O cenário econômico brasileiro não é dos melhores, muitos indicadores apontam para panoramas negativos em diversos mercados. Em Santa Catarina, onde funciona um dos maiores polos têxteis do País, as percepções não são diferentes. De acordo com uma pesquisa realizada pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC), a confiança do empresário catarinense na economia atingiu, em janeiro de 2015, o menor índice desde 1999, ficando em 43,1 pontos. A média histórica do indicador é de 55,9 pontos.
A elevação dos juros, a insegurança quanto ao fornecimento de energia e as últimas medidas anunciadas pelo Governo Federal, aumentando impostos, contribuiu para a percepção negativa dos empresários da indústria. Apesar disso, a maioria dos industriais catarinenses não desanimam e seguem com otimismo para enfrentar mais esse desafio. A Malwee, uma das maiores indústrias têxteis do Brasil, por exemplo, aposta em criar oportunidades em meio às dificuldades.
Na análise de Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (Sintex), a indústria têxtil do Brasil enfrenta a mesma dura realidade das indústrias em geral no País. As causas do mau desempenho são diversas, entre elas, a dificuldade para exportar por causa do problema do câmbio desvantajoso, o aumento das importações e a crise na Argentina, que figurava em um dos maiores compradores de cama, mesa e banho do Brasil.
Kuhn comenta que o PIB do ramo em 2014 deve fechar negativo ou, na melhor das hipóteses, próximo do zero e afirma ainda que o ano de 2015 será muito próximo à realidade de 2014 com indicadores de recessão, refletindo o comportamento retraído do consumidor. Para mudar essa realidade, o presidente do Sintex defende a criação de um regime tributário diferenciado para o subsetor da confecção. Kuhn enfatiza que não propõe um regime tributário diferenciado para a indústria têxtil, mas somente para a confecção. “Não há política têxtil específica para o setor em Santa Catarina. E se tivesse algum incentivo para a confecção já ajudaria muito, pois este subsetor tem que ir bem para o resto ir bem. A confecção puxa todo o setor”, destaca.
Considerando o cenário adverso para a indústria têxtil nacional, Kuhn aconselha, aos empreendedores, cautela com os compromissos financeiros e redução de investimentos para preservar o máximo possível a saúde financeira das empresas. E, ainda, acrescenta que o industrial deve ser rápido, ágil, criativo, inovador, pensar diferente e criar produtos que encantem o consumidor. Tudo isso porque, segundo Kuhn, o consumidor não está com impulso de comprar, somente vai comprar coisas que o encante. “O consumo interno se esgotou. O milagre do consumo brasileiro acabou. Então, a indústria têxtil precisa desenvolver estratégias para voltar ao mercado forte e competitiva”, analisa.
A mesma percepção tem Cláudio Grando, presidente do movimento Santa Catarina Moda e Cultura (SCMS). Para Grando, o País precisa de um ambiente para as empresas serem mais competitivas. “A complexidade de impostos e suas altas taxas, a infraestrutura fraca e as leis trabalhistas engessadas impedem que a indústria tenha fôlego, liberdade e energia para inovar e se desenvolver”, afirma Grando.
Para o presidente do grupo Malwee, Guilherme Weege, o panorama econômico do último ano foi desafiador como um todo e não somente para o setor de moda. Porém, mesmo assim, a Malwee não deixou de crescer. “Ao que tudo indica, o cenário econômico de incertezas continuará presente em 2015, entretanto, acreditamos que devemos aproveitar para criar oportunidades em meio às dificuldades”, diz Weege. Com essa ideia, o planejamento estratégico da empresa está voltado a ampliar a aproximação com os consumidores, diversificar o portfólio através não só de aquisições de marcas com forte presença no varejo, mas também com a entrada em novos segmentos por via orgânica.
O crescimento da Malwee, nos últimos tempos, também se baseou na criação de novas marcas dentro da própria empresa. Em 2014, o grupo Malwee investiu ainda em uma estratégia de expansão de lojas próprias no varejo. Assim, 2015 começou com uma perspectiva interessante com foco em uma maior expansão das franquias. Os planos para o ano, revela Weege, são investir internamente para o aumento da produtividade e da competividade da operação.
Atualmente, o grupo Malwee conta com 350 lojas, distribuídas entre as marcas Malwee, Malwee Brasileirinhos, Carinhoso, Scene, Puket, Mercatto, Enfim, Wee!, Zig Zig Zaa e Liberta. Além disso, a empresa distribui suas peças para aproximadamente 40 mil pontos de vendas multimarcas e produz mais de 75 milhões de peças por ano. O projeto de varejo da Malwee inspira-se na vontade de estar cada vez mais próximos do consumidor. “O usuário desta moda que criamos sempre foi o ponto principal da nossa estratégia, e nada melhor do que o contato direto com ele para que cada vez mais possamos entender seus hábitos, costumes e necessidades, para criarmos produtos que realmente atendam seus sonhos”, enfatiza Weege.
Para atingir esse objetivo, o grupo atende diversos públicos através do portfólio de suas 10 marcas, todas desenvolvidas internamente pelas equipes de criação e estilo. Weege acrescenta ainda que a companhia investe fortemente em pesquisa para cada vez mais surpreender os clientes com as tendências mundiais e destina recursos para que o parque fabril siga moderno e com maior capacidade produtiva.
As estratégias e ações desenvolvidas pela Malwee apenas confirmam o forte potencial da indústria têxtil, apesar dos problemas macroeconômicos do País. A criatividade e o desenvolvimento de produtos de qualidade desenvolvidos em Santa Catarina, por exemplo, são referência no Brasil e exterior. “As indústrias de Santa Catarina souberam inteligentemente se adaptar muito bem ao mundo global da exportação. Ofereceram um leque de produtos interessantes, sendo muito criativas e inovadoras”, opina Kuhn, presidente do Sintex.
Ele lembra que as indústrias têxteis catarinenses sempre tiveram seriedade no trato com os negócios, originando empresas centenárias, sérias e sólidas. As pequenas e médias empresas que começaram depois seguiram a mesma cultura empresarial. Diante disso, Kuhn afirma que os problemas que aparecem nessas indústrias são motivados mais frequentemente pelo cenário econômico brasileiro do que por problemas de gestão.