Bem no alvo

Com uma história de 10 anos envolvida em pesquisa para produção de tecnologia, a Photonita, empresa que desenvolve, produz e comercializa sistemas ópticos avançados, trabalha com alta tecnologia, totalmente brasileira. Grandes corporações como Mercedes-Benz, Ford, GM, Volkswagen, Weg e Embraco, entre outras, estão no portfólio de clientes da Photonita. A empresa, incubada no Celta (Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas), em Florianópolis, também criou um sistema óptico, denominado Lepus, para identificação balística automatizada que auxilia os institutos de perícia no rastreamento de armas em nível regional e nacional. O sistema Lepus recebeu R$ 3 milhões em investimentos. Parte dos recursos veio da própria empresa e a outra parte do governo federal, através da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Com a realização dos eventos esportivos no Brasil, o Lepus será mais uma ferramenta estratégica para integrar o sistema de segurança pública brasileiro. 

As grandes esferas municipais, estaduais e federais na área de segurança pública podem se beneficiar do sistema Lepus para conseguir identificar as armas envolvidas em crimes, através das marcas deixadas na munição disparada. Essas marcas revelam importantes informações para os peritos criminais, auxiliando na busca de criminosos. O Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal em Brasília já usa o sistema Lepus com esse objetivo. O equipamento atende perfeitamente à Lei 10.826, que diz que toda arma produzida no País precisa ser cadastrada em um banco de dados. O sistema Lepus pode ser usado também em caso de conflitos armados para descobrir de qual arma partiu determinado disparo. Para realizar a identificação balística, o sistema Lepus faz um exame microcomparativo dos elementos da munição disparada. Por exemplo, quando uma arma é apreendida, os peritos podem comparar as marcas deixadas na arma com as marcas encontradas nos elementos de munição de vários outros crimes, descobrindo se a arma esteve envolvida. O equipamento, que oferece uma visão de 360 graus, é aplicado na aquisição e no armazenamento de imagens de projéteis e estojos deflagrados. O Lepus disponibiliza elementos gráficos para confrontos de imagens digitais, reconhecimento automatizado de munições semelhantes que estejam armazenadas numa base de dados e a possibilidade de conexão entre diversos institutos de perícia que utilizam o mesmo sistema.

A Photonita desenvolveu o Lepus por causa de um perito criminal que chegou até a empresa com o problema de identificação balística. A indústria internacional até possuía opções para resolver a questão, mas os equipamentos estrangeiros não tinham condições de atender a demanda brasileira. Diante disso, a equipe de trabalho da Photonita – que reúne 14 pessoas, sendo cinco sócios, seis funcionários e três consultores, todos altamente qualificados, com cursos de mestrado ou doutorado, e somente um funcionário não tem curso superior, mas possui curso técnico e experiência no mercado –, após cinco anos de pesquisa, apresentou o Lepus como uma solução ao segmento de segurança pública.

Ponte para o mercado

A história da empresa começou na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), no Laboratório de Metrologia e Automatização, com o professor Armando Albertazzi. “As soluções criadas dentro da universidade precisavam ir para o mercado, então a necessidade de criar uma empresa foi crescente”, conta Carlos Pezzotta, sócio e diretor de negócios da Photonita. O primeiro produto criado atendia o setor de óleo e gás e os recursos para desenvolver o invento vieram da Finep. Mais tarde surgiu uma demanda na área de medição baseada em óptica para a indústria automobilística e, sob encomenda, a empresa criou o BruniTest, equipamento capaz de avaliar aspectos de qualidade de motores de combustão, bombas e compressores. A Photonita segue desenvolvendo máquinas especiais, sob encomenda também, desde o projeto até a montagem, que é realizada na própria empresa. Na visão de Pezzotta, é muito importante a empresa diversificar seus investimentos em produtos que atendam a demanda de diferentes mercados. “Com a crise que começou em 2008 e se estende até hoje nos países europeus, a indústria automotiva ficou sem investir. E, consequentemente, ficamos um ano e meio sem vender o BruniTest”, conta.   

Nesse cenário, que muitas vezes é preciso se adaptar às incertezas, Pezzotta destaca o importante papel da Finep para o desenvolvimento de alta tecnologia no País. “Não há empresa no Brasil que trabalha com desenvolvimento de tecnologia sem o apoio da Finep. Por isso, os recursos precisam ser bem utilizados pelos empreendedores”, observa. Para ele, um dos problemas que desestimula o trabalho de criar inovação tecnológica hoje no Brasil é a proteção da propriedade intelectual. “É muito demorado e ineficiente o processo de registro de patente no Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial)”, relata Pezzotta. De acordo com ele, o processo segue tramitando por cerca de oito anos até ser concluído. O processo de registro industrial de um dos produtos da Photonita, por exemplo, está desde 2003 no Inpi. Pezzotta acredita que o órgão federal ficou pequeno diante da demanda que existe hoje no País e precisa ser urgentemente reformulado. “Não adianta o governo federal colocar recursos na Finep para repassar às empresas se o Inpi não trabalhar junto agilizando o registro das patentes”, declara.

Apesar de alguns entraves, Pezzotta avalia positivamente o mercado para as empresas desenvolverem produtos de alta tecnologia no Brasil. “Continua difícil, mas já foi mais complicado”, afirma. Ele diz que é preciso ter muita persistência, perseverança, saber que o tempo de desenvolvimento de um projeto é longo, os investimentos são altos e o retorno é incerto. E nessa caminhada a empresa ainda enfrenta diversos desafios, entre eles a busca por recursos financeiros, a contratação de mão de obra altamente qualificada e a luta para colocar o produto no mercado. Segundo Pezzotta, as empresas que compram alta tecnologia brasileira questionam muito antes de fechar o negócio. Por isso, a Photonita sempre conta com os sócios para vender seus produtos, pois essa foi uma maneira encontrada para transmitir segurança ao comprador de que ele terá suporte e acesso fácil aos proprietários da empresa em caso de qualquer problema. A garantia que a Photonita oferece de consertar o equipamento no prazo de uma semana também é outro diferencial competitivo em relação ao equipamento importado. “O caminho para criar e desenvolver tecnologia é árduo, mas vale a pena”, afirma Pezzotta.

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