Startups inserem o modelo fintech em suas operações como alternativa para acelerar processos burocráticos e oferecer novos serviços ao mercado
O mercado imobiliário representa a maior classe de ativos no mundo, cerca de US$ 225 trilhões. Só no Brasil, cerca de 190 mil imóveis foram vendidos em 2020, além de R$ 124 bilhões em crédito imobiliário para construção e compra de imóveis. Ao mesmo tempo, condomínios movimentam R$ 165 bilhões todos os anos e R$ 32 bilhões são gastos com reformas anualmente. Esses números expressam a importância do mercado de Real Estate Fintech – empresas que buscam ofertar produtos e serviços financeiros relacionados ao mercado imobiliário por meio de tecnologia e inovação.
“Modelos como Credpago ou Creditas facilitam o acesso ao crédito, aceleram os processos burocráticos e trazem mais alternativas para o setor imobiliário” afirma Marcus Anselmo, managing partner da Terracotta Ventures, maior empresa de venture capital da América Latina especializada nos mercados imobiliário e de construção civil.
“Ao analisarmos a intersecção entre o segmento imobiliário e o financeiro vemos exemplos de negócio como a Hent – startup que tem desenvolvido linhas de crédito para loteadores. Também temos players cujo escopo original era estritamente imobiliário estão passando a enxergar o mercado financeiro como uma alternativa para promover novos produtos, podendo fazer por meio de aquisição de outros já posicionados, como aconteceu com a compra da ATTA pelo Quinto Andar, ou da Credpago e CrediHome pela Loft”, explica Anselmo.
No que diz respeito aos investimentos, o ano de 2020 contou com 110 rodadas totalizando US$ 1,5 bilhão de investimentos envolvendo alguma startup que integre soluções financeiras ao ecossistema imobiliário e da construção civil no mundo. “O tamanho dos cheques em rodadas early-stage praticamente dobrou desde então, de US$ 580 mil para US$1,07 milhão. Foi o segundo melhor ano para o setor, desde quando os primeiros aportes foram mapeados em 2012, ficando atrás apenas de 2019, quando foram investidos US$1,761 bilhão nessas empresas”, lembra o especialista.
A Terracotta lançou recentemente um relatório de mercado focado na expansão e oportunidades das chamadas “real estate fintechs”. Segundo o estudo, no Brasil existe uma parcela muito relevante de empresas da construção civil de pequeno e médio porte. Em 2020, havia 45 mil empresas com 5 a 29 funcionários, representando 23% do total das incorporações.
O crescimento de alternativas de crédito, redução das taxas de juros e surgimento dos bancos digitais também trazem a provocação ao mercado de repensar sua interação com o consumidor e acessar parcelas da população ainda não atendidas, com movimentos que ainda podem crescer como a bancarização de corretores e outras parcelas da população (autônomos e negativados).
Outra tendência que deve se consolidar nos próximos anos é o crowdfunding imobiliário. Em todo o mundo, o valor atual deste mercado de investimento coletivo em imóveis supera US$ 8,3 bilhões, com taxa de crescimento anual prevista em 58% até 2028. “O Brasil conta com uma baixa penetração do crowdfunding imobiliário se comparado aos EUA. Isso pode ser explicado por uma educação financeira ainda incipiente do brasileiro, quando comparado o número de investidores de Fundos Imobiliários no Brasil com os dos EUA, de modo que esses números são, respectivamente, 1,2 milhões e 142 milhões”, compara o executivo.