Acompanhar a velocidade das transformações digitais e de outras mudanças são os principais desafios atuais para 89% das companhias brasileiras; especialistas debatem pontos relevantes e principais falhas de lideranças ao tentar implementar produtos digitais nas organizações
A digitalização segue em alta no país. As companhias brasileiras ampliaram em 68% os recursos destinados à análise de dados, automação de processos e tecnologia para apoiar a detecção e o monitoramento de riscos, segundo pesquisa realizada pela PwC, com 3,5 mil líderes globais, incluindo o Brasil.
Ainda de acordo com o levantamento, para 89% das empresas brasileiras, ao pensar em gestão de riscos, os principais desafios atuais são acompanhar a velocidade das transformações digitais e de outras mudanças.
Mesmo diante de um boom da digitalização nos últimos anos, nem todas as organizações estão preparadas para este processo. Um tema muito debatido no ambiente de negócios, por exemplo, é o produto digital. Recentemente, os especialistas Érica Briones, Product Director na minu.co; Mariana Zaparolli, Agile Expert e Agile Practice Local Leader na Bain & Company; e Victor Hugo Germano, CEO da Lambda3, debateram tópicos sobre produtos digitais em um podcast.
Confira abaixo as 4 principais falhas das organizações e lideranças ao tentar implementar produtos digitais nas estratégias do negócio.
Não compreender o que é transformação digital
Segundo Mariana Zaparolli, ultimamente tem sido comum falar sobre transformação digital, mas quando as pessoas de cargos executivos são questionadas sobre “o que é a transformação digital da sua organização?”, a resposta não é imediata e ainda vem carregada de dúvidas. “É muito fácil confundir a digitalização de algum processo ou a entrada de algum canal digital com a necessidade de se ter um app ou um site, que são canais que podem representar o mundo digital, mas que nem sempre vão abranger a completude dos negócios. Tem muitos canais em que a parte física se fará presente, mas eles não representam a totalidade do que é uma mentalidade digital”, pontua a especialista da Bain & Company.
Confundir Sales Led e Product Led
Estamos vivendo cada vez mais num mundo tecnológico. Portanto, ao invés de falar somente sobre a implementação de produtos digitais, é mais importante entender como a tecnologia pode favorecer o negócio em um amplo espectro de alternativas, desde o processo produtivo até eventualmente a criação de um canal ou entregar valor por meio de um app. “Dentro das organizações, ainda há dificuldades para entender a distinção entre uma organização Sales Led e uma Product Led. Em muitas empresas, sempre tem uma parte da equação atuando que tem muito mais força e ela, eventualmente, consegue levar a companhia para alguns lugares em que o consumidor final não a levaria. E é muito fácil perder de vista o cliente que está diluído numa grande massa. Então, a maior dificuldade encontrada ultimamente é como conseguir dar voz e tornar mais tangível esse consumidor final para o qual é preciso entregar valor”, observa Érica Briones.
Criação de app para resolução dos problemas
Para Victor Hugo Germano, o produto digital é uma solução que serve para um objetivo de estratégia de uma organização. “É para quem deseja se conectar mais com os clientes para responder rapidamente às mudanças e estar mais alinhado com o mercado em alta evolução. Assim, usar tecnologia, negócios e experiência do usuário para construir um produto – que é a solução -, irá viabilizar às organizações um maior alcance. É importante compreender a questão da informação para não cometer o erro de acreditar que basta criar um app para que ele resolva os problemas. Um direcionamento de Digital é de estratégia e não de solução. Quando dialogamos com clientes e parceiros de negócios, sempre buscamos agregar esse direcionamento estratégico para indicarmos qual a melhor solução desde o início do processo de transformação digital e inovação”, explica o CEO da Lambda3.
Lideranças envolvidas demais com produtos digitais
Antes mesmo de pensar em produtos digitais, as pessoas em cargos executivos devem estar à frente de questões relacionadas à resolução de problemas de seus clientes. “No mundo digital, fazer isso por meio de produtos digitais é um caminho relevante, mas é preciso tomar cuidado, pois as lideranças executivas deveriam pensar mais sobre onde a organização quer chegar e qual é a rota que levará a empresa até o objetivo final, e menos em quais são os produtos, funcionalidades ou canais que precisam ser feitos”, indica Zaparolli.
Para ela, isso não significa que os times precisam abrir mão da opinião de líderes. “A pessoa em um cargo executivo tem experiência e não chegou por acaso ao cargo. A questão é que geralmente essa experiência se torna uma decisão e acaba descredibilizando outros instrumentos, como uma pesquisa ou uma captura ou a própria voz do cliente. É aí que está o modo de falha. Portanto, a opinião das lideranças não deve ser descartada, mas, pode ser enquadrada como um insumo de um mecanismo de decisão que seja coerente e orientado a dados ou à necessidade do cliente”, complementa.