A concorrência não é mais da multinacional instalada ao lado, mas sim de um cara numa garagem no Vale do Silício, em Israel ou em Bandra (Mumbai) que utiliza num laptop ou num celular ferramentas online na nuvem (sem software ou outro equipamento físico no local) e cria um produto ou serviço inovador, desruptivo e de crescimento exponencial.
Essa é a percepção do diretor de inovação da TOTVS, Juliano Seabra, que também dirige o iDEXO, instituto da empresa com o objetivo de estimular o empreendedorismo inovador e exponencial. Seabra assumiu a difícil missão de trazer novos ares de inovação e criar novos músculos para fortalecer a TOTVS, que é líder na América Latina na produção de softwares de gestão, plataforma de produtividade e colaboração, além da produção de equipamentos e consultoria. “Queremos criar um verdadeiro ninho de startups dentro da TOTVS. Assim, ao mesmo tempo, vamos criar novas soluções internas e também dar um gás para que cada startups busque novos mercados, novos clientes, de preferência com outras empresas parceiras da TOTVS, que tenha capacidade de crescimento rápido, que seja exponencial” afirma.
A TOTVS reservou praticamente um andar inteiro na sua sede principal em São Paulo para abrigar novas empresas exponenciais. São as empresas exponenciais, observa Seabra, que já dominam diferentes mercados e desafiam tradicionais indústrias, em todo o mundo. “Empresas como a Waze, Netflix, Airbnb e Uber mostram que este é o melhor caminho para empreender, para o surgimento de novos empreendedores, inovadores, criativos. Isso é muito positivo”, avalia o diretor da TOTVS.
Administradas a partir de novos conceitos, as empresas exponenciais têm como característica principal, segundo Seabra, serem 10 vezes melhores, mais rápidas e mais baratas do que as tradicionais. “Esta diferença pode ser explicada por serem empresas baseadas em tecnologias da informação e que usam dados disponíveis no mercado como vantagem competitiva, além de serem mais flexíveis e velozes”.
Seabra reconhece que embora as empresas com capacidade de crescimento exponencial tenham um perfil adequado ao mundo atual, elas ainda são em número pequeno no mundo e, em especial, no Brasil. “Não é mais possível uma empresa inovar de forma fechada em seus muros. Essa nova economia chama todos para compartilhar conhecimentos e que o processo de criação seja de forma conjunta. Mais que ter uma missão única, colada na parede, a iniciativa que quer crescer exponencial precisa ter um propósito transformador massivo, ou seja, ganhar escala de desenvolvimento nunca antes imaginado”.
Estimular e fortalecer empresas com capacidade de crescimento exponencial é o principal propósito do iDEXO que atua como uma plataforma de geração de negócios entre empreendedores, startups e empresas de mercado em geral. “Criamos um ecossistema que permite transformar ideias em negócios exponenciais. Se uma empresa tem uma dor específica, podemos trabalhar em conjunto com as melhores cabeças empreendedoras e criativas para resolver, com uso da tecnologia, um problema que talvez não seja só de um cliente, mas de todo um segmento de mercado”.
O instituto da TOTVS conta, no momento, com 13 startups. Pretende chegar a 50 até o final deste ano. Para Seabra, as grandes empresas precisam perder o medo dos novos empreendedores, das startups, por acharem que eles ameaçam seus negócios. “Vamos nos conectar, trazer soluções conjuntas e gerar oportunidades para todos”, recomenda.
A Softplan, uma das maiores empresas do país na produção de software de gestão (áreas jurídica, pública e de construção), ilustra bem a possível convivência entre as grandes organizações e as startups. Num dos principais corredores da empresa está um painel bem visível, que mostra um dinossauro e um unicórnio (figura que lembra as startups de sucesso) com um coração entre os dois.
Dentro da empresa hoje trabalham três startups que buscam soluções para a própria Softplan e para outras empresas ou instituições. É o caso da WeGov que trabalha em busca de novas soluções para as empresas públicas do país.
O diretor e um dos fundadores da Softplan, Moacir Marafon, explica que essa parceria da empresa e das startups é muito salutar. “Nós apreendemos com eles e eles apreendem com a nossa experiência em gestão e de conquistas de mercado”.
RUPTURA
Nos negócios atuais, principalmente entre os empreendedores envolvidos com startups, de base tecnológica e inovadoras, a melhor empresa do mundo hoje é a que é administrada até de longe, sem ninguém colocar diretamente a mão na massa, que não necessite de grandes ativos (indústrias, aviões, caminhões), que troque o conceito de “ter” ou “possuir” pelo “usar” e que ao mesmo tempo seja uma empresa de produtos e serviços replicáveis, de rápido crescimento, na forma exponencial.
