Dados do Instituto Propague e Economic Research da Stone destacam aumento de 12 pontos na taxa de mobilidade, mas volume de vendas ainda segue pressionado com alta da inflação e Selic
Fortemente atingidos pela pandemia de Covid-19, os setores de comércio e serviços já demonstram tendência de recuperação da circulação de pessoas aos níveis pré-pandêmicos, mas o relatório Mercado de Pagamentos em Dados, do Instituto Propague, em parceria com a área Economic Research da Stone, aponta que a atividade econômica e o volume de vendas não estão acompanhando o crescimento nos indicadores de mobilidade.
O estudo, que usa dados do Google para mostrar essa evolução da mobilidade ao longo do terceiro trimestre de 2021, indica que em junho deste ano, a média móvel era de -20% em relação ao começo de 2020, momento exato do início da pandemia. Já ao final do 3º trimestre de 2021, a média foi de -8,14%. Ou seja, 12 pontos percentuais acima na mobilidade em lugares como restaurantes, cafés, shopping centers, parques temáticos, museus, bibliotecas e cinemas no período.
“Apesar da melhora representativa nos medidores de mobilidade, o estudo apontou que a atividade econômica não retomou os patamares pré-pandemia. Entre o 2º e o 3º trimestre de 2021, houve uma queda de cerca de -0,4% no volume mensal médio transacionado no trimestre, com redução ainda maior na comparação com o mesmo trimestre de 2020, que ficou em -1,6%”, menciona Bernardo Piquet, diretor do Instituto Propague.
Supermercados e hipermercados registraram retração no volume de vendas de 0,9% entre o 2º e 3º trimestre de 2021. O setor de combustíveis e lubrificantes apresentou queda ainda maior totalizando 1,5% a menos de vendas no 3º trimestre de 2021.
Uma das quedas mais significativas no setor de comércio ficou concentrada em móveis e eletrodomésticos, com retração no volume de vendas em mais de 4,5% no período. O estudo mostra também que o setor de livros, jornais, revistas e papelaria chegou a setembro de 2021 ainda apresentando valores 35% menores que os de fevereiro de 2020, mesmo com a mobilidade tendo aumentado significativamente.
Taxas positivas
Apenas o segmento de tecidos, vestuário e calçados, relacionado ao setor de comércio, apresentou taxa positiva, com crescimento de cerca de 5,8% no comparativo entre o 2º e o 3º trimestre de 2021.
Em setores relacionados a serviços, o estudo mostra que o volume de vendas cresceu cerca de 3% no comparativo entre a média mensal do 2º e o 3º trimestre de 2021. Quando comparado com o mesmo trimestre de 2020, o crescimento foi de mais de 15%, mostrando uma recuperação mais expressiva do que aquela apresentada no comércio.
O setor de alojamento e alimentação cresceu cerca de 18,6% desde o 2º trimestre de 2021, ainda que siga operando em níveis aquém daqueles alcançados pré-pandemia: em setembro de 2021, o valor em sua média móvel anual seguia 20% menor do que o valor registrado em fevereiro de 2020.
Um outro setor de serviços que apresentou crescimento com o aumento da mobilidade das pessoas foi o de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, atingindo um patamar cerca de 7% maior daquele observado em fevereiro de 2020, com um expressivo aumento de mais de 18% na média mensal entre o 3º trimestre de 2020 e o de 2021.
O estudo mostra, no entanto, que apesar do expressivo aumento da mobilidade em locais importantes para o comércio e o serviço, de forma geral os setores estão se recuperando de forma lenta, ainda que com algumas exceções.
Desempenho em volume de vendas entre o 2º e 3º trimestre de 2021
- Móveis e eletrodomésticos: – 4,5%
- Combustíveis e lubrificantes: -1,5%
- Hipermercados, supermercados: – 0,9%
- Setores relacionados a serviços: + 3%
- Tecidos, vestuário e calçados: + 5,8%
Fatores que explicam a lenta recuperação
Duas variáveis de fundamental importância para a economia explicam a lentidão do retorno da atividade econômica: o principal medidor da trajetória dos preços (no caso brasileiro, o IPCA) e a taxa básica de juros da economia (no caso brasileiro, a SELIC). A SELIC chegou a 5,4%, com sua meta crescendo ainda mais proporcionalmente, atingindo 6,25% e, em 28 de outubro, o BACEN subiu ainda mais a meta para 7,5%. Tal movimento promovido pelo BACEN foi uma tentativa de dar uma resposta ao alarmante crescimento do IPCA que chegou, no acumulado de 12 meses, a 10,25% ao final do terceiro trimestre de 2021, suficiente para um acréscimo de cerca de 6 pontos percentuais em pouco mais de nove meses.
O ano de 2021 tem sido um período de subida geral da inflação, tanto em economias emergentes como desenvolvidas, mas a inflação do Brasil é particularmente alta. Há diversos motivos para isso. Em se tratando de uma cesta de produtos e serviços, o IPCA tem vários componentes, incluindo alimentos, vestuários, despesas com saúde e educação, entre outros. Alguns desses componentes têm se destacado mais do que outros e são fundamentais para a cadeia produtiva dos setores de comércio e serviços. Acesse o estudo completo aqui.
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