Por César Costa, CEO da Semente Negócios*
Não importa o porte ou o segmento em que a empresa atua: inovação é crucial para qualquer negócio permanecer competitivo no mercado. Afinal, não se pode manter igual enquanto tudo ao seu redor se altera, principalmente em um cenário globalizado e tecnológico, no qual as mudanças acontecem muito rapidamente. É nesse ponto que a cultura de inovação entra, permitindo que esse desenvolvimento junto ao mercado seja contínuo e integrado à estrutura de qualquer negócio.
De forma sucinta, a cultura de inovação abrange práticas e valores dentro de organizações e que prezam pela criatividade, imaginação, geração de ideias e disseminação de conhecimento. É mais do que apenas adotar novas tecnologias ou implementar novos processos como muitas pessoas podem imaginar. Falo de uma mentalidade que encoraja a busca constante por novas ideias, soluções e abordagens para resolver problemas e impulsionar o crescimento e os resultados.
Em um ambiente regido pela cultura de inovação, as pessoas se sentem instigadas a colaborar e não encontram barreiras para tornar isso uma realidade, o que incrementa a vantagem competitiva das organizações.
Porém, mesmo com todo esse potencial de transformação, o cenário da inovação no Brasil ainda é pouco desenvolvido: apenas 24% das empresas possuem estratégias de inovação que geram resultados e 72% delas ainda não integram a inovação às suas culturas, de acordo com um levantamento da Innoway, plataforma de inteligência de dados voltada para a aceleração da cultura de inovação.
Além da coragem, o que falta para grandes organizações desenvolverem uma cultura de inovação?
É preciso atuar em várias frentes, de modo a garantir um ambiente de suporte interno que oriente o comportamento das pessoas. São alguns elementos que compõem uma cultura de inovação:
Metodologias ágeis, mas não só
A função central das Metodologias ágeis é reduzir as incertezas que são inerentes à inovação por meio de ciclos de desenvolvimento, teste e aprendizagem (“build-test-learn”). Bastante utilizadas por startups, as metodologias ágeis podem ser aplicadas para validar problemas, evitar o desperdício de recursos e criar soluções efetivas.
Mas não só as Metodologias ágeis são fundamentais aqui, mas uma mentalidade de agilidade, além do trabalho em equipe. Dessa forma, os times têm maior adaptabilidade, além de trazer fortemente a centralidade no cliente em todo o processo (discovery e delivery), o que chamo de “Dimensão da Adaptabilidade”.
Capacitação para a inovação
O conhecimento expande o olhar, desperta o pensamento crítico e abre um panorama vasto de possibilidades em relação à geração de ideias. Se as pessoas conhecem os aspectos técnicos da área em que atuam, refletem sobre temas de interesse coletivo e se familiarizam com as ferramentas utilizadas em processos criativos, elas se sentem mais aptas a colaborar e gerar resultados.
Pessoas com as competências e comportamentos alinhados à inovação, ou seja, tanto na parte técnica para conseguir criar um produto em si, além de competências importantes no discovery/descoberta (observação, questionamento, experimentação, networking, associação) dão contorno à capacitação de inovação, dentro do que chamo de “Dimensão de Pessoas”. A inovação é e sempre será sobre pessoas!
Além disso, ambientes físicos ou digitais que promovem a integração e a troca livre de ideias e experiências certamente auxiliam no processo criativo. É por isso que muitas empresas estão apostando no conceito de fígital – integração do físico e digital – para trazer ainda mais flexibilidade às práticas de inovação, por exemplo. Por outro lado, quando a atmosfera do lugar tem excesso de formalidade, as pessoas tendem a se comportar de forma mais mecânica e menos adeptas à liberdade de pensamento e expressão.
Infraestrutura, ou melhor dizendo, Recursos
Recursos são meios disponíveis para atender às necessidades, sejam elas naturais, o que pode englobar aspectos de infraestrutura. Chamo atenção para os recursos justamente porque para além da necessidade de estruturas físicas e sistemas necessários ao funcionamento de uma empresa, as pessoas precisam de tempo, dinheiro, habilidades e conhecimentos para conseguir inovar.
As pessoas devem ter acesso aos instrumentos, materiais e imateriais, que precisam para criar e testar propostas, caso contrário, encontrarão mais barreiras para materializar suas ideias. Além disso, é difícil imaginar inovação de impacto nos tempos atuais sem o suporte da tecnologia, seja para coleta de dados ou desenvolvimento de soluções.
Gestão horizontal
Um ponto crucial no meio corporativo. Empresas que possuem estruturas tradicionais costumam praticar uma gestão verticalizada, em que o poder de decisão se concentra apenas em pessoas que ocupam determinados cargos de alto nível hierárquico. Esse modelo desencoraja a inovação porque restringe a autonomia das pessoas e torna os processos de decisão morosos.
No modelo de gestão horizontalizado, mesmo que ainda existam cargos estabelecidos, as pessoas sabem que estão em um patamar equivalente no que se refere à inovação. Elas podem expressar os seus pontos de vista, sugerir ideias e, até certo ponto, tomar a decisão de testar novas soluções. Uma gestão horizontal só é possível em um ambiente com tolerância a erros que geram aprendizados – outro legado do estilo startups.
Adotar o modelo de Gestão horizontalizada é interessante no sentido de dar autonomia e responsabilidade para as pessoas, uma relação direta com o que chamo de “Dimensão da Liderança”.
Formulação de uma Tese
Por fim, há um último ponto fundamental para o estabelecimento de uma cultura de inovação que gera resultados. Está ligado à formulação de uma Tese bem definida para delimitar quais são os focos da organização em relação à inovação. Esta tese direciona as iniciativas da organização, identificando áreas prioritárias para o desenvolvimento de novas ideias, produtos ou processos. Ela serve como um guia estratégico para a tomada de decisões relacionadas à inovação, garantindo que os esforços estejam alinhados com os objetivos e valores fundamentais da organização. É o que chamo de “Dimensão Estratégica”.
É válido ressaltar que, para funcionar, uma cultura de inovação não pode ser passageira. Ao contrário, deve fazer parte da essência de um novo ecossistema, de modo que seja integrada naturalmente ao comportamento das pessoas e aos processos. Em empresas, isso significa que desde a liderança, a criação de ambientes de confiança, estímulo à criatividade e experimentação, reconhecimento até novas contratações, todas seguem os mesmos princípios. Vale dizer ainda que tudo não se limite a teoria, mas sim a criação de mecanismos e processos. Todas as pessoas da equipe devem saber como assumir uma postura inovadora, identificar problemas, questionar o status quo a fim de propor soluções disruptivas.
*César Costa é CEO na Semente Negócios, empresa que desenha soluções de inovação que valorizam a vida. Administrador e Mestre em Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade pela UFRGS. Estudou Management na Lund University, Strategic Management & International Business na University of La Verne, Disruptive Strategy na Harvard Business School. É certificado como Conselheiro de Inovação pela Inova Business School, em Coaching e Análise Comportamental pelo Instituto Brasileiro de Coaching e em ESG pela KPMG Business School. Já apoiou dezenas de startups em diferentes estágios de maturidade e desenvolveu projetos de inovação em diversas organizações de grande porte.