Incertezas na economia, aumento do desemprego, recuo no rendimento real dos trabalhadores e queda no nível do consumo doméstico. A combinação desses fatores negativos foi responsável por derrubar pelo 16º mês seguido o faturamento real (já descontada a inflação) das micro e pequenas empresas (MPEs) do Estado de São Paulo, na comparação de um mês com o mesmo período do ano anterior. Em abril, a queda foi de 12,4% sobre abril de 2015, de acordo com a pesquisa Indicadores Sebrae-SP. Com o resultado, o faturamento médio das MPEs voltou ao nível de abril de 2009, quando o Brasil sofria o impacto da crise financeira internacional.
Segundo o levantamento, a receita total das MPEs paulistas em abril ficou em R$ 45,3 bilhões, o que representa R$ 6,4 bilhões a menos do que o registrado em igual mês do ano passado.
No acumulado de janeiro a abril, as MPEs apresentaram redução de 14,4% na receita em relação aos quatro primeiros meses de 2015.
O setor que teve o pior desempenho em abril foi a indústria, com queda de 14,7% no faturamento sobre abril de 2015. Serviços e comércio apresentaram baixa de 13,7% e 10,5%, respectivamente, na mesma comparação.
“Os pequenos negócios e MEIs continuam vulneráveis aos impactos da crise e ainda amargam a herança deixada pelo governo anterior na condução equivocada da economia. Estamos em sinal amarelo, porque vai levar um tempo para retomar o crescimento, ”afirma o presidente do Sebrae-SP, Paulo Skaf.
Na análise por regiões, as MPEs do interior do Estado tiveram um recuo menor, de 4,8%, na receita. Foi uma diminuição de receita menor em relação a outras localidades. Na Região Metropolitana de São Paulo, o faturamento das MPEs caiu 18,8% em abril de 2016, ante igual período de 2015. No município de São Paulo, a receita encolheu 16,5% e no Grande ABC a redução de faturamento ficou em 12,7%. O melhor desempenho relativo das MPEs do interior pode ser explicado pelo início da colheita de algumas safras relevantes como cana-de-açúcar, e pela base fraca de comparação, já que em abril de 2015 as MPEs do interior tiveram queda de 19,8% na receita ante recuo de 13,6% no Estado como um todo.
O pessoal ocupado (abrange sócios-proprietários, familiares, empregados e terceirizados) e a folha de salários (inclui salários e outras remunerações) sofreram queda no acumulado do ano (de janeiro a abril) ante igual período de 2015, de -2,7% e -4,2%, respectivamente. O rendimento dos empregados, por sua vez, teve variação positiva de apenas 0,2% na mesma comparação.
“Como ocorre nos períodos de crise, o mercado de trabalho é sempre o último a se recuperar. Dessa forma, primeiro as micro e pequenas empresas precisam voltar a registrar aumento de faturamento para depois abrirem postos de trabalho”, explica o diretor-superintendente do Sebrae-SP, Bruno Caetano.
MEI
Mais uma vez, o faturamento dos Microempreendedores Individuais (MEIs) encolheu em um patamar mais acentuado do que o das MPEs. Em abril, a queda na receita da categoria foi de 19,9% sobre abril do ano anterior.
O faturamento dos MEIs da indústria despencou 30,8%; os que atuam no comércio tiveram baixa de 16,9% na receita, enquanto os do setor de serviços viram seus ganhos caírem 16,6% na mesma comparação. A fragilidade do consumo doméstico, alta do desemprego e diminuição na renda dos trabalhadores foram decisivos para minar os resultados. Os MEIs faturaram R$ 2,3 bilhões em abril, uma redução de R$ 570 milhões em relação a abril do ano passado.
Os MEIs da Região Metropolitana de São Paulo apresentaram uma queda no faturamento superior aos que atuam no interior: a redução nos ganhos dos primeiros foi de 28,2% enquanto os do segundo grupo viram um recuo de 8% na receita, na comparação de abril de 2016 com abril de 2015. O início de colheitas importantes pode ter contribuído para o desempenho menos negativo no interior.
De janeiro a abril, os MEIs paulistas acumularam queda de 24% na receita real sobre o mesmo período de 2015.
Expectativas
“Mas há sinais animadores, como o registro de considerável reversão das expectativas com relação à economia e ao faturamento, resultado da volta da credibilidade”, acredita Skaf, que completa: “o importante agora é que estas expectativas se transformem em investimento e isto só vai acontecer com as mudanças efetivas nos rumos da economia”.
Em maio, 56% dos donos de MPEs disseram esperar estabilidade no faturamento nos próximos seis meses. Em maio de 2015, eram 61% os que pensavam assim. Houve aumento no percentual dos que aguardam melhora, de 22% um ano antes para 27%. Já 8% falam em piora ante 12% em maio de 2015.
No que diz respeito à economia brasileira, 38% dos proprietários de MPEs aguardam manutenção no nível de atividade nos próximos seis meses, mesmo porcentual de maio de 2015. Por outro lado, o grupo dos que esperam melhora para a economia aumentou expressivamente: de 15% um ano antes para 34% em maio de 2016. Caiu o percentual dos que esperam piora: de 40% em maio 2015 para 16% em maio 2016.
Entre os MEIs, o otimismo é relativamente maior na comparação com os donos de MPEs. Para 45% dos MEIs, o faturamento crescerá nos próximos seis meses; em maio de 2015, 43% tinham essa expectativa. Na opinião de 41% haverá estabilidade (eram 37% um ano antes). Por sua vez, 10% falam em redução na receita ante 15% em maio de 2015.
Para a economia do País, 39% enxergam estabilidade para os seis meses próximos (eram 30% em maio de 2015). Já a perspectiva de melhora passou de 22% há um ano para 35% agora. E o grupo dos que acreditam em piora se reduziu de 43% em maio de 2015 para 20% em maio de 2016.
A pesquisa
A pesquisa Indicadores Sebrae-SP foi realizada com apoio da Fundação Seade. Foram entrevistados 1.700 proprietários de MPEs e 1.000 MEIs do Estado de São Paulo durante o mês de referência. No levantamento, as MPEs são definidas como empresas de comércio e serviços com até 49 empregados e empresas da indústria de transformação com até 99 empregados, com faturamento bruto anual até R$ 3,6 milhões. Os MEIs são definidos como os empreendedores registrados sob esta figura jurídica, conforme atividades permitidas pela Lei 128/2008. Os dados reais apresentados foram deflacionados pelo INPC-IBGE.