Riqueza básica ou superior – qual é a sua?

Estamos, aqui e agora, juntos. Eu com meus pensamentos, ideias e palavras. Você com sua curiosidade, expectativas e busca de conhecimentos. Diante desse mesmo texto, temos algo em comum: somos pessoas de negócios. Vivemos no mundo dos negócios: oferecemos e solicitamos, compramos e vendemos, ganhamos e perdemos.

Negócios são meios através dos quais produzimos riquezas. No fundo, queremos a mesma coisa, ou seja, gerar riquezas. Gostamos de gerar riquezas e, igualmente, de usufruir delas. Isso faz com que, ao menos à primeira vista, nos identifiquemos. Será mesmo? Vamos aprofundar um pouco mais essa ideia inicial, para ver se – com certeza – fazemos parte de uma mesma tribo de empreendedores, dirigentes ou líderes de empresa.

O mundo na pressa

Aqui começa uma distinção: há quem leve a vida na pressa, há quem dê a ela um sentido de urgência. Parecem inclinações muito parecidas, senão iguais. Mas, de fato, são muito diferentes. Vou dar algumas dicas para que você possa se classificar: diante de um elevador lento, você insiste em apertar o botão que lhe dá o comando, mesmo quando a luz indica que isso já foi feito? Você não levanta de sua poltrona até a parada total da aeronave, esperando apagar os sinais luminosos de apertar os cintos? Se, ao contrário, logo se põe em pé, na ânsia de sair primeiro de um espaço ainda totalmente fechado, sob o risco de se machucar ou a outra pessoa, vale se questionar: afinal, que pressa é essa?

Senso de urgência muitas vezes é necessário, para que não fiquemos na letargia, na parálise. Já a pressa nos tira do centro, embaça a vista, embriaga os sentidos, embota a mente. Deixamos de ver e ouvir as coisas como elas verdadeiramente são. Nossas decisões se tornam enviesadas, levando a ações equivocadas. Carl Jung dizia que a pressa não é coisa do diabo. Ela é o diabo!

Sim, ambos buscamos a riqueza. Alguns no piloto automático, agindo e reagindo, sem pensar muito no que fazem. Outros colocam a reflexão antes da ação e da reação. É claro que as riquezas geradas em cada uma das situações serão de qualidades diferentes.

O mundo no medo

Queremos riquezas, mas nem sempre pelas mesmas razões e motivos. Muitas pessoas são reféns de um modo de funcionar ditado pela forma de pensar prevalente na sociedade. A partir de pontos de vista muito definidos e oriundos de generalizações. O medo é um deles, talvez o principal. E o medo nos é infligido o tempo todo. Fazemos do viver algo ameaçador – basta acompanhar apenas um dos noticiários da televisão. Com o temor, que se espalha como uma doença maligna, nos preservamos e nos resguardamos.

Quando pensamos no medo, o impulso é de nos defender, partindo para a agressão impensada e reativa (na ânsia de ganhar tempo). Ou a reação é de recuar e nos recolher. De duas, uma: vamos à luta ou nos encolhemos como um caracol. Ficamos desatentos, pouco ligando para os outros e para o mundo ao nosso redor. Pensamos em defender a nossa pele, presos ao próprio umbigo. Ou então nos desalinhamos, agindo de um jeito que não tem nada a ver com o que verdadeiramente somos. Nossos gestos e palavras diferem de nossas crenças e valores. Ou, talvez pior ainda, perdemos completamente a esperança, desanimamos, desistimos, “jogamos a toalha”.

O mundo do medo é um mundo de escassez. Nele não há lugar para todos. É um mundo precário, feito de vencedores e perdedores. Curiosamente, é na ânsia de fazer parte do mundo dos vencedores que caímos na cilada de fazer uso dos comportamentos sabotadores, os quais, ao invés de alcançar a riqueza almejada, produzem exatamente o efeito contrário. O feitiço vira contra o feiticeiro e acabamos por nos confinar ao rol dos perdedores.

