Movido a porco

Uma das mais tradicionais empresas fabricantes de eletrodomésticos do País, a Mueller, trabalha para evitar a degradação ambiental e ainda gerar lucro para a empresa. Em um projeto inusitado, a Mueller é a primeira do seu segmento, no País, a adaptar fogões para uso doméstico utilizando o biogás como fonte de energia. Mas, em um primeiro momento, a empresa não pretende comercializar o fogão. Por enquanto, somente 33 famílias da cooperativa dos produtores Cooperbiogás (Cooperativa de Produtores de Agroenergia do Paraná), localizada no Condomínio Ajuricaba, em Marechal Cândido Rondon (PR), vão utilizar os fogões, doados pela Mueller. A parceria firmada entre a Mueller e a Itaipu Binacional, por meio do Centro Internacional de Energias Renováveis, busca desenvolver produtos que funcionem com energias alternativas, contribuindo com a sustentabilidade ambiental e demonstrando que a indústria também faz a sua parte.

Para realizar o projeto, a Cooperbiogás providenciou a canalização do biogás até as casas e a Mueller adaptou um modelo de sua linha de produção para funcionar com o combustível alternativo. A Mueller fez alguns ajustes no sistema de combustão e em outros componentes do fogão com o objetivo de produzir chamas contínuas e regulares, possibilitando o uso doméstico de forma segura. Segundo a empresa, a potência da chama, a cor e o cheiro são iguais aos do fogão convencional, com a vantagem de não precisar mais trocar e abastecer o botijão, ajudando na preservação ambiental – já que o biogás emite menor quantidade do gás metano e sua geração aproveita dejetos de animais, que deixam de ser dispensados no meio ambiente.

O diretor industrial da Mueller, Robson Azevedo, conta que a empresa, junto com as parceiras do projeto, perceberam a possibilidade de beneficiar os produtores com o uso dessa energia alternativa como combustível nos fogões. O biogás, resultante do processo de tratamento dos dejetos suínos, já vinha sendo usado de outras formas na cooperativa e a Mueller garantiu mais um uso para esse combustível. “A adaptação dos fogões para uso do biogás permitirá que os produtores deixem de usar o GLP. Em vez de comprar botijões do tradicional ‘gás de cozinha’, eles vão usar o gás gerado pelo tratamento dos dejetos da suinocultura. Assim vão economizar e dar uma destinação mais ‘nobre’ ao gás”, afirma Azevedo.

A propriedade de Isolde Regelmeier foi a primeira a receber a inovação, que foi avaliada positivamente. “Para mim é melhor que o fogão convencional que eu tinha antes. O fogo está bom e não deixa mais as panelas pretas. Está bem mais prático para nós agora”, elogia. A transformação que o projeto provocou pode ser percebida também no dia a dia do produtor Pedro Regelmeier, que utiliza o esterco para transformá-lo em biogás e em biofertilizante, uma de suas fontes de renda. “A cada dia a gente tem mais melhorias e agora o fogão é mais uma delas.” O produtor já sonha com outros avanços. “Imagino que seria muito bom se tivesse como usar o biogás no chuveiro, um dos maiores ladrões de energia elétrica. Isso diminuiria ainda mais o nosso consumo”, completa.

Outra beneficiada com o fogão foi a produtora Maide Pinz, que agora consegue conciliar os trabalhos domésticos com os do campo. “Ficou muito mais prático. Colocamos o fogão aqui perto da estrebaria onde ficamos o dia todo. Aí posso deixar o feijão cozinhando enquanto fazemos outros trabalhos. Também ajuda a esquentar a água para poder lavar os equipamentos, principalmente agora no frio”, conta.
Segundo o diretor industrial da Mueller, a produção industrial que respeita o meio ambiente é um caminho sem volta e a pesquisa de produtos que utilizam novos combustíveis cresce em importância a cada dia. Ele destaca que a Mueller mantém uma rígida política de preservação e proteção ambiental, e o projeto do fogão a biogás ajudou a consolidar na equipe a filosofia da pesquisa de produtos mais sustentáveis. Azevedo complementa ainda que o projeto demonstrou que é possível encontrar soluções que respeitem o meio ambiente e gerem ganhos econômicos para a comunidade.

Filosofia verde

A pesquisa de produtos “verdes” se consolida como uma tendência em toda a indústria. E de acordo com Azevedo, a Mueller já desenvolve eletrodomésticos com grande eficiência energética e sabe que as pesquisas são essenciais para seguir avançando. “A venda dos produtos a biogás, porém, depende da produção em escala industrial e da adequação das normas que regulam o mercado, que incluem ações como a regulamentação das características básicas do produto pelo Inmetro”, explica.

“Todos os fogões da Mueller têm classificação energética A segundo os padrões do Inmetro, na mesa e no forno, e os fornos elétricos consomem menos energia que os disponíveis no mercado”, garante Azevedo. Esse foco da empresa se fortaleceu a partir de 2009 com a implantação da ISO 14001, em que todo o processo produtivo foi repensado com o objetivo de reduzir, reciclar e reutilizar os recursos naturais. Ele enfatiza que a empresa quer oferecer cada vez mais alternativas para os consumidores levarem a questão da preservação ambiental para casa. “Cuidar do meio ambiente já faz parte do nosso dia a dia, e oferecer alternativas para os nossos clientes é nossa responsabilidade”, declara.

Alguns fatores levaram a empresa a adotar essa postura. Azevedo explica que a Mueller tem suas raízes fixadas há mais de seis décadas no município de Timbó (SC) e a empresa participa da vida da comunidade – a maior parte de seus colaboradores nasceu na região. Portanto, existe uma preocupação de proteger o local, onde vivem e viverão filhos e netos. “É a proteção local que acaba refletindo na preservação global. Essa preocupação teve papel importante na adoção de práticas cada vez mais sustentáveis por toda a empresa”, destaca. Em paralelo, a Mueller percebeu que a preocupação com o meio ambiente pode ser positiva para a marca da empresa. O consumidor também está preocupado com o futuro do planeta, e o melhor de tudo é que os investimentos realizados na produção de itens mais “verdes” vêm tornando os produtos mais eficientes, o que gera benefícios para o consumidor, como a economia de gás e energia elétrica. Além disso, a maior conscientização ambiental resultou em redução de custos e em melhorias nos processos industriais da empresa.

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