Marcondes fundou a Smile University, escola de empreendedorismo, gestão e marketing para profissionais liberais; escola dobrou de tamanho e quer faturar R$ 12 milhões em 2023
A história do dentista Matheus Marcondes, 40 anos, é digna de filme – daria um roteiro daqueles que inspiram e geram mudança. Logo após formar-se, em 2003, o paranaense realizava 16 extrações por dia e conseguiu zerar a fila de 350 pessoas que esperavam para tirar os sisos em Ibiporã. Ao mesmo tempo, atendia em 17 – vale uma exclamação! – clínicas de Londrina. Pouco depois, já como sócio de uma franqueadora, engordou 80 quilos – ao liderar uma expansão malsucedida – antes de descobrir seu verdadeiro propósito: fomentar o empreendedorismo e valorizar, promover e viabilizar o atendimento odontológico artesanal, humano e responsável.
Foi desta forma que nasceu a Smile University, escola de marketing, gestão e negócios para profissionais liberais, que hoje conta com mais de 500 alunos matriculados. Com quatro módulos e mensalidades que variam de R$ 1 mil até R$ 3,6 mil, a empresa – fundada em 2018 – se propõe a capacitar dentistas, médicos, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e outros profissionais liberais em habilidades e conhecimentos não ensinados na faculdade, oferecendo-lhes maior capacidade para competir no mercado privado.
“Repassamos conhecimentos sobre como angariar bons clientes e crescer financeiramente de forma saudável, expandir seu próprio negócio e fomentar o empreendedorismo. Tudo isso de forma humana e responsável”, comenta Marcondes.
Nos últimos dois anos, a empresa dobrou de tamanho. No total, já teve mais de 1,3 mil profissionais como alunos e vai faturar R$ 6,5 milhões em 2022. “No ano que vem, vamos chegar aos R$ 12 milhões e, em cinco anos, quero impactar 10 mil profissionais”, projeta Marcondes.
Zerando a fila do siso
Logo após se formar no Ensino Médio, Marcondes estava indeciso sobre sua carreira e pediu ajuda à mãe. “Me diz o que você quer que eu seja”. Filho de um médico reconhecido no Interior do Paraná, ele manteria o nome da família na área da saúde, mas sob outro viés. “Nunca tinha pensado em mexer na boca de ninguém, pensava em fazer turismo”, conta.
Nascido em Ibiporã, cidade com pouco mais de 50 mil habitantes, na Região Metropolitana de Londrina, Marcondes não demorou para tomar gosto pelo curso. Gostou da aula de anatomia, mas foi nas cirurgias e nos implantes que se encontrou. Depois de se formar e fazer residência em cirurgia, teve de lidar com o primeiro desafio: na Prefeitura da pequena cidade, conseguiu zerar a “fila do siso”. “Tirava 16 dentes por dia e em um ano já não tinha mais fila.”
Buscando melhores remunerações, Marcondes passou a atender em clínicas particulares e montou um “consultório no carro” – trabalhava como dentista itinerante em 17 clínicas diferentes de Londrina, levando todos os materiais que precisava consigo. Em algumas, era pago por procedimento; em outras, por diária.
Nesse meio tempo, Marcondes fora convidado para ser sócio em algumas clínicas, mas sempre recusou. Até que foi confrontado pela esposa: “Você é bobo de ficar trabalhando para os outros? Vai abrir seu próprio negócio”, sentenciou Jossania Marcondes. A fala estimulou o dentista se mexer, e ele acabou investindo em sua primeira clínica, em Maringá, também no Paraná.
Na cidade, Marcondes ganhou notoriedade após montar um stand-clínica em uma exposição agropecuária – tudo com autorização do Conselho Regional de Odontologia (CRO). “Cresci muito, fiquei muito conhecido e não tinha mais para onde crescer em Maringá”.
80 quilos a mais
Com o que havia faturado, Marcondes se tornou sócio de uma grande franqueadora na área da Odontologia e decidiu tentar a vida em São Paulo, abrindo uma clínica no Jardim Paulista, área nobre da cidade. Após investir mais de R$ 1 milhão, ele percebeu que as mesmas técnicas de marketing utilizadas com sucesso no Paraná simplesmente não funcionavam na capital paulista – as inserções publicitárias eram muito mais caras, e a concorrência, mais intensa.
Assim, tudo ia mal até que, num daqueles golpes de sorte que o destino costuma apresentar a quem se dedica, Marcondes foi salvo por um “merchan” relativamente barato no programa Raul Gil. “Recebi mais de 6 mil ligações”, lembra o dentista. “O pessoal do call center da clínica não entendeu nada do que estava acontecendo. Daí em diante o negócio parou de pé, e eu contratei uma pessoa para geri-lo enquanto eu cuidava de outras coisas.”
Foi no plano de expansão que a desilusão com o empreendimento começou. Convencido de que a franqueadora precisava de um prédio-sede em São Paulo, Marcondes comprou um edifício de cinco andares na Mooca, junto com outros dois sócios. Em cada andar havia uma funcionalidade da empresa, e a maior expectativa era com um laboratório de próteses que fora montado. A ideia era atender toda demanda da franqueadora com aquele espaço.
O laboratório, no entanto, não antedeu às expectativas e acabou dando mais gastos do que lucro. Em seguida, chegou a iniciar as tratativas para uma possível venda do empreendimento para um fundo de investimentos, mas também não houve acordo. Acabou vendendo o prédio para tentar amenizar o que já tinha perdido com os investimentos feitos.
“Foi a pior época da minha vida. Ganhei mais de 80 quilos”, conta o cirurgião-dentista. “Voltei para Londrina e, a convite dos sócios, assumi como diretor de operações da franqueadora. Percorri o país e visitei 160 unidades. Foi aí que eu me desiludi por completo. Muitas unidades não tinham capacidade de atender e completar os tratamentos. Eram muitas reclamações.”
Em 2018, após mais de uma década trabalhando com franquias, Marcondes decidiu sair da sociedade. Perdeu os 80 quilos e passou a estudar intensamente técnicas de vendas, marketing digital e prospecção de negócios na área da saúde. Depois de prestar consultoria para dezenas de dentistas, percebeu que seu conhecimento poderia alçá-lo a outros voos, especialmente na área de educação.
Foi então que decidiu criar a Smile University, onde Marcondes acredita cumprir um propósito: proporcionar a profissionais de saúde condições para atuarem de forma competitiva no mercado sem precisarem “render-se ao sistema”, ou seja, sem necessitarem aderir a franquias ou realizarem atendimentos via convênios. “Hoje, percebi que não basta só empreender, preciso também de um objetivo concreto que vai impactar na vida das pessoas. Acredito muito em uma relação genuína entre profissional de saúde e paciente, e sei que outros dentistas também querem ampliar seus negócios um tratamento único e humanizado. É esse conhecimento que passo adiante”, conclui Marcondes.