Nem tudo o que reluz é ouro

Nem toda riqueza é riqueza de verdade. É por isso que vivemos em um mundo feito de pobres de verdade e ricos de mentira. Poucos são ricos de verdade. E, embora nos identifiquemos como pessoas de negócios que ambicionam riquezas, elas têm caráter diferente para cada um de nós.

Entenda por pobre de verdade aquela pessoa que luta e labuta diariamente apenas em busca do “leitinho das crianças”. Ela acredita que viver não passa de “matar um leão por dia”. E repete sempre a velha cantilena de que o “mar não está para peixe”. O mundo que é capaz de enxergar e no qual vive é esse, o da escassez.

Mas tem também o rico de mentira. Aquela pessoa que ficou refém da mera riqueza, ou seja, a que só contabiliza o econômico. Então, a seu ver tudo tem valor de uso e valor de troca. Relações só importam como contrapartida de algum ganho financeiro. Considera as pessoas meios, não fins. E embora tenha acumulado grandes somas em dinheiro, desperdiça a vida controlando seus montantes. Como quem, em vez de levar o relógio no punho, o mantivesse na palma bem fechada, com medo de perdê-lo, sem se dar conta de que, com isso, não pode usar a própria mão.

O universo da Metarriqueza

Metarriqueza é um conceito de riqueza superior, que vai além da mera riqueza econômica, embora a contemple também. Nesse conceito, a riqueza se alarga e abrange quatro dimensões.

A primeira delas é a econômica. Entenda por dimensão econômica a riqueza tangível e visível. Ficamos mais ricos quando somos capazes de produzir bens e serviços que agradam a o mercado. Quando fazemos isso com excelência, trocamos nossos produtos por dinheiro. Com isso, aumentamos o nosso patrimônio. É a riqueza na dimensão econômica. Mas não queremos apenas trocar produtos por dinheiro. Queremos o dinheiro que nos traga boas margens de lucro e queremos que os clientes sejam contumazes. Para isso, precisamos desenvolver outra dimensão da riqueza: a potencial.

A dimensão potencial é aquela que abriga as competências, seja na forma de conhecimentos e habilidades, seja na forma de comportamentos e atitudes, seja na forma de dons e talentos. A única fonte confiável de geração de riquezas hoje e no futuro é a potencial, ou seja, as competências que estão representadas nas pessoas que fazem o trabalho. Mas ela será pouco útil se não estiver alinhada com a dimensão causal.

A dimensão causal direciona os esforços, as inteligências e as atenções para algo ou alguém. É ela que oferece um propósito e um significado ao trabalho e à riqueza. A princípio, o cliente é uma boa resposta. Mas que cliente? De quem estamos falando? A dimensão causal faz com que as atenções estejam em alguém além dos próprios interesses. Mas para que essa abordagem mais altruísta aconteça nos negócios, tudo começa na dimensão filosófica.

Entenda por dimensão filosófica aquela que declara as reais razões, motivações e intenções implícitas ao desejo de gerar riquezas. A pergunta-chave é: quais as verdadeiras razões, motivações e intenções para o meu negócio, empresa ou trabalho? Estão mais voltadas para adquirir ou para contribuir? A seta voltada mais para si ou para os outros? A resposta para essa pergunta define o sentido de todas as outras dimensões da riqueza, bem como a qualidade delas.

Ambos ambicionamos a riqueza. Inventamos negócios, produtos e serviços para produzi-la. Mas podemos viver e contar histórias muito diferentes. São elas que, no futuro, nos darão sentimentos de orgulho ou de vergonha, dependendo do caminho que escolhermos. Podemos nos contentar com a mera riqueza, aquela que abrange apenas a dimensão econômica acumulada a qualquer custo. Mas podemos ir além, buscar uma riqueza superior e tornar o mundo dos negócios um meio de nos transformar enquanto transformamos o mundo! Para melhor, muito melhor! Isso sim é uma riqueza superior. E que, certamente, nos levará a um patamar de verdadeira excelência, como seres humanos.

Roberto Adami Tranjan é educador da Cempre – Conhecimento & Educação Empresarial. www.cempre.net

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