Por Fábio Zampirollo, gerente de Aterros do Grupo Multilixo*
A destinação inadequada dos resíduos sólidos urbanos é um dos principais entraves ambientais do país. Ainda hoje, mais de 30% dos municípios brasileiros utilizam lixões a céu aberto, prática ilegal, ambientalmente insustentável e socialmente inaceitável.
Essas áreas de descarte operam sem controle técnico, impermeabilização, drenagem ou tratamento de efluentes, contaminam o solo, comprometem águas superficiais e subterrâneas, liberam gases de efeito estufa e expõem populações a riscos sanitários. Um caso recente ilustra esse impacto: em Iñapari, no Peru, um lixão contaminou o rio Acre, que cruza a divisa brasileira e deságua no Amazonas, prova de que os impactos ultrapassam fronteiras e desrespeitam limites ambientais e institucionais.
Aterro 4.0: tecnologia, impacto social e energia renovável
No Brasil, municípios pequenos e médios enfrentam desafios estruturais para implementar soluções eficazes. A falta de articulação entre políticas, planejamento, incentivos e regulação local trava avanços, e sem essa convergência, o lixão persiste, não por escolha, mas por ausência de integração entre esses pilares.
Nesse cenário, os aterros sanitários são divisores de águas. Com licenciamento ambiental e controle técnico rigoroso, contam com impermeabilização do solo, drenagem e tratamento de chorume, captação e valorização energética do biogás, monitoramento ambiental e gestão integrada. A versão mais avançada, o aterro 4.0, incorpora sensores, automação, controle em tempo real e equipes técnicas qualificadas, ampliando a eficiência e elevando o padrão ambiental.
Além da destinação segura, esses aterros impulsionam a transição energética ao converter o biogás em biometano, combustível renovável, alternativa às fontes fósseis, que reduz emissões de CO₂. Essa integração entre sustentabilidade e inovação na gestão de resíduos já é realidade no país. Exemplo disso é a UTGR de Jambeiro, onde funciona a primeira usina 100% off-grid do Brasil, capaz de gerar mais de 10 milhões m³ de biometano por ano e evitar a emissão de cerca de 170 mil toneladas de CO₂.
Inovação, gestão de resíduos e energia renovável podem e devem caminhar juntas. Mas tecnologia isolada não basta. A gestão de resíduos precisa ser política estruturante, integrando sustentabilidade ambiental, saúde pública e desenvolvimento regional.
Aterros sanitários não são o fim da cadeia, mas parte estratégica de um sistema com reciclagem, compostagem, valorização energética e redução de resíduos. Diferente dos lixões, que não são opção, os aterros são soluções seguras para proteger o meio ambiente, garantir saúde pública e acelerar a economia circular no país.