Empregos para Obama

O momento favorável da economia nacional, prestes a ser reconhecida como a sétima maior, o seu aquecido mercado consumidor, no qual se incluíram 30 milhões de pessoas nos últimos oito anos, e as promissoras perspectivas de investimentos em energia e infraestrutura são os grandes focos da visita ao Brasil do presidente norte-americano, Barack Obama. Não há dúvida de que, para ele, a ampliação do intercâmbio com o nosso país é uma ação importante da cruzada para acelerar o ritmo da recuperação dos Estados Unidos, ainda combalidos no cenário pós-crise e com taxa de desemprego de 9%.

Os números corroboram essa percepção, pois o atual saldo do comércio bilateral é favorável ao Tio Sam em US$ 8 bilhões. Em 2010, segundo o nosso Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, exportamos US$ 19 bilhões e importamos US$ 27 bilhões. Dados oficiais de Washington revelam que as vendas ao nosso país dobraram no último quinquênio, tornando o nosso mercado o oitavo maior para os norte-americanos. Somente no ano passado, o crescimento foi de 35%. O aspecto mais insólito, porém, é que as exportações para o Brasil são diretamente responsáveis pela manutenção de 250 mil empregos nos Estados Unidos.

As estatísticas mostram que precisamos agir com inteligência e estratégia na nova etapa das relações com os norte-americanos, aproveitando nossos diferenciais para reequilibrar a balança comercial e ampliar o volume de investimentos produtivos. A conjuntura é altamente favorável ao Brasil nas negociações de antigas divergências, principalmente quanto aos subsídios aos produtores agrícolas norte-americanos e às tarifas, barreiras não-tarifárias e cotas impostas ao ingresso de nossos produtos. 

O exemplo mais enfático desses problemas é o subsídio ao etanol, somado à tarifa de importação de 54 centavos de dólar por galão (3,78 litros). Os Estados Unidos preferem continuar produzindo cerca de 20 bilhões de litros anuais de álcool combustível a partir do milho, reduzindo a oferta e encarecendo o preço desse alimento, ao invés de facilitar a compra do produto brasileiro. Para processar praticamente o mesmo volume, a partir do cultivo da cana-de-açúcar, nosso país utiliza apenas 1,5% do total de suas áreas agricultáveis.

Contudo, o potencial relativo à produção de energia limpa e renovável, bem como de alimentos e commodities, não é o único trunfo brasileiro. Temos, ainda, a maior reserva hídrica do mundo, o petróleo na camada do pré-sal, um mercado consumidor no qual 52% das pessoas são de classe média, indústria bem estruturada e capaz de atender ao crescimento da demanda e imensas oportunidades de investimentos em infraestrutura, inclusive devido à Copa do Mundo de 2014 e à Olimpíada de 2016.
Como se não bastasse, também contamos com o cacife de não termos exercido o direito, outorgado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), de retaliar os Estados Unidos em US$ 829 milhões, por conta dos subsídios concedidos aos produtores de algodão. Nosso governo preferiu, em 2010, o caminho da negociação, e este deve mesmo balizar o tom do diálogo e do novo processo de interação com os norte-americanos, facilitados pelas posições menos conflituosas da presidente Dilma Rousseff no tocante a questões da política externa da Casa Branca, como a do Irã.

Por outro lado, em paralelo aos entendimentos com os norte-americanos e outras nações, o Brasil precisa adotar medidas urgentes para resgatar a competitividade de sua indústria. O setor, cuja balança comercial registrou déficit recorde em 2010, superior a US$ 70 bilhões, está premido pela soma do câmbio sobrevalorizado com os altos juros, impostos exagerados, encargos trabalhistas onerosos e excesso de burocracia. Se não removermos tais gargalos, criaremos cada vez mais empregos em outros países, como os 250 mil que já sustentamos na pátria de Barack Obama.

João Francisco Salomão é o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre — FIEAC (salomao@fieac.org.br).

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