Por que as pessoas não fazem o que precisa ser feito?

Todo líder, vez ou outra, se pergunta: por que as pessoas não fazem o que precisa ser feito? É comum a frustração diante das coisas que não saem conforme o combinado. Também dos subentendidos. E dos vieses entre o que foi planejado e o executado. O fato é que não são poucas as vezes que, até com certo enfado, o líder repete a mesma e renitente indagação para si mesmo: afinal, por que as pessoas não fazem o que precisa ser feito?

Elas não podem
“As pessoas não fazem o que precisa ser feito porque não conseguem” – esta é uma conclusão muito comum. “O que lhes falta é competência!”
Destaca-se a falta de conhecimento ou de habilidade, de domínio de alguma técnica ou expertise quanto a certa aptidão. Não é, porém, uma explicação muito aceitável, pois as pessoas são competentes por natureza, dotadas de múltiplas inteligências e capacidade de aprendizado.

A questão é que poucos líderes conhecem o conjunto de competências dos seus colaboradores. Obstinados por resultados, eles se esquecem de prestar atenção ao que produz, de fato, resultados. Com isso, perdem a grande chance de identificar o repertório de conhecimentos e habilidades de cada pessoa, e ainda mais os talentos e dons submersos, aguardando apenas uma oportunidade para se revelar.
Embora a ignorância em si seja uma boa explicação para o fato das pessoas não fazerem o que tem de ser feito, essa ainda não é a melhor resposta. Existem muitas competências disponíveis e tantas outras ainda potenciais. Então, o que explica o fato das pessoas não fazerem o que precisa ser feito?

Elas não se comunicam
Comunicação costuma ser uma resposta com muitas adesões. Faça o teste. Pergunte à sua equipe qual é o problema número um da sua empresa e eles responderão sem titubear, de bate pronto: comunicação!
É bem verdade que a falta de comunicação é muito comum, da mesma forma que muitos chefes costumam ter apenas duas conversas com seus subordinados: quando os admitem e quando os demitem. Nenhuma outra entre esses dois eventos. No primeiro, juras de amor de sonhos futuros; no segundo, frustração e ressentimentos. Nesses casos, comunicação é uma boa resposta à ardilosa pergunta. Conversa-se pouco nas empresas e, quando se conversa, são mais reações do que reflexões. Mas se você é um líder que se reúne habitualmente com a sua equipe, esclarece os objetivos, discute as metas, avalia os resultados, então é bem possível que não esteja aceitando de bom grado essa justificativa simplória.
Então, será que a comunicação merece mesmo estar em primeiro lugar como real motivo para que as pessoas não façam o que precisa ser feito?

Elas não percebem
Não existe realidade objetiva, ou seja, algo absolutamente semelhante para todos. Cada um de nós vê o mundo à sua maneira. Até aí nenhuma novidade. O problema é que as pessoas não reagem à realidade, mas à sua imagem de realidade.
Assim, agem e reagem de acordo com suas criações do que consideram ser realidade. Elas se comportam, portanto, de acordo com essas imagens, que podem ser de boa qualidade (quando se aproximam da realidade) ou de má qualidade (quando se distanciam da realidade).

Por que, então, as pessoas têm percepções diferentes da mesma realidade? Porque o cristal do olho de cada uma muda em função de seu conjunto de crenças e valores. É esse conjunto de crenças e valores que está por trás das diferentes percepções individuais. É desse conjunto de crenças e valores que cada pessoa herdará a sua lente, através da qual fará uma leitura particular do mundo, para o bem ou para o mal.

Portanto, o desafio do ser humano é melhorar a qualidade de sua própria percepção. Para isso, terá que fazer mudanças em seu conjunto de crenças e valores. A esse fenômeno transformador dá-se o nome de ‘metanoia’. Somente por meio da ‘metanoia’ uma pessoa conseguirá mudanças consistentes em sua percepção, ou seja, em sua forma de olhar a realidade e, em decorrência disso, em seus comportamentos. É o único jeito de garantir a ocorrência de mudanças consistentes. Esse é, portanto, o maior desafio de um líder: moldar seu próprio conjunto de crenças e valores, bem como criar condições para que o mesmo aconteça com sua equipe.

O líder é um gestor de percepções

Por não compreender isso, muitos líderes atuam apenas sobre o comportamento das pessoas. Ora punindo, quando elas agem de maneira que ele julga inadequada, ora recompensando, quando ocorre o desejado. Com isso, os líderes se limitam a dois meios: a recompensa e a punição. Adestradas assim, as pessoas respondem de maneira igualmente limitada aos desafios, restringindo suas capacidades de gerar resultados.

É certo que ao líder cabe gerenciar recursos, empreender negócios e assegurar resultados. Todas essas funções serão mais bem-sucedidas se ele compreender seu maior desafio: ser um gestor de percepções. De si mesmo e dos outros. Isso implica que não vai recorrer às recompensas e às punições, método tradicional para induzir as pessoas a fazer o que se espera delas. Antes, como um bom líder educador, atuará no conjunto de crenças e valores de cada pessoa. É aí que ocorre a verdadeira mudança.

Na verdade, as pessoas se comprometem com aquilo em que acreditam e dão valor, não com algo que não compreendem nem tem significado para elas. Comprometimento é a energia psíquica e emocional capaz de motivá-las a fazer o que precisa ser feito. Uma vez comprometidas, elas abrem seus ouvidos àquilo que está sendo comunicado. Uma vez comprometidas, buscam aprender aquilo que é necessário para se tornarem ainda mais competentes.

Por isso, antes de se ressentir porque seus colaboradores não fazem o que precisa ser feito, assuma seu principal desafio como líder: ser um gestor de percepções. Com uma nova e aberta mentalidade. Fruto da metanoia.

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