Modelos de negócio no metaverso não são apenas para grandes empresas

Pesquisa aponta que Brasil está no top 3 de países com empresas que já realizaram alguma ação no metaverso

A presença de empresas no metaverso não para de crescer, inclusive no Brasil. A pesquisa “The Metaverse At Work”, realizada pela Nokia em parceria com a consultoria Ernst & Young com 860 líderes empresariais do Brasil, EUA, Alemanha, Reino Unido, Japão e Coreia do Sul, mostra que entre os entrevistados brasileiros, 63% já realizaram ao menos um programa piloto ou implantaram um case no metaverso.
Isso coloca o País no top 3 de países que enxergam o potencial da realidade virtual para os negócios, atrás apenas dos Estados Unidos com 65% e Reino Unido com 64%. O levantamento foi realizado com líderes dentro de empresas dos setores automotivo, bens industriais e manufatura, transporte, cadeia de suprimentos e logística, e energia e serviços públicos.

O metaverso pode alcançar o valor de US 5 trilhões até 2030, segundo relatório da consultoria McKinsey. Mas será que esse é um modelo de negócio possível exclusivamente para grandes companhias?

O professor de MBA da FGV, Kenneth Corrêa, especialista em novas tecnologias, inteligência artificial e metaverso, afirma que há espaço para todos. “Temos que dividir o cenário: é claro que as grandes empresas, as big techs (Meta, Apple, Google) contam com um outro porte de investimento e também de objetivos de negócios, então fazem investimentos bilionários para criar as tecnologias que serão utilizadas por bilhões de pessoas”.

“As grandes marcas, como Gucci, Nike, Adidas e Renner, fazem investimentos na casa das centenas de milhares de reais para projetos inovadores (como vários que foram premiados em Cannes recentemente), para ganhar visibilidade e construir autoridade como marcas inovadoras e antenadas. Estes investimentos em geral são na construção ou utilização de plataformas existentes, criando experiências únicas (ou seja, feitas de forma personalizada) para conseguirem destaque”, ressalta o especialista.

“Já as pequenas empresas não podem investir muito, ou às vezes contam apenas com o tempo de alguém dentro da empresa para utilizar soluções que já existem, já estão disponíveis e já funcionam. Neste cenário, plataformas descentralizadas como Decentraland ou Sandbox, ou ainda as centralizadas como Spatial ou Roblox, oferecem opções gratuitas, que podem ser utilizadas para várias finalidades de negócios”.

Segundo Kenneth, as pequenas empresas podem aplicar esforços no metaverso em diversas frentes, que incluem apresentação de produtos, sala de trabalho virtual, tratamento de dados, experiências de turismo e eventos como shows, congressos, feiras, treinamentos virtuais, gêmeos digitais, compras imersivas, entre outros.

“Para o setor imobiliário, por exemplo, é possível oferecer aos clientes visitas a imóveis e apresentação de projetos de construção. A medicina já consegue proporcionar cirurgias remotas, além de outros tratamentos e abordagens, como terapia digital para pessoas com autismo. A gama já é grande e tende a ser cada vez mais ampliada”, explica.

Tendências no metaverso para os próximos anos
E quais são as principais tendências em metaverso nos negócios para os próximos anos? Kenneth ressalta que os próximos passos incluem o avanço da Web3, a evolução dos metaversos baseados em blockchain, com usos de criptomoedas e NFTs, e também a quebra das barreiras de adoção da tecnologia.
O especialista pontua que ainda há muitas questões para serem melhoradas, otimizadas e até resolvidas, mas há também muito investimento. “Apenas em 2022 foram U$120bi em investimentos, um crescimento de 10 vezes em relação a 2021, ou seja, as novidades estão aparecendo em uma velocidade até difícil de acompanhar. Meta está lançando em 2023 seu novo modelo Oculus Quest 3, e a Apple, no começo de 2024, seu Apple Vision Pro. A Microsoft está investindo no Metaverso Industrial, sua visão do uso de realidade virtual, aumentada e mista para negócios”.

Principais desafios para a implementação do metaverso nos negócios
Kenneth Corrêa também fala sobre os desafios. “É uma novidade, e as pessoas possuem muita dificuldade em abraçar o novo. Em especial quem precisa investir, mas está sem acesso a capital (juros e inflação altos no mundo todo), e também não espera retornos no longo prazo. Apesar de algumas plataformas de Metaversos para Games terem volumes expressivos de usuários (na casa das centenas de milhões), as plataformas de metaversos sociais ainda lutam com as centenas de milhares, então há poucos usuários para justificar um investimento mais acentuado”, aponta.

Hoje, o metaverso ainda é uma tecnologia em fase inicial. Segundo dados da consultoria Gartner, espera-se que as tecnologias emergentes causem grande impacto nos negócios e na sociedade nos próximos dois a dez anos. Para investir no metaverso, não se trata de maturidade da empresa especificamente. “Tem mais a ver com a empresa estar disposta a chegar antes dos outros, enquanto o espaço ainda é um oceano azul, e as fundações estão sendo construídas”, destaca Kenneth.

“Para a empresa que deseja investir em Metaverso esperando gerar um volume de vendas imediata, é mais assertivo direcionar seus investimentos para tecnologias mais estabelecidas (como uma boa campanha de marketing no Tiktok, por exemplo), pois os investimentos em tecnologias emergentes são mais arriscados, e o ambiente ainda é bastante incerto. Porém, aquelas empresas que estão olhando para o metaverso como um caminho para a redução dos custos de treinamento, deslocamento, diminuição dos riscos ocupacionais, estas sim já podem gerar resultados ainda em 2023”, conclui o especialista.

Sobre Kenneth Corrêa
Especialista em inovação, negócios digitais, novas tecnologias, inteligência artificial e metaverso. Professor de MBA da FGV. Há mais de 15 anos desenvolve e monitora projetos de marketing e tecnologia, atendendo empresas como Suzano, Mosaic Fertilizantes, Leica Microsystems, entre outras. Diretor de Estratégia da agência 80 20 Marketing.

Facebook
Twitter
LinkedIn