Classe média e os vulneráveis na América Latina

O Banco Mundial acaba de lançar a publicação “Economic Mobility and the Rise of the Latin American Middle Class”, dos autores Francisco H. G. Ferreira, Julian Messina, Jamele Rigolini, Luis-Felipe Lopez-Calva, Maria Ana Lugo e Renos Vakis.

Esta publicação, que em tradução livre se intitula “Mobilidade Econômica e Crescimento da Classe Média Latino-Americana” mostra que, após décadas de estagnação, a classe média na América Latina cresceu a ponto de atingir o mesmo tamanho da classe dos pobres.

O estudo define a classe média como o grupo formado por aqueles que não correm mais o risco de retornar à pobreza. A este conceito os autores chamam de seguridade econômica. Segundo eles, existem quatro classes sociais na América Latina: os ricos, a classe média, os vulneráveis e os pobres. Os vulneráveis são aqueles que estão em condição de renda média, mas podem retornar à pobreza a qualquer momento.

A base do rendimento da classe média foi definida como US$ 14 mil anuais para uma família de quatro membros, e a possibilidade de redução deste rendimento tem que ser menor que 10%.

As razões do crescimento da classe média na América Latina, diz o estudo, são o crescimento econômico (sustentado pelo crescimento da economia mundial, alta do preço das commodities, expansão do crédito e redução das taxas de juros) e o sucesso na implantação de programas de redução da desigualdade nos diversos países da região. Estas condições levaram 43% da população a mudar de classe social nos últimos 15 anos.

Apesar do sucesso das políticas implantadas para reduzir a desigualdade, ainda não foi alcançada na região a principal condição para garantir a ascensão sócio-econômica da população, que é a melhoria das condições de instrução. A mudança inter-geracional na área da educação ainda é restrita. Os que conseguem atingir um grau mais elevado de instrução ainda vêm de famílias cujos pais também possuem bom nível de escolaridade.

O trabalho termina afirmando que, para continuar progredindo socialmente, os países da América Latina precisam aproveitar o crescimento da classe média para implantar um contrato social que garanta a sustentabilidade de uma política mais inclusiva e melhores condições de qualidade do serviço público. Os membros da nova classe média devem exigir maior eficiência por parte do Estado.

Ao apresentar o trabalho, o economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e Caribe, Augusto de La Torre, afirmou que a classe média latino-americana tende a se afastar dos serviços públicos como ensino, segurança e saúde, assim que melhoram de renda.  Diz La Torre "Essas pessoas optam por não usar os serviços públicos, ao contrário do que é observado na classe média dos Estados Unidos, e isso é uma fonte de preocupação".

Alcides Leite é economista e professor da Trevisan Escola de Negócios.

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