Essa “ruptura”, para utilizar uma palavra bem atual, já começou e tende a se aprofundar nos próximos anos. É a completa ruptura de empresas, produtos e serviços tradicionais, líderes de mercados mundiais. O lançamento do iPhone, em junho de 2007, comandado pelo visionário Steve Jobs da Apple, é um exemplo icônico. Esse verdadeiro objeto do desejo de milhares de pessoas pelo mundo afora, que se tornou uma espécie de extensão da mão, destruiu empresas mundiais que dominavam o GPS e as câmeras fotográficas. Tirou do mapa empresas extremamente bem sucedidas, como a Nokia, e revolucionou a indústria de software com os apps que permitiram a criação de novos negócios desruptivos como a Uber e o Airbnb.
Sobre o lado das organizações tradicionais, líderes de mercado, convém jogar um pouco de luz sobre o caso da Nokia, tipo da empresa que não conseguiu enxergar as rápidas mudanças de mercado. Dois meses depois do lançamento do iPhone, em 2007, comprou a Navteq, empresa de navegação por mapas que trabalha baseada na coleta de dados por sensores. Pagou por essa compra UR$ 8 bilhões. A intenção da Nokia era se fortalecer contra o crescimento da Apple e do Google Maps. Nesse mesmo instante, surgiu em Israel uma empresa chamada Waze que usava cada pessoa e os smartphones como sensores. Assim, a Waze, por não depender de sensores físicos, podia crescer de forma exponencial, sem ser intensiva de capital, como era a Naveteq. Em 2013, o Google comprou a Wase por US$ 11 bilhões. Já do lado da Nokia, o seu valor de mercado caiu de US$ 140 bilhões para US$ 8 bilhões, por uma coincidência terrível, o mesmo valor que comprou a Naveteq.
EMPRESAS TRADICIONAIS
Conceito: A empresa tradicional atua em mercados pré-estabelecidos, com a quantidade de produtos e serviços definidos, assegurando a entrega com qualidade e no prazo combinado. A entrega de uma maior quantidade de produto ou serviço depende da sua estrutura empresarial.
Estrutura: Complexa, grandiosa. Muitas dependem de grandes parques industriais com processos geridos 24 horas por dia. A distribuição de produtos depende também de uma logística complexa, com caminhões que rodam todo o país.
Equipe: Todo o processo industrial e de comercialização depende de um grande número de empregados, que precisam ser registrados, com todos os encargos sociais. Isso obriga muitas empresas a demitir e a contratar seguidamente, devido a fatores econômicos e políticos, com elevados custos.
Gestão: A gestão numa empresa tradicional é centralizada, com hierarquias bem definidas. Funciona com um presidente, diretores, gerentes. Cada um fica responsável por determinado departamento ou produção, muitas vezes ainda sem utilizar os recursos de base tecnológica e inovadores.
Resultados: Numa empresa tradicional, que não utiliza os recursos tecnológicos, o resultado é acompanhado pelo balanço mensal ou mesmo anual. Por depender de decisões, que geralmente são lentas, o resultado financeiro de muitas delas fica comprometido.
EMPRESAS EXPONENCIAIS
Conceito: A empresa exponencial é disruptiva, isto é, tem capacidade de revolucionar, mudar uma indústria inteira ou a forma de comercializar por completo de um produto ou serviço, numa região, num país ou no mundo inteiro.
Estrutura: Utiliza os recursos disponíveis, sem precisar de parque industrial, imóveis, veículos ou equipamentos. Se tem necessidade de algum bem, aluga, com valor definido.
Equipe: Enxuta. Ao utilizar diferentes ferramentas de base tecnológica, as empresas exponenciais empregam muito menos pessoas. Na maioria das vezes, os profissionais, parceiros comerciais e clientes necessitam apenas de um computador, laptop ou um celular.
Gestão: Numa empresa exponencial, a gestão é descentralizada, sem hierarquia e o risco é aceitável e mesmo incentivado. Todos trabalham com mais liberdade para criar, encontrar as melhores soluções dentro e fora da empresa. Os horários são mais flexíveis.
Resultados: O acompanhamento dos resultados numa empresa exponencial é diário. Os recursos tecnológicos disponíveis que utilizam permite acompanhar as vendas e os fechamentos de negócios de forma online.
