“Fui e sempre serei um empreendedor”

Com as mãos em cruz, sentado numa cadeira no improvisado camarim do Centro Sul, em Florianópolis, na noite fria do sábado, o empreendedor Eike Batista, que já foi o homem mais rico do Brasil e sonhava em ser o mais rico do mundo, esperava um sinal às 20 horas e 40 minutos para subir ao grande palco do evento de inovação e tecnologia Empreende Brasil 2019, que reuniu durante todo o dia cerca de 3 mil pessoas, na maioria jovens, de todo o país. Essa foi a sua primeira aparição em público e a primeira palestra que fez após o terremoto que se estende pelos últimos quatro anos que atingiu em cheio ele e todas as suas empresas.

No palco do evento, sem entrar nos seus processos pessoais, falou das suas empresas e quis claramente passar uma mensagem de otimismo para os jovens, para que acreditem no potencial do Brasil, especialmente nos próximos anos. “O Brasil é o melhor país para empreender porque estará entre os maiores produtores de petróleo do mundo, tem mineração e todos produtos agrícolas”.

Nos bastidores, para os poucos jornalistas que o procuraram, fez algumas revelações, planos, explicações, autocrítica, sem deixar de cutucar a imprensa que, segundo ele, nem sempre reportam a verdade e que nem sempre reconhecem o seu trabalho. Ele garantiu que vai retomar todas suas empresas e pretende criar pelos menos 10 unicórnios (empresa que alcança um valor de mercado de US$ 1 bilhão). “Fui e sempre serei empreendedor”, sustentou.

As Luzes

Pela manhã, no Empreenda Brasil todas as luzes estavam acessas no foguete chamado Anita, que sobe sem parar, numa trajetória que começou no subúrbio do Rio de Janeiro e hoje tem rotas pelo Brasil inteiro, nos Estados Unidos, Europa e diferentes países da América Latina. Ela contou toda a sua trajetória e deixou bem à mostra a sua forte veia empreendedora que faz dela hoje uma das maiores estrelas do mudo musical. Já o foguete de Eike Batista, com pouca luz aparente no momento, depois de subir muito, ficou à mostra bem chamuscado, com sérias e visíveis variações. Afinal tem uma condenação de 30 anos (responde em liberdade), por corrupção e lavagem de dinheiro. Chegou a ser preso no ano passado por ordem do juiz federal Marcelo Bretas.

A sua derrocada começou em 2012, quando sua empresa de petróleo, a OGX (todas suas empresas ostentavam um X) teve que admitir aos investidores que sua produção era aquém do esperado. Então, as ações de suas empresas negociadas na bolsa de valores começaram a cair de forma vertiginosa. A sua fortuna avaliada naquele ano em US$ 34 bilhões chegou a ficar negativa em 2015 em mais de US$1 bilhão, segundo avaliação do próprio Eike Batista. No momento, a previsão é que tenha já recuperado um pouco e alcança no momento US$ 3 bilhões.

A Volta

“I”m back (estou de volta em inglês) dizia um vídeo que mostrou na sua apresentação no Empreende Brasil. Já no mês passado, apareceu na Internet como um youtuber, com um canal no Youtube e presença no Instagran. Ali promete falar a cada semana, em especial para os jovens, e abordar, em vídeo, “temas extraordinários que estão acontecendo no Brasil de hoje”.

Sobre como pretende criar 10 unicórnios, não deu muitas pistas. Adiantou que serão novas empresas ligadas à mineração e à tecnologia, atividades empresariais que ele tem conhecimento e experiência. Eu tenho tudo. Sei identificar oportunidades únicas. Atrair capital sempre foi fácil para mim. Monto diferentes unicórnios quando eu quiser”, garante.

Um desses unicórnios, deixou transparecer, já está em gestação. Será uma empresa que vai produzir uma pasta que regenera o esmalte do dente, um produto derivado da nanotecnologia da hidroxiapatita (tipo de fosfato de cálcio). Essa pasta até já tem nome: Elysium.

Autocrítica

O único erro que Eike Batista admite e reconhece, que atingiu ele e suas empresas, foi a escolha de executivos. Mesmo assim considera que por esse erro ele não pode ser apontado como o único culpado. “Muitas pessoas participavam dessas decisões. Eu nunca tive bola de cristal, nem a minha auditoria. Escolhemos pessoas que não souberam gerir e não foram honestas”.

Mesmo assim, segundo ele, deixou todas empresas de pé, nenhuma faliu. “Botei meu patrimônio dentro das empresas para que não acontecesse o que aconteceu com as empreiteiras (caso Odebrecht, por exemplo) que demitiram milhares de trabalhadores. Eu preferi acertar tudo e continuar meus projetos”.

Sobre corrupção, lavagem de dinheiro e envolvimento de político, para ele, foram distorções da imprensa. Cita, como exemplo, uma foto dele ao lado do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. “Ora eu sempre fui um homem de negócios e tinha que me encontrar, conversar, com diferentes governadores, diferentes políticos.Tirei fotos com mais de uma dezena de governadores”.

Reconheceu que emprestou mais de uma vez o seu próprio avião ao governador Sérgio Cabral. E pergunta: qual o problema disso? “O avião estava parado. Ele me pediu e eu emprestei. Todos os negócios com o estado foram transparente, dentro de análises técnicas, com passagem por diferentes comissões”.

Eike Batista fica exaltado, se apressa em explicar, quando é questionado que recebeu dinheiro do governo, que tinha esquema com o PT. “Nunca fui político, sou apolítico, mas sei da importância da política. Peguei dinheiro do BNDES, mas dei garantias das minhas empresas e bens pessoais. E fiz mais: dei garantias de três bancos privados. Nenhuma empresa fez o que eu fiz e paguei, liquidei tudo com o BNDES.

A Benção

Eike Batista sustenta que deixa um legado de desenvolvimento econômico para o Brasil. Segundo ele, já conseguiu trazer para o Brasil US$ 50 bilhões que foram investidos em projetos de infraestrutura (portos, logística, óleo e gás). “O Brasil tem tudo para crescer muito nos próximos anos e vai receber numa quantidade ainda maior de investimentos estrangeiros. Por isso estou de volta, animado com a retomada das minhas empresas”.Além da animação, fé também não falta para o empreendedor Eike Batista. O pastor Daniel Silva, da Assembleia de Deus, de Rocha Miranda, subúrbio do Rio de Janeiro, diz e mostra seguidas fotos ao lado do empresário no seu templo. “Jesus ouviu você, Eike. O Diabo perdeu”, teria dito o pastor ao empresário, com as mãos em cruz.

 

EIKE BATISTA

Idade: 62 anos

Cidade natal: Rio de Janeiro

Formação: estudou engenharia metalúrgica na Universidade de Aachen, na Alemanha, mas não completou

Empresas: sete empresas ligadas a óleo, gás, energia e logística

 

DA ERA X AO GRUPO ATUAL

Veja a participação do momento de Eike Batista nas diferentes empresas que mantém em atividades

Ogpar (ex-OGX):  óleo e gás

Eike Batista: 1%

OSX: indústria naval

Eike Batista: 49% (maior acionista)

Eneva (ex MPX): energia, óleo e gás

Eike Batista: menos de 1%

MMX: mineração

Eike Batista: 57,4%

Prumo (ex LLX): logística portuária

Eike Batista: 0,19%

CCX: mineração de carvão na Colômbia

Eike Batista: 56,22%

CNT Clean Word Tecnologies: novos negócios

Criada em 2014. Dentro dessa empresa possivelmente serão criados

os 10 novos unicórnios

 

 

 

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