Empresários adotam tecnologia para usar água durante seca

Necessária para a maioria dos negócios, a água tem se tornado um insumo cada vez mais escasso, sobretudo na região do semiárido nordestino, que atravessa longo período de estiagem. Mas, com a orientação do Sebrae no Rio Grande do Norte, empreendedores potiguares têm encontrado alternativas para manter a viabilidade dos negócios aproveitando com eficiência os recursos naturais disponíveis. São medidas que aliam inovação tecnológica, responsabilidade ambiental e uso eficiente da água. Isso representa uma solução principalmente para atividades ligadas aos setores de serviço e do agronegócio, em que esse recurso é indispensável para o funcionamento do negócio.

A saída para donos de lava-rápido tem sido a implantação do sistema de reaproveitamento. Foi o que fez o Microemprendedor Individual (MEI) Cícero Cosme da Silva, proprietário do Posto de Lavagem Cinco Estrelas, localizado no Bairro Santo Antônio, em Mossoró. Formalizado há mais de dois anos, o MEI implantou um sistema de reaproveitamento de água com cinco caixas, pelas quais a água utilizada na lavagem é tratada e separada do óleo para voltar a ser reutilizada. “Consegui uma redução de 50% do consumo de água com essa medida. Além disso, tenho um sistema de coleta de água da chuva que, no inverno, chega a abastecer o negócio por uma semana”, destaca Cícero Silva. O lema principal é evitar o desperdício.

Esse é o começo para aumentar a competitividade e manter o negócio sustentável do ponto de vista ambiental e financeiro. Foi assim com o engenheiro mecânico Rafael Lazarini Yabe e o biólogo Luiz Guilherme Marin de Sá, que abriram, em janeiro deste ano, uma franquia de limpeza e estética automotiva sustentável na principal cidade do Oeste Potiguar. Denominada AcquaZero, a marca já está consolidada no mercado e tem como diferencial a lavagem ecológica com apenas 300 mililitros de água.  Em cinco meses de funcionamento, a microempresa realiza uma média de 150 lavagens por mês. “Com a quantidade de água que um lava jato convencional consome na limpeza de um único veículo, nosso processo permite limpar 900 carros, com qualidade”, destaca Rafael Yabe.

A preocupação com o meio ambiente é uma constante na empresa e, por isso, são utilizados produtos biodegradáveis, que não agridem ao meio ambiente. O valor do serviço de lavagem ecológica varia de R$ 25 a R$ 50, dependendo do modelo do veículo. “Nós oferecemos uma nova forma tecnológica e sustentável de fazer a mesma coisa, que é manter o carro limpo e higienizado”. Os empresários planejam também substituir as lâmpadas fluorescentes por lâmpadas de LED. “Já utilizamos equipamentos com selo de eficiência energética, mas com o crescimento do negócio vamos estudar o uso de uma fonte de energia também sustentável, como a eólica ou solar”, estima.

De acordo com o gerente de Acesso à Inovação Tecnológica do Sebrae no estado, João Bosco Cabral da Freire, a instituição já está formatando um programa específico sobre uso eficiente de água. O intuito é difundir a cultura do desperdício zero de água entre os proprietários de micro e pequenas empresas. “Sabemos que o aumento das tarifas energéticas vem como conseqüência dos baixos níveis nos reservatórios de água do país. Por isso, por meio do Sebraetec temos orientado os empreendedores a usar tecnologia para evitar o desperdício”.

No campo

O reaproveitamento de água também é uma realidade fora dos centros urbanos das cidades. Para o agronegócio, a escassez de água tem trazido reflexos muito fortes. Por isso mesmo, quem tem esse insumo disponível no campo não deve desperdiçar. Com a ajuda do Sebrae no Rio Grande do Norte, piscicultores estão descobrindo esse lema. Pequenos criadores de peixes têm diversificado o negócio reutilizando a água dos tanques, que é fertilizada, o que faz com que além do reaproveitamento da água os criadores economizem também com adubação de outras culturas.

Esse foi o caso de Clauber Gama, piscicultor na região do Médio Oeste Potiguar. Com nove tanques de engorda, um tanque berçário e outro de estoque, o criador conta que desde o início buscou orientação do Sebrae para melhorar seu negócio. Na propriedade em Apodi, ele reutiliza a água fertilizada para irrigação de capim, que pode alimentar até 700 animais. Além disso, a água irriga também as plantações de feijão, milho, melancia e sorgo. “Consegui reduzir os custos com adubação na minha propriedade em até 40%, pois a água dos tanques de peixes é fertilizada. Essas novas técnicas foram passadas pelo Sebrae e também trouxeram eficiência no bombeamento já que as águas dos tanques são trocadas por gravidade, sem uso de energia elétrica”, explica o produtor.

No processo de reutilização das águas, a orientação é de que a mesma água destinada para irrigação seja derivada antes para tanques de piscicultura e bacias de decantação, para posteriormente ser utilizada em outras culturas. “Esse procedimento propicia a diversificação das atividades produtivas, otimização de mão de obra, insumos, energia elétrica e aumento na renda do produtor”, comenta o gestor de Piscicultura do Sebrae no Rio Grande do Norte, Renato Gouveia.

 

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