Por Fernando Nunes, cofundador e CEO na Transfeera*
O movimento global de Open Data, ou dados abertos na tradução livre, visa garantir o acesso livre e transparente aos dados públicos, permitindo que cidadãos, empresas e organizações possam utilizá-los para criar soluções inovadoras. No Brasil, a adesão a essa tendência ainda enfrenta desafios, mas também se configura como uma grande oportunidade para o avanço de diversas áreas, principalmente no sistema financeiro, com o surgimento do Open Finance.
Open Data são informações que estão disponíveis publicamente para serem acessadas, utilizadas, compartilhadas e redistribuídas sem restrições legais ou técnicas. Para que um dado seja considerado aberto, ele precisa ser apresentado em formatos que permitam a análise e a reutilização por qualquer interessado. Essa iniciativa tem o potencial de transformar a relação entre governos, empresas e cidadãos, promovendo mais transparência e eficiência nos serviços públicos, além de estimular a inovação no setor privado.
No Brasil, o movimento de Open Data começou a ganhar mais força a partir de 2012, quando o Governo Federal implementou o Portal Brasileiro de Dados Abertos, uma plataforma online que reúne dados de diversas esferas do governo, como informações sobre orçamento, educação, saúde e segurança pública. Adicionalmente, em 2026 foi criada a Política de Dados Abertos do Poder Executivo Federal, por meio do Decreto nº 8.777, que estabelece as normas para abertura de dados governamentais. Para que o uso desses dados se torne uma ferramenta estratégica e realmente impacte a sociedade, é necessário que a cultura do Open Data seja consolidada no Brasil, tanto no governo quanto no setor privado.
Embora o Brasil tenha feito progressos importantes, ainda existem desafios significativos que precisam ser superados. Um dos maiores obstáculos é a falta de padronização e qualidade dos dados. Muitos conjuntos de dados estão disponíveis, mas não seguem um formato consistente e facilmente utilizável, o que dificulta a análise e o uso por parte de empreendedores, desenvolvedores e cidadãos. Além disso, uma grande parte desses dados está desatualizada, o que compromete a confiabilidade das informações.
Outro desafio importante é a segurança e a privacidade. O Brasil possui uma legislação robusta em relação à proteção de dados pessoais, com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrou em vigor em 2020. Essa Lei estabelece regras sobre como os dados pessoais devem ser tratados, protegidos e compartilhados. No entanto, o uso de dados abertos por parte de empresas e outras organizações pode gerar preocupações sobre a privacidade e o risco de vazamento de informações sensíveis. A garantia de que os dados abertos respeitem os direitos dos indivíduos é essencial para o sucesso dessa iniciativa.
Por fim, outro desafio relevante é a falta de capacitação. Para aproveitar os benefícios dos dados abertos, é necessário que haja uma formação contínua de profissionais capazes de analisar, interpretar e transformar esses dados em soluções inovadoras. A construção de uma infraestrutura de educação e capacitação digital é fundamental para que o Brasil possa utilizar plenamente o potencial do Open Data.
Apesar dos desafios, as oportunidades para o Brasil são imensas. O Open Data pode ser uma ferramenta poderosa para a inovação e o desenvolvimento econômico. Empresas podem usar os dados abertos para criar novos produtos, serviços e soluções que atendam às necessidades da sociedade. Startups podem aproveitar essas informações para desenvolver aplicativos e tecnologias que melhorem a vida dos cidadãos e tragam novas perspectivas para a gestão pública.
No setor financeiro, o Open Data se conecta diretamente com o conceito de Open Finance, uma extensão do Open Banking. O Open Finance permite que dados financeiros dos consumidores, como informações bancárias, investimentos e seguros, sejam compartilhados de forma segura e controlada com outras instituições financeiras. Essa prática visa aumentar a concorrência, melhorar a oferta de produtos e serviços financeiros e, principalmente, promover a inclusão financeira.
O Banco Central do Brasil iniciou a implementação do Open Banking em 2021, com o objetivo de aumentar a concorrência no setor bancário e permitir que os consumidores tivessem mais controle sobre seus dados financeiros. A iniciativa foi gradualmente expandida para incluir o Open Finance, que engloba um espectro mais amplo de produtos e serviços financeiros, como seguros e investimentos.
Segundo dados do Banco Central, cerca de 50 milhões de brasileiros já estão utilizando algum dos serviços fornecidos pelo Open Banking. A implementação desse modelo tem o potencial de transformar o sistema financeiro brasileiro, permitindo que os consumidores tenham acesso a uma gama mais ampla de serviços financeiros personalizados, com custos mais baixos e melhores condições de crédito. Além disso, ao compartilhar dados de forma segura entre instituições, o Open Finance estimula a inovação no setor, criando novas oportunidades para fintechs e empresas de tecnologia financeira.
A combinação de Open Data e Open Finance pode criar um ambiente propício para o desenvolvimento de soluções inovadoras que atendam às necessidades dos consumidores brasileiros, principalmente os que ainda não têm acesso a serviços bancários tradicionais.
O Open Data, combinado com iniciativas como o Open Finance, representa uma oportunidade única para o Brasil se tornar mais transparente, competitivo e inclusivo. O sistema financeiro brasileiro pode se beneficiar enormemente dessa transformação, com o aumento da concorrência, a melhoria dos serviços e a inclusão de milhões de brasileiros no sistema financeiro formal. Mesmo assim, é preciso que haja uma colaboração entre governo, setor privado e sociedade para que esses desafios sejam enfrentados e as oportunidades sejam plenamente aproveitadas.
*Fernando Nunes é cofundador e CEO da Transfeera, fintech que fornece infraestrutura de pagamento instantâneo para empresas. Ele possui mais de 15 anos de experiência em comunicação digital, atuando na Sapient AG2, A2C e na ContaAzul. Estruturou as áreas de Marketing, Vendas e Customer Experience da Transfeera. Como CEO, lidera a empresa estrategicamente para escala.