Jair Coser

por Mariana Rosa (mariana@empreendedor.com.br)

Aproveitar os seus dias fazendo só o que gosta costuma ser o plano de todo aposen­tado após o fim de uma carreira. No caso do ex-proprietário da rede Fogo de Chão, Jair Coser, fazer o que gosta significa justamen­te voltar ao trabalho e ao ramo que o levou ao sucesso: o churrasco. Dois anos após a venda da Fogo de Chão para o fundo norte-americano GP Investiments, Coser assume a rede de restaurantes Corrientes 348 em sociedade com Mara Santalla, esposa do em­presário argentino Eduardo Santalla, falecido em abril. O plano é expandir o negócio via abertura de lojas próprias. Duas inaugura­ções estão previstas para este ano, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Santalla fundou o Corrientes 348 na capital paulista em 1997 inspirado pelo tango A media luz, famoso na interpreta­ção do seu conterrâneo Carlos Gardel, no qual é citado um endereço fictício na Ave­nida Corrientes, em Buenos Aires, na Ar­gentina. Além do churrasco característico do país vizinho, o restaurante se destaca por oferecer outros pratos típicos, como empanada e panqueca de doce de leite, tudo feito com ingredientes importados de lá. Atualmente a rede conta com mais duas filiais em São Paulo, uma em Brasília e uma em Curitiba. Com a abertura das duas novas lojas, a expectativa é que o faturamento este ano seja de R$ 1 a 2 mi­lhões a mais que em 2013, quando a rede faturou R$ 9 milhões.

O projeto de expansão, comandado por Coser, prevê a abertura de, ao menos, três lojas por ano a partir de 2015. Segun­do ele, a prioridade agora é organizar o negócio, com a reforma de algumas casas, treinamento das equipes, etc. O investi­mento total é avaliado em cerca de R$ 2,5 milhões. “Acho que não tem desafio. É um conceito muito bacana. A carne é boa, a equipe é boa”, avalia Coser, que conhe­ceu a rede no ano passado como cliente. A tranquilidade com o projeto é de quem tem experiência de longa data na área. Aos 19 anos de idade, ele e o irmão, Ari Co­ser, deixaram a cidade de Encantado, no interior do Rio Grande do Sul, para traba­lhar como garçom na churrascaria Oasis, no Rio de Janeiro, onde tinham indicação de emprego com conhecidos. Durante sete anos, economizaram para abrir um negócio próprio. Inicialmente planejavam uma lanchonete, mas, quando voltaram a Porto Alegre, tiveram a oportunidade de comprar o ponto da Fogo de Chão, que servia a la carte.

O negócio foi firmado em 1979, em sociedade com os irmãos Aleixo e Jorge Ongaratto, parceria que teve início quando os quatro trabalharam juntos na capital ca­rioca e seguiu até o ano de 2005, quando a Fogo de Chão já havia se tornado uma rede conhecida internacionalmente. O diferen­cial que impulsionou o crescimento da marca sob a gestão dos irmãos foi investir em um sistema de rodízio do tradicional es­peto corrido gaúcho e no treinamento dos garçons. “Para dar serviço melhor, tem que ter mais gente e gente mais bem formada”, afirma Jair Coser, que se valeu da experiên­cia anterior, onde o serviço era de padrão mais elevado, para inovar no ramo, que na época era explorado somente pelos restau­rantes mais simples da região, as churrasca­rias de beira de estrada.

Após a consolidação no Rio Grande do Sul, onde abriram também uma unidade em Caxias do Sul, a expansão nacional da marca começou em 1986, com a abertura de uma filial em São Paulo. Localizado no bairro Moema, o estabelecimento era fre­quentado por clientes de alta renda que foram essenciais para dar o tom da pro­posta da Fogo de Chão dali para frente, de uma rede de churrascaria gourmet. O refinamento do serviço passou também por mais treinamento dos garçons, cada um especializado em um tipo de corte. A primeira casa fora do Brasil foi aberta nos Estados Unidos com capital próprio, em 1997. Localizada na cidade de Dallas, no Texas, a churrascaria caiu no gosto de personalidades como George Bush pai, que foi um dos incentivadores da expan­são para o país – após uma palestra sua na capital paulista, em 1996, os irmãos Coser, que vinham estudando a possibilidade de expansão internacional há dois anos, ates­taram a viabilidade de investir na região.

Em 2006, a GP Investiments comprou 35% das ações da Fogo de Chão e, cinco anos depois, os irmãos Coser optaram por sair de vez da rede com a venda das ações restantes, avaliadas em US$ 62 milhões. Atualmente a Fogo de Chão conta com nove unidades no Brasil e 24 nos Estados Unidos. À parte, as expectativas do novo projeto, a sensação do empreendedor é de dever cumprido. “Tenho o maior orgu­lho de ter criado uma empresa que está numa fase boa.”

 

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