IA e democracia: analisando seu potencial impacto nos resultados das eleições dos EUA

Por Carine Roos, CEO e fundadora da Newa*

As últimas eleições americanas trouxeram à tona uma questão complexa: a influência dos algoritmos de inteligência artificial no processo democrático. Redes sociais, alimentadas por esses algoritmos para maximizar o tempo de engajamento dos usuários, acabaram por amplificar conteúdos polarizadores, distorcendo o debate público. Essas dinâmicas contribuíram para um ambiente em que a desinformação floresce e a percepção dos eleitores é afetada por informações que nem sempre refletem a realidade.

Os algoritmos de engajamento baseados em IA foram projetados para manter o usuário envolvido, recomendando conteúdos que capturam sua atenção. Para isso, priorizam conteúdos carregados de emoção, controvérsia e sensacionalismo — atributos que geram interações intensas, mas que frequentemente promovem divisões.

Campanhas de desinformação ilustraram o impacto desses algoritmos, e um exemplo notório foi a divulgação de que Kamala Harris estaria envolvida em um atropelamento, uma história falsa amplificada pelos algoritmos e que influenciou a percepção dos eleitores. As eleições deixaram claro que o impacto dos algoritmos de IA vai muito além do entretenimento ou do engajamento: eles moldam a forma como os eleitores percebem o mundo. Para proteger a integridade do processo eleitoral, é essencial que o uso de IA em plataformas digitais seja rigorosamente regulamentado.

Em resposta a esses desafios, o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) lançou uma consulta pública, em abril de 2023, para discutir diretrizes de regulação para plataformas digitais, focando na transparência, segurança e diversidade do conteúdo digital. Estruturada em três eixos — definição do escopo de regulação, mapeamento de riscos e arranjos institucionais — a consulta recebeu mais de 1.300 contribuições, refletindo o interesse de diversos setores, incluindo a comunidade científica, o terceiro setor, o setor empresarial e governo.

Entre as diretrizes levantadas pela consulta pública, destacam-se: a transparência dos algoritmos; a responsabilização das plataformas; a curadoria e diversidade de conteúdo; a educação digital e parcerias para promover a segurança; e a governança e supervisão multissetorial. Essas diretrizes reforçam que uma regulamentação sólida é essencial para equilibrar inovação e integridade democrática, transformando as redes sociais em espaços de diálogo e diversidade informativa.

É essencial avançar com regulamentações que tragam mais transparência e responsabilidade ao uso de algoritmos — especialmente com as eleições de 2026 se aproximando no Brasil. Sem uma supervisão adequada, essas plataformas continuarão a priorizar modelos de engajamento que favorecem a polarização e a desinformação. As diretrizes propostas oferecem passos concretos para um ambiente digital mais seguro e confiável. Essa abordagem busca um equilíbrio pragmático, onde a inovação digital seja compatível com a proteção da integridade democrática e o acesso a informações de qualidade.

*Carine Roos é mestra em Gênero pela London School of Economics and Political Science – LSE. Também é pós-graduada pelo Santa Barbara Institute for Consciousness Studies (Califórnia/EUA) em Cultivando Equilíbrio Emocional nas organizações e atua como especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão há 10 anos. Lidera a Newa, empresa de impacto social que prepara organizações para um futuro mais inclusivo por meio de sensibilizações, workshops, treinamentos e consultoria de diversidade.

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