Com a descoberta de uma nova técnica de organização de moléculas de DNA coletadas de amostras, por exemplo, de ambientes hospitalares, os doutores em genética e biologia molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Marcos Oliveira de Carvalho e Luiz Felipe Valter Oliveira começaram o desenvolvimento de uma análise microbiótica em larga escala que permite identificar todos os microorganismos presentes em cada amostra recolhida no ambiente.
A técnica permite a análise de, no mínimo, 48 e o máximo de 512 amostras por vez, mas em breve poderão ser analisadas 1.024 por vez, com o resultado em cinco dias. Quando as amostras coletadas pela Neoprospecta chegam ao laboratório, os microorganismos estão misturados, e o DNA também, explica Carvalho. Então, eles aplicam um método de preparação molecular que permite a visualização de todos os elementos na análise computacional. Cada amostra é capaz de identificar centenas de microorganismos, pois no processo o sinal molecular deles é amplificado exponencialmente.
O método se apresenta superior ao tradicional para analisar bactérias, feito por meio de cultura. “Ela tem que crescer e se multiplicar para ser vista, mas nem todas crescem nas condições oferecidas. E mesmo esta coleta e cultura devem ser repetidas para se confirmar o resultado, o que necessita mais tempo e gastos”, aponta o diretor-presidente da Neoprospecta, Marcos Oliveira de Carvalho.
Outro grande diferencial da nova análise é a organização dos resultados em um software – também criado por eles – que possibilita o arquivamento dos dados de maneira dinâmica. São gerados gráficos que pontuam as zonas infectadas diretamente na planta do hospital ou que rastreiam a contaminação, se ela foi do ponto A para o B, entre outras informações.
O resultado é a redução de custo para os clientes, diz o diretor. “Temos o melhor preço do mundo. Existem outras duas importantes empresas que realizam análises microbióticas pelo DNA, a Ubiome, dos Estados Unidos, e a Enterome, da França, mas estas analisam mais os microorganismos que estão no paciente e não no meio ambiente”, explica. Ele compara que enquanto nos Estados Unidos o custo pode ser de 300 dólares por análise; no Brasil, pela Neoprospecta, ele cai para 80 dólares.
Carvalho afirma que a aplicação da análise de microorganismos no hospital, de forma contínua e constante, pode até zerar os casos de infecção de um estabelecimento de saúde. “Isso é muito importante quando consideramos que 100 mil pessoas morrem todo ano no Brasil por infecção hospitalar, o dobro do número de mortes no trânsito. Falta conscientização do problema. Já encontramos UTIs com até 50% de pessoas contaminadas, e corremos o risco de estes microorganismos se tornarem resistentes a antibióticos e se transformarem nas chamadas superbactérias.”
Hoje, em total operação, a empresa já está atendendo a hospitais, mas não revela faturamento. Marcelo afirma que todo o investimento é em inovação. “Temos apenas uma patente nacional do método molecular de análise chamado qd-DCR. Fizemos a escolha de manter grande parte de nosso conhecimento como segredo industrial, porque para patentear teria que descrever partes importantes da tecnologia, e isso poderia dar vantagens a eventuais concorrentes”, acrescenta.
A Neoprospecta foi criada em 2010 pelos então colegas de doutorado. A decisão de serem empreendedores surgiu após um evento organizado por eles na UFRGS. Semanas depois, inscreveram-se no Prêmio Santander de Empreendedorismo e venceram, recebendo R$ 50 mil e um curso de empreendedorismo nos Estados Unidos. Foi quando alugaram uma sala e começaram a empresa.
Na metade de 2011, receberam o Prêmio Iberoamericano de Inovação e Empreendedorismo, o que gerou a parceria com um laboratório suíço que trabalha com tecnologia de ponta em sequenciamento de DNA em larga escala. Ano passado, um investidor anjo concedeu R$ 400 mil e, recentemente, conquistaram o investimento de R$ 4 milhões do fundo Cventures Primus.
Os sócios utilizaram estes aportes para transferir a sede de Porto Alegre para Florianópolis e contrataram a primeira pesquisadora e o primeiro programador de software. De lá pra cá, validaram o modelo de negócio, construíram seis laboratórios, adquiriram o sequenciador de DNA, e contam com uma equipe formada por seis doutores e dois mestres entre os 14 funcionários.