Lucas Maceno

A industrialização de quase todo o processo assegura qualidade e garante prazosA afinidade de valores e ideais uniu seis empreendedores que buscavam tornar o mercado brasileiro da construção civil mais sustentável e industrializado. E, com esse propósito, fundaram a Tecverde – primeira empresa dedicada exclusivamente à construção de casas verdes no País. A tecnologia utilizada é chamada de wood frame, que entre outros benefícios, emite 80% menos CO2 no processo e oferece eficiência térmica duas vezes superior em comparação ao modo convencional de construir. A empresa, com sede em Curitiba e atuando desde 2010 nos mercados do Sul e Sudeste do País, foi reconhecida por órgãos internacionais e já recebeu alguns prêmios pela forma inovadora e sustentável de edificar casas.

Quando Caio Bonatto, Carlos Roberto Justus, Lucas Maceno, Diogo Lovato e Maria Paula Roco Nascimento estudavam na Universidade Federal do Paraná (UFPR), no curso de Engenharia Civil, trocavam ideias sobre como inovar no ramo da construção civil. Pedro Virmond Moreira também era aluno da UFPR e completava o grupo com suas opiniões do ponto de vista da arquitetura. Conforme conta Lucas Maceno, a formação do grupo aconteceu de forma progressiva. “Outras pessoas também participaram do início da Tecverde, mas a maior identificação de ideias surgiu mesmo entre nós seis”, relata.

Maceno lembra que o objetivo de tornar o setor da construção civil mais sustentável e industrializado motivou o grupo a começar o negócio. E, justamente, os maiores desafios que tiveram estavam relacionados à transformação desse segmento que é tradicionalmente pouco inovador. “Desde a estruturação da cadeia de fornecedores até o financiamento das construções, tivemos que superar obstáculos”, ressalta.

O primeiro entrave estava em descobrir uma técnica mais sustentável e industrializável de construir. E, para encontrá-la, foram necessários dois anos de muita pesquisa para chegar ao wood frame – sistema construtivo que reduz em cerca de 90% os resíduos produzidos em com paração com métodos convencionais. É o sistema mais adotado em países como Canadá, Estados Unidos, Chile e Alemanha, onde o sistema se encontra no estágio mais avançado de desenvolvimento industrial para produção. Por meio de uma parceria estabelecida com a Federação das Indústrias do Paraná (FIEP) e o Senai, o grupo de empreendedores conseguiu estabelecer contato direto com importantes empresas e profissionais do segmento na Alemanha e, assim, realizar o processo de transferência de tecnologia, apoiado ainda numa comissão de empresas nacionais e internacionais do setor instalada na FIEP para desenvolvimento e implantação do wood frame no Brasil.

Maceno explica que a tecnologia foi tropicalizada pela Tecverde para ser implantada no Brasil. “Ela foi adaptada em relação a algumas características presentes na tecnologia utilizada no exterior. E teve que ser modificada para se ajustar às normas, ao clima e à cultura dos brasileiros.” As paredes, por exemplo, receberam reforços estruturais para ficarem mais robustas e possibilitarem a fixação de móveis para atender o costume do consumidor brasileiro. “Outro ajuste realizado foi o reforço nas estruturas contra umidade, tanto no exterior quanto no interior da casa, pois no Brasil a umidade é mais agressiva do que na Europa”, diz.

O passo seguinte foi buscar investidores para que a primeira fábrica de wood frame do Brasil fosse instalada. “Conseguimos financiamento por meio de investidores anjo e do programa Prime da Finep”, conta Maceno. Hoje, a fábrica da Tecverde tem capacidade para produção de quatro casas por mês de 150m2 cada. “Outros já haviam tentado introduzir a tecnologia no Brasil, mas esbarraram na falta de uma cadeia produtiva local. A

Tecverde, com a colaboração da FIEP, estabeleceu parcerias com mais 34 empresas, criando uma cadeia robusta e eficiente de fornecedores”, destaca. Para garantir a durabilidade das casas, a Tecverde fica atenta em relação à qualidade dos materiais que utiliza, principalmente, quando se refere à madeira. “Toda madeira que usamos é de reflorestamento e tem que ter autenticação do Ibama. Fazemos uma pesquisa intensa de fornecedores antes de fecharmos algum contrato”, diz Maceno. As paredes são formadas por estruturas em madeira autoclavada para proteção contra cupim e umidade. Esta estrutura recebe o preenchimento com isolamento térmico e acústico. Na face externa, são fixadas chapas de cimento e sobre elas qualquer tipo de revestimento: tijolinhos, pintura, texturas e cerâmicas. “As paredes internas recebem gesso, para dar um acabamento fino e oferecer resistência e solidez”, Maceno.

