de imigrar, o empreendedorismo aparece no topo das opções. O empresário e atleta Bruno Fernandes, ex-campeão mundial de jiu-jitsu, que há oito anos abriu a primeira franquia da Academia Gracie Barra, em Montreal, na província de Quebec, é um deles. “O investimento inicial de 80 mil dólares canadenses (perto de 230 mil reais) foi feito a partir de minhas economias e uma parte tive de financiar. O Canada é um país que estimula quem quer ser empreendedor e oferece linhas de crédito para se começar um negócio. A Gracie Barra é uma rede mundial de escolas de jiu-jitsu brasileiro com mais de 700 unidades ao redor do mundo. Eu sou o franqueador master na província de Quebec, onde temos atualmente sete escolas franqueadas, incluindo a minha”, explica Fernandes.

Para quem quer empreender no Canadá, um dos requisitos básicos ­­— e que também vale para outras seleções de imigração — é falar inglês ou francês, os dois idiomas oficiais do país. Ter um produto ou serviço diferenciado também ajuda. Depois de ser intercambista em vários países e concluí um mestrado em Relações Internacionais, a jornalista carioca Rosane Rodrigues decidiu investir em uma consultoria de educação com venda direta. “Como eu fiz vários intercâmbios, eu uso minha experiência para saber qual o melhor destino e escola para o meu cliente. Ao contrário das agências tradicionais, eu não cobro taxas, o que ajuda a ter um público maior. É dedicação total e praticamente eu trabalho de segunda a segunda”, fala Rosane. Outra dica apontada pelos empreendedores brasileiros no Canadá é a necessidade de um planejamento antes e depois de chegar ao país. “Planeje e estude bastante antes de imigrar. Converse com empreendedores do local onde você pensa em ir. Economize e venha com uma reserva de capital, na medida do possível. Arrume um emprego para ter uma renda paralela até que o seu negócio consiga gerar lucro e sustentar o seu estilo de vida. Pensamento positivo, mas sempre preparado para o pior; imprevistos acontecem”, adverte Bruno Fernandes.

Em Toronto, na província de Ontário, é possível beber a cerveja artesanal carioca OverHop. A cervejaria foi criada em 2016, no Rio de Janeiro.

Após a marca ganhar duas medalhas de ouro no Mondial de La Bière RJ, em 2016, somente três meses após a abertura, a empresária Paty Rio junto com o marido Ricardo Rios foram convidados a participar da versão canadense do festival. “Foi um sucesso e decidimos vender o que tínhamos no Brasil e investir na filial no Canadá. Nós investimos inicialmente de 120 dólares canadenses, em torno de 330 mil reais, na época”, revela Rios.

Para estimular a abertura de novos negócios internacionais de brasileiros, o Ministério das Relações Exteriores criou guias sobre empreendedorismo. “O guia Como Empreender no Quebec pode ser baixado gratuitamente e é essencial para quem quer abrir um negócio no Canadá. É importante conhecer a legislação, as formas de financiamentos e cursos de capacitação que são oferecidos ao brasileiro imigrante”, explica Ananda Guarany, empreendedora de São Paulo e presidente do Conselho de Cidadania de Montreal.

Entre as muitas opções oferecidas pelo governo canadense e províncias, os programas federais Express Entry, para trabalhadores qualificados, o Self-Employed Persons Program (aberto para autônomos como escritores, pintores e artistas em geral) e o Startup Visa (para quem quer começar um negócio) são os mais usados pelos brasileiros. Ananda Guarany, que há quatro anos comanda a Montreal Bonjour Hi, uma agência de intercâmbio com foco em artes, alerta sobre a necessidade da pessoa conhecer bem o setor e os hábitos locais como a pontualidade e o respeito às regras.

“Concordo com a Ananda. Não podemos esquecer a pontualidade britânica e que a rainha do Canadá é a rainha da Inglaterra. Desconhecer a história pode ser fatal para qualquer empreendedor estrangeiro”, menciona Rosane Rodrigues.

Um dos programas provinciais mais procurados é o da província do Quebec, onde fica a bela cidade de Montreal. A consultora Mariana Chaga afirma que para empreender em Quebec, a opção pode ser abrir o próprio negócio ou comprar uma empresa que já exista e a pessoa deve administrá-la full time. A comprovação do patrimônio líquido é feita por meio do fornecimento das declarações de imposto de renda anuais de pessoa física e/ou jurídica e outros documentos exigidos dependendo de cada caso.

Já o programa para autônomos é ideal para a pessoa que não possui um patrimônio elevado. “O programa para autônomos exige que o candidato tenha a intenção de criar seu próprio emprego em Quebec, que vai ser comprovado pela qualidade do plano de negócios e pela experiência profissional anterior. Esse programa não exige investimento no negócio, apenas comprovação de fundos financeiros mínimos para se instalar no Quebec e começar seu próprio negócio”, acrescenta Mariana.

Para quem quer ir para o Canadá, as mudanças previstas para setembro deste ano podem abrir um novo leque de opções. “A primeira e mais relevante mudança o mínimo necessário de dinheiro para o investimento na compra/criação do negócio que foi fixado em CAD$ 200,000 e, além disso, também um depósito de garantia de CAD 200,000 junto ao governo do Quebec. Esse depósito fica vinculado ao cumprimento das condições do programa (participação diária no gerenciamento do negócio, manter o negócio ativo, empregar residentes permanentes ou cidadão canadense) durante os primeiros dois ou três anos.

O governo do Quebec mantém o direito de confiscar o depósito se as condições do programa não forem cumpridas. A vantagem desse programa seria para candidatos que estão procurando expandir seu negócio para outro mercado. Esse programa proporciona essa oportunidade, além de oferecer o status de residente permanente para o candidato e a sua família. Outra vantagem de se imigrar como empreendedor se dá quando o candidato não se encaixa em nenhum outro programa de imigração, por não ter experiência como trabalhador qualificado, mas sim como empreendedor no seu país de origem. O candidato pode usar essa expertise para se lançar no mercado canadense”, finaliza Mariana Chagas.

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