Sua empresa sofre invasão de estrangeiros? Não tenha medo deles

Campeão mundial na categoria peso-médio e dono da maior sequência de defesas vitoriosas de título do UFC, o brasileiro Anderson Silva costuma dizer que os gringos não lhe metem medo. Se sua empresa vive um momento de invasão estrangeira, faça como o lutador e não se acanhe. O número de imigrantes que vêm trabalhar em empresas brasileiras é cada vez maior, mas, segundo especialistas, não necessariamente eles estão aqui para roubar o seu lugar.

De acordo com o diretor da consultoria de recrutamento Fesa, Ricardo Amatto, as empresas trazem estrangeiros somente em casos de grande necessidade. A legislação trabalhista também joga a seu favor, estabelecendo restrições para a atuação de executivos de outros países.

Também é favorável o fato de que os estrangeiros não costumam ficar muito tempo no país, pois geram ao empregador um custo muito alto, devido ao pacote de benefícios que é oferecido a eles – como moradia, escola para os filhos, apoio para a família, entre outros. Mesmo superando tudo isso, não há garantia de que esse trabalhador se adaptará ao Brasil, devido às dificuldades com o idioma e com a cultura nacional. “É um risco e um custo alto trazer pessoas de fora”, diz Amatto.

As empresas precisam deles
Por lei, as empresas que contratam estrangeiros devem comprovar que os trabalhadores têm qualificação profissional (escolaridade e experiência) compatível com as atividades que eles terão de executar. Além disso, as empresas devem mostrar que não conseguiram encontrar mão de obra especializada no Brasil para o cargo. Caso contrário, o governo não autoriza que os estrangeiros trabalhem aqui.

Ainda assim, o prazo de trabalho do estrangeiro no Brasil tem data de validade. O Ministério do Trabalho estabelece que os estrangeiros devem permanecer no Brasil por, no máximo, quatro anos.
O último balanço do governo revelou que, entre janeiro e junho deste ano, 32.913 profissionais tiveram permissão para trabalhar no Brasil. Se você está achando um número alto, não se assuste: 29.065 autorizações foram temporárias, com duração máxima de 90 dias, e apenas 3.848 foram permanentes.

Por isso, quem chega, acrescenta o gerente da divisão de Finanças e Contabilidade da consultoria Robert Half, Caio de Mase, tem um ciclo de trabalho que deve ser cumprido. No final desse período, ele tem de voltar ao seu país ou assumir uma posição em outro lugar do mundo, seguindo assim as orientações da empresa.

Aprenda com eles
Se você esbarrar com algum desses profissionais pelos corredores da empresa, não “torça o nariz para eles”. Mase diz que os estrangeiros vêm para passar conhecimento e alinhar estratégicas com a matriz. “É dever do brasileiro sentar para aprender, não precisa ser desconfiado.”

A postura ideal, segundo os especialistas, é que o brasileiro se mostre interessado em aprender tudo que o “gringo” pode ensinar. Amatto explica que o estrangeiro já passou por situações econômicas e corporativas que o Brasil ainda desconhece. Algumas vezes eles saberão lidar melhor com determinados fatos.

Além disso, por esse profissional ser do país de origem da empresa, ele tem conhecimento mais preciso sobre a cultura da companhia, como ela negocia, como toma decisões. “Ele tem essa bagagem, e o brasileiro tem possibilidade de aprender com ele.”

Em geral, o profissional estrangeiro conseguiu uma oportunidade para trabalhar aqui por ter um conhecimento muito específico em algum setor. Se não tiver a intenção de ficar aqui, esse conhecimento terá de ser transmitido aos demais, já que a pessoa não poderá ficar no país pelo tempo que quiser. “A transferência de conhecimento é muito valiosa para o Brasil.”

Por fim, ao aprender tudo que pode com os estrangeiros, as chances do brasileiro de conseguir um crescimento na carreira são grandes, comenta Mase. Ele mesmo poderá ser o próximo a ocupar outros cargos e até mesmo trabalhar em outros países. Nesse caso, o feitiço vira contra o feiticeiro, e o estrangeiro passa ser o profissional brasileiro.

Por que eles vêm?
Entre os motivos que trazem os profissionais de outros países ao Brasil, o diretor da Fesa, Ricardo Amatto, ressalta a chegada de empresas estrangeiras ao mercado nacional e a expansão da companhia dentro do país, além da expectativa positiva em relação à economia brasileira nos próximos anos. “A perspectiva internacional está muito ruim. Quando o estrangeiro olha para Brasil, ele vê um cenário bom, de grandes eventos, como a Copa do Mundo e a Olimpíada, investimentos nos setores de infraestrutura e no pré-sal.”

Somado a isso, o país enfrenta um problema que interfere diretamente na competitividade das empresas: a falta de profissionais qualificados, ou seja, o apagão de talentos. Entre as áreas que sofrem com isso estão óleo e gás e contabilidade, segundo Mase.

No primeiro caso, os estrangeiros, por terem conhecimento em um mercado ainda novo no Brasil, estão vindo para cá para treinar uma equipe. Já no segundo caso, o profissional vem para converter o balanço financeiro das empresas, em caso de aquisição e fusão. “Apesar de as normas internacionais de contabilidade já terem sido adotadas pelas grandes empresas brasileiras, muitas vezes as demonstrações financeiras não são padronizadas.” Os estrangeiros também são chamados por saberem negociar perfeitamente em inglês, competência que falta a muitos brasileiros, sem excluir profissionais que atuam em cargos executivos.

Tipos de vistos
Para que os estrangeiros possam trabalhar no Brasil, o Ministério do Trabalho tem de autorizar. A autorização se dá por meio de vistos, que podem ser temporários ou permanentes.

Temporário: é a autorização para quem pretende vir em viagem de negócios, na condição de artista ou desportista, estudante, cientista, professor, técnico ou profissional de outra categoria, para trabalhar para empresas ou para o governo. O prazo máximo de permanência é de 90 dias.

Permanente: é a autorização concedida pelo Ministério das Relações Exteriores ao estrangeiro que pretenda se estabelecer definitivamente no Brasil. Tem validade de quatro anos.

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