Em um galpão ao sul da cidade de San Francisco, Califórnia, está o futuro da agricultura global. É ali que a Plenty, uma startup criada em 2013 por Matt Barnard, produz alimentos 100% orgânicos em fazendas verticais cobertas que dispensam agrotóxicos, pesticidas, reduzem brutalmente a necessidade de água e a luz solar é substituída por painéis de LED.
De acordo com seu fundador, o modelo inovador de produção de frutas, verduras e legumes proposto pela Plenty é capaz de produzir 350 vezes mais do que a agricultura convencional, utilizando 1% da mesma quantidade de água necessária. Mas, além da sustentabilidade produtiva proposta pela Plenty, o objetivo é que as suas fazendas verticais de alimentos orgânicos sejam futuramente implantadas em grandes cidades, ampliando o acesso a clean foods para um amplo público consumidor e reduzindo perdas e custos logísticos.
Um mercado que tende a se tornar cada vez mais sensível, com a contínua expansão das metrópoles mundo afora e a perspectiva que a população ultrapasse os 9 bilhões de habitantes em 30 anos, segundo estimativa da FAO, órgão da ONU para alimentação. Para atender toda essa demanda, será preciso aumentar a produção de alimentos em 70% – a tecnologia tem feito a sua parte e, ao longo dos últimos 50 anos, ajudou a ampliar a capacidade produtiva no campo em pelo menos 2,5 vezes.
A perspectiva – e os resultados já obtidos – fizeram a Plenty receber em julho do ano passado o maior volume de investimentos de uma startup da área de agronegócios no mundo: US$ 220 milhões, com recursos de diversos fundos de capital de risco e investidores como Jeff Bezos, fundador da Amazon e hoje o homem mais rico do planeta.
Capitalizada, a startup está construindo agora uma nova fazenda vertical na cidade de Kent, próxima a Seattle (EUA) com 100 mil metros quadrados, onde vai produzir alimentos frescos e livres de qualquer herbicidas, fertilizantes sintéticos e transgênicos que vão abastecer a capital do estado de Washington e também o mercado de Vancouver, no vizinho Canadá. A cidade escolhida pela Plenty é a terra natal de seu fundador, um ex-investidor do mercado de private equity que se uniu ao engenheiro agrônomo Nate Storey, atual CTO da empresa e que estudou o cultivo de alimentos em torres em sua tese de doutorado. Uma das mais recentes “aquisições” da empresa é o diretor de Operações e Desenvolvimento, Kurt Kelly, ex-diretor de Tecnologia de Baterias da Tesla (desenvolvedora de carros elétricos e do programa Space X, que pretende colonizar Marte).
O objetivo da empresa é construir uma fazenda coberta fora de todas as cidades do mundo com mais de 1 milhão de habitantes – são cerca de 500. Segundo Barnard, é possível construir uma fazenda em 30 dias e pagar os investidores de volta em um prazo de três a cinco anos – em fazendas tradicionais o retorno do investimento se dá entre 20 e 40 anos.
A abundância das frutas, legumes e verduras produzidas nas fazendas verticais da Plenty cresce em torres de 20 pés de altura dentro de uma instalação climatizada com luzes LED. O sistema usa milhares de câmeras de infravermelho e sensores para coletar dados nas fazendas, que são analisadas usando aprendizado de máquina para otimizar como as plantas crescem. O grosso da produção da startup hoje são folhas verdes e ervas (variedades de alface, couve, mostarda e manjericão), além de morangos e pepinos, mas a perspectiva é usar o sistema para cultivar qualquer coisa, com exceção de vegetais de raiz e frutas de árvores.
A empresa afirma que sua produção tem um gosto melhor do que a maioria dos similares disponíveis ao público nos EUA. Cerca de 35% das frutas e vegetais consumidos no país são importados e percorrem em média mais de 3 mil quilômetros para chegar ao consumidor final. Segundo estimativas, 45% do valor nutricional se perde ao longo do caminho – o produto é desenvolvido para chegar intacto ao fim dessa viagem mas muitas vezes o sabor se perde.
Para quem acompanha o setor das agrotechs no Vale do Silício, a expectativa é que a Plenty receba investimentos ainda maiores nos próximos anos à medida que seus planos e produtos orgânicos certificados vão sendo distribuídos nos EUA e Canadá. A startup está apenas na segunda rodada de venture capital (series B) e a chancela de grandes investidores – como a de Bezos – pode acelerar a perspectiva de termos fazendas verticais em metrópoles do planeta.
Com cada vez menos custos logísticos, uso de fertilizantes sintéticos e herbicidas, o meio ambiente – e milhões de consumidores – tem muito a agradecer.