Informação ou mudança de comportamento

09|03|2012

Ter informações não quer dizer necessariamente entendê-las. Ler o prospecto de um fundo de investimento, por exemplo, não significa que o investidor saiba realmente onde está colocando seu dinheiro. Quer ver como isso é verdade?

Muitos investidores, quando optam por investir em um fundo via banco, não têm ideia se o valor pago em taxa de administração, por exemplo, é caro ou barato. Pagar 3% de taxa de administração em um fundo de ações ou um fundo multimercado, com gestão ativa, pode ser barato. Já pagar 1% desta mesma taxa em um fundo de renda fixa, cuja carteira é composta por 60% por títulos públicos e os outros 40% em títulos do próprio banco é muito caro, pois não exige gestão nenhuma do banco.

Estes são apenas dois exemplos fictícios que, na minha opinião, ilustram muito bem o custo de uma aplicação financeira e que mostram a diferença entre ter informação e saber usá-la. Saber que um fundo cobra 3% de taxa de administração é fácil, mas se isso é bom ou ruim, é outra história.

Ao optar por um fundo de investimento, outras questões devem ser avaliadas, como risco do fundo escolhido e histórico de rentabilidade. Mas será que, ao ler que determinado fundo aplica 30% em ações e 70% em renda fixa, o investidor saberá identificar quais os riscos deste investimento? Ou se esta é a melhor opção para seu perfil?

Para que o poupador consiga digerir tudo isso e avaliar o que é melhor para ele, entra a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em campo, com instruções que visam deixar tudo mais transparente.

Neste ponto, faço uma associação com a questão atual das sacolinhas plásticas utilizadas em supermercados. Como não há mudança comportamental, o assunto vira lei. No caso dos fundos de investimentos, como não há consciência do próprio dono do dinheiro para avaliar o que é melhor para ele mesmo, a CVM editou normas que obrigarão às instituições a darem informações mais detalhadas e de fácil entendimento a todos sobre os fundos de investimento.

Quero deixar bem claro que não sou contra regras e leis e que, se for para ajudar, tanto melhor que se façam leis. Porém, ressalto que essa transparência de informações que será exigida de nada adiantará se o investidor não ler e entender o estatuto do fundo de investimento. De nada adiantará se o poupador continuar apenas se dirigindo ao gerente do banco para perguntar o que é melhor.

Já há muito tempo os prospectos de fundos de investimentos levam para os interessados a seguinte frase: “rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura”. No entanto, se fizermos uma pesquisa com investidores de fundos e perguntarmos o que isso significa na prática, acredito que poucos saberão explicar. E mais, muitos dirão que antes de optar por esse ou aquele investimento olharam somente a rentabilidade dos últimos meses ou ano, ou seja, a rentabilidade passada.

Por isso, mais do que qualquer norma ou lei, é fundamental que o investidor saiba o que deve ser levado em consideração ao escolher uma aplicação e o que as informações representam para o custo e o retorno do investimento e para o perfil do investidor. E isso, somente a mudança de comportamento do próprio investidor pode resolver.

Mauro Calil é palestrante, educador financeiro, gerente geral do INI e autor do livro “A Receita do Bolo” – www.calilecalil.com.br

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