Inteligência artificial, internet das coisas, robótica, machine learning. Estes termos que até pouco tempo pareciam ter saído direto de um filme de ficção científica, já são realidade em grandes organizações que estão se adaptando à Indústria 4.0.
O problema é que esse processo ainda parece muito distante para grande parte dos pequenos e médios players desse mercado no Brasil. O que alguns ainda desconsideram, no entanto, é que a transformação digital veio para ficar e mesmo que seus aspectos mais avançados não possam ser aplicados imediatamente, já é possível investir nesse novo conceito e alcançar resultados reais.
Nesse sentido, uma das principais frentes dessa transformação, inclusive ao alcance das indústrias menores, é a digitalização e automatização dos processos de venda e distribuição dos produtos. Cada vez mais nomes desse mercado têm percebido que é possível enxugar essa cadeia e atingir o consumidor final diretamente, seja em um modelo híbrido de vendas B2B e B2C ou seja por meio da venda direta para a ponta dessa relação.
Talvez a crise econômica recente tenha sido um dos principais propulsores para essa crescente mudança. Diante da escassez do mercado, a indústria passou a buscar novos canais para vender os seus produtos e, no meio disso, descobriu que a venda direta para o consumidor final é tão ou mais vantajosa do que as intermediações que estava acostumada.
O e-commerce B2B e B2B+B2C permitem, hoje, uma série de possibilidades, que vão desde a completa integração de sistemas e o cálculo facilitado de impostos, um dos pontos de maior atenção para a indústria, até a melhor calibração da previsibilidade de vendas, possibilitando maior giro de estoque e uma produção enxuta que atue segundo a demanda real.
Um dos pontos principais para alcançar isso, é uma plataforma de e-commerce especializada nesse tipo de vendas, na qual seja possível implementar processos como a gestão de portfólio diferenciado por perfil de clientes, faixas de preço customizáveis e personalização a partir do histórico de compras.
Mas é preciso atenção: adequar-se à Indústria 4.0 e às novas exigências de um mercado cada vez mais digital não se resume à criação de apenas mais um canal de vendas. Trata-se de uma mudança de mentalidade e estratégia que permeia todos os aspectos da empresa e que deve estar em constante atualização.
Um dos melhores exemplos nesse sentido é o que aconteceu com O Boticário. A partir de um desejo de uma experiência mais simples, integrada e digital, a empresa conseguiu um feito raro: produção, distribuição e comercialização (varejo, franquias e e-commerce) funcionam como um só organismo, transitando entre esses diferentes meios de maneira imperceptível para o consumidor. É, portanto, a expressão máxima do significado de omnichannel a partir da adequação de um novo cenário da indústria e comercialização.
Hoje, o grupo reúne as principais marcas do segmento de perfumaria e cosméticos no país e tem total independência no controle de todos os pontos da produção e jornada de compra. O resultado disso é o top of mind no segmento e uma legião de clientes fiéis aos seus produtos.
No entanto, a mensagem principal disso é que não é preciso ser um gigante como O Boticário para conseguir melhores resultados a partir da transformação digital. O primeiro passo começa a partir de um comprometimento real com a modernização dos processos e o entendimento de que a Indústria 4.0 saiu dos livros teóricos e já virou realidade. Infelizmente, quem não se adaptar, vai acabar ficando na história ao lado das máquinas à vapor e dos primeiros adventos das revoluções, que já ficaram há muito tempo para trás.
*Tiago Girelli é diretor da divisão corporativa da Tray, unidade de e-commerce da Locaweb.