As lajes e coberturas das casas verdes são produzidas na fábrica e também recebem isolamento térmico e acústico. “As lajes recebem uma camada de concreto, eliminando todo e qualquer efeito de piso de madeira. O mais importante para a Tecverde foi oferecer uma tecnologia avançada, mas com a mesma, ou melhor, estética, resistência, durabilidade, solidez e flexibilidade de uma casa de tijolos e concreto”, afirma Maceno. Todos os itens que compõem a edificação do imóvel, entre eles, as paredes, lajes e cobertura são produzidos na fábrica, com controle industrial de produção, mas de forma 100% customizada a cada projeto.

Maceno ressalta que a Tecverde tem o mesmo custo de uma construção convencional, porém com três diferenças relevantes: o preço da obra é garantido, pois a empresa trabalha com modelo de produção industrializado, em que custos de materiais e mão de obra ficam em absoluto controle, o prazo de execução da obra é, em média, de três a quatro vezes menor que construções convencionais e, por fim, o desempenho das construções que, segundo Maceno, é incomparável, especialmente em questões térmicas e acústicas.

E mesmo ofertando esse produto no mercado, a comercialização estava reduzida, pois a empresa não possuía opções de financiamento disponíveis, porque casas de madeira não podiam ser financiadas pelos bancos. “Nós tínhamos um produto interessante, mas não uma boa condição de pagamento. Foi aí que em um evento, o sócio Caio Bonatto sentou, por acaso, ao lado do superintendente de negócios sustentáveis do Banco Santander e explicou que o wood frame não é uma simples construção em madeira e sim um sistema construtivo avançado e tão seguro e durável quanto às demais construções”, relata. Depois disso, o banco resolveu apostar no projeto e juntos conseguiram alterar a regulamentação nacional de financiamento de casas que usam madeira em suas estruturas. Atualmente, a regulamentação nacional de financiamento foi alterada porque o sistema construtivo da Tecverde foi reconhecido.

Essa conquista possibilitou a Tecver de entrar no competitivo mercado imobiliário biliário, oferecendo iguais condições de negociação, com a possibilidade de financiamento em até 30 anos, tempo máximo permitido pela legislação. “Chegamos ao modelo atual que se assemelha muito à compra de um carro: oferta de casas com variedade de modelos e pronta-entrega, possibilidade de customização, garantia de preço e prazo, financiamento como parte da solução e um processo de venda simples e que utiliza novos canais, como a internet”, afirma Maceno. Com isso a Tecverde conseguiu deslanchar e finalizar o ano passado com um faturamento de aproximadamente R$ 5 milhões.

O ano de 2012 para a Tecverde foi realmente especial, pois a empresa pôde confirmar que a inovação e a sustentabilidade, tão almejadas pelo grupo, foram diferenciais que a colocaram como exemplo no mundo empresarial. A organização recebeu o Prêmio Internacional Hermès de l’Innovation 2012, concedido com o apoio do Instituto Europeu de Inovação e Estratégias Criativas e do Clube de Paris de Diretores de Inovação. A premiação foi um reconhecimento por sua inovação em habitação e relação do homem com a natureza. Mais tarde, o “Escritório Verde”, projeto construído em wood frame em parceria com a UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), ganhou um prêmio da ONU por integrar educação e sustentabilidade. Ainda em 2012, a Tecverde foi selecionada no painel internacional da Endeavor, em evento na Turquia. E, no Brasil, recebeu menção honrosa no Prêmio Planeta Casa, na categoria projeto arquitetônico com a “Casa Vila”, projetada pela Arquea Arquitetos e construída pela Tecverde, além de receber o Prêmio Nacional de Inovação como melhor modelo de negócio na categoria micro e pequena empresa.

Para Maceno e seus sócios, inovação e a sustentabilidade não devem ser vistos como o objetivo final. “A inovação e a sustentabilidade devem ser as ferramentas imprescindíveis para chegarmos num produto e em serviços de altíssima qualidade, de desempenho reconhecidamente superior em relação aos outros produtos e serviços disponíveis no mercado”, afirma Maceno. Ele acrescenta que a inovação e a sustentabilidade têm valor se não forem aplicadas para atingir objetivos práticos. “Ao contrário, a inovação e a sustentabilidade devem tornar-se intrínsecas aos produtos e serviços, projetos e processos.”

Maceno revela que a Tecverde pretende tornar o setor da construção civil cada vez mais sustentável e industrializado. “Estamos expandindo nossas operações, em termos de capacidade de produção e atendimento geográfico, para tornar nossos produtos e serviços mais relevantes no País.” Atuando como agentes de mudanças na construção civil, e com o apoio da Endeavor, a empresa espera chegar a um faturamento de R$ 60 milhões até 2015.

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