COMO SER UM BILIONÁRIO
A Peter Diamandis, cofundador da Singularity University da Holanda, focada na formação empreendedora com base na inovação tecnológica, faz uma pergunta provocativa e ele mesmo responde:
– Quer ser um empreendedor bilionário? Então resolva o problema de um bilhão de pessoas.
Hoje são milhares de problemas espalhados pelo mundo inteiro que precisam de soluções urgentes por parte de empreendedores, privados ou públicos. Vale citar três atuais problemas/soluções pelo menos:
• Nada menos de 3 bilhões de pessoas vivem com menos de US$ 2,5 por dia.
• Um terço de toda comida produzida no mundo é desperdiçada, ou seja, 1,3 bilhão de toneladas por ano.
• O HIV é a maior causa de morte de mulheres em idade reprodutiva no mundo.
AS LIÇÕES DE CASA PARA AS EMPRESAS TRADICIONAIS
As novas tecnologias que surgem a cada dia – nanotecnologia (produtos feitos a partir de átomos), machine learning (máquinas inteligentes), inteligência artificial, blockchain (blocos de validação de transações financeiras), robôs – mudam não somente as formas tradicionais de emprego, mas a própria estrutura de cada empresa.
Yuri van Geest é coautor do livro Organizações Exponenciais, junto com outros dois professores da Singulary University, da Holanda (Salin Ismail e Michael Malone). Em seus trabalhos e palestras, van Guest aponta para as empresas os caminhos que levam a escala nos negócios, lucro e relevância. A seguir as suas principais observações e ideias:
• A idade média de sobrevida comercial de um negócio caiu de 30 anos em 1984 para apenas cinco anos hoje. Por isso é preciso que as empresas passem por uma “transformação massiva de propósito”. Isso implica diminuir hierarquias, criar pequenos grupos de trabalho e se posicionar em todas as suas estruturas de forma flexível. É preciso estar conectada e aberta com a comunidade e com os parceiros. As empresas que não conversarem entre si, não conseguirão inovar e usar a seu favor as benesses que todas novas tecnologias podem gerar.
• Cada empresa tem que estar aberta ao risco. Esse risco tem que se transformar em resultados, não apenas em acúmulo de falhas.
• Cada empresa tem que fazer um feedback, mas um feedback diferente do que normalmente se faz hoje. Esse feedback tem que ser rotativo, constante, regular e não hierárquico.
• A área financeira de uma empresa hoje normalmente trabalha de forma horizontal. Reporta números e estima gastos. O diretor financeiro precisa estar próximo, por exemplo, do diretor de marketing. Precisa conhecer todos os projetos de produtos, serviços e marketing.
• Toda empresa se tornará uma empresa de software. O software já está alimentado todos os setores. E a inteligência artificial irá alimentar todos os softwares. Essa intensa transformação irá impactar diretamente empregos. Oitenta por cento dos empregos que existem hoje não existirão daqui a 20 anos. É preciso, portanto, mudar a forma como indicadores de desempenho existem e adaptar sua empresa a novas realidades.
• Toda empresa precisa estar dividida em duas áreas principais para trabalhar de forma harmônica. A primeira é aquela área mais fácil de identificar, medir resultados e que pode ser influenciada diretamente pela estratégia, estrutura organizacional e sistemas. A segunda é aquela área mais difícil de descrever, menos tangível e mais influenciada pela cultura da empresa, como habilidades, estilo de gestão e funcionários.
• Não ignore os millennials (geração Y, geração do milênio). Eles têm uma forma diferente de dar valor ao trabalho. Emprego para eles é vida, arte, propósito, significado. Mas eles exigem flexibilidade, querem pensar de dentro para fora e de fora para dentro. Eles requerem que as organizações se movam, mudem rápido, migrem totalmente se for preciso.
OS 6 VERBOS DOS NEGÓCIOS EXPONENCIAIS COMEÇAM COM D
Digitalizar – Todos os novos negócios têm como base a digitalização, através de computadores, tablets ou celulares.
Dissimular – Pouco perceptíveis, de forma quase invisíveis e dissimulados são características dos negócios exponenciais.
Disruptivar – A solução de um problema ou necessidade de forma diferente, abrangente, de escala e baixo custo.
Desmaterizar – A utilização de materiais jamais utilizados, de forma mais racional e eficiente.
Desmonetizar – Um jeito completamente novo de realizar o pagamento na compra ou venda de diferentes produtos e serviços.
Democratizar – Produtos e serviços com valores e condições de chegar de forma rápida ao maior número de pessoas.