União entre governantes, empresas e cidadãos podem ajudar as mais de 14,3 milhões de pessoas que vivem em situação de insegurança alimentar severa no Brasil
De acordo com o último Relatório das Nações Unidas, O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo 2024 (SOFI), divulgado em 24 de julho, aproximadamente 2,33 bilhões de pessoas em todo o mundo enfrentaram insegurança alimentar moderada ou grave no último ano. Na definição da organização, a insegurança alimentar é classificada quando as pessoas não têm acesso a comida e passam um dia ou mais sem comer. No contexto brasileiro, o relatório indicou uma mudança positiva de cenário. Em 2023, 14,7 milhões de pessoas deixaram de passar fome no país, caindo para 2,5 milhões os que enfrentam insegurança alimentar grave – uma queda de 85%. Em paralelo a este cenário, no entanto, a ONU indicou que, em 2022, foram gerados 1,05 bilhão de toneladas de resíduos alimentares, totalizando 132 quilos por pessoa e quase um quinto de todos os alimentos disponíveis para os consumidores. E, para mudar este panorama, é preciso unir esforços dos três setores que compõem a sociedade: a administração pública, as empresas privadas e as instituições sem fins lucrativos.
“Não podemos colocar nas mãos de uma única esfera de poder a erradicação desse problema tão sério. Especialmente porque ele não é um privilégio do nosso país, no mundo inteiro a insegurança alimentar grave aumentou muito nos últimos anos. A pluralidade de ações e a necessidade de envolver diversos atores da sociedade de maneira multissetorial são fundamentais para o sucesso do combate à fome e a insegurança alimentar, seja no Brasil ou no mundo”, aponta Alcione Pereira, CEO e fundadora da Connecting Food, primeira foodtech brasileira especializada em conectar os alimentos que seriam descartados por empresas às organizações sociais.
Diante desse cenário, Alcione, que se dedica há mais de 20 anos a estudar a alimentação e seus processos, destacou alguns dos principais deveres que os três setores da sociedade têm para contribuir na redução do desperdício de alimentos e combate à fome. Confira a seguir!
Primeiro setor
O engajamento dos governos é fundamental como catalisador para as mudanças que são necessárias, com incentivos, investimentos e políticas públicas específicas. Essas medidas são essenciais para o direcionamento de ações em diferentes áreas da sociedade, seja para os setores privados, organizações da sociedade civil e cidadãos como um todo.
Segundo setor
Desde junho de 2020, a lei nº 14.016, que dispõe sobre o combate ao desperdício de alimentos e a doação de excedentes de alimentos para o consumo humano, permite aos estabelecimentos e serviços de alimentação a doação de alimentos. Desse modo, empresas do setor de alimentos podem adotar iniciativas de combate às perdas e ao desperdício de alimentos, redirecionando os excedentes a quem precisa.
Terceiro setor
Os cidadãos também são personagens importantes para uma mudança de cenário. Isso porque, por meio da criação de Organizações da Sociedade Civil e similares, também contribuem para o paradoxo que é a fome e o desperdício de alimentos. Além disso, como sujeitos individuais, é preciso ter consciência quanto ao excesso de consumo. Atualmente, existem diversas instituições que arrecadam alimentos para doações, como os Bancos de Alimentos Públicos e Privados, além de inúmeras instituições sociais.