Química Verde

O gigantesco mercado mundial de cosméticos e produtos de beleza tem na feira In-Cosmetics Global uma referência internacional para lançamentos da indústria e tendências para o uso de novas matérias-primas. Neste ano, a feira que aconteceu em Amsterdam, na Holanda, contou com um lançamento inovador, criado pela empresa catarinense Nanovetores: um cosmético baseado em probióticos, composto por microrganismos vivos, encapsulados. A novidade apresentada pela empresa de Florianópolis foi desenvolvida em torno de um processo pioneiro, criado em 2009 pela doutora em química Betina Giehl Zanetti Ramos. Trata-se da utilização da nanotecnologia – uma ciência que estuda estruturas manométricas, ou seja, em escala de um bilionésimo de metro – para encapsular ativos em produtos que podem ser utilizados na indústria de cosméticos, têxtil, da área de saúde e alimentar, entre outras. O grande trunfo da técnica desenvolvida por Betina consiste em revestir ativos (ingredientes) em “cápsulas” invisíveis a olho nu, preservando assim suas qualidades essenciais. “O que a Nanovetores faz é uma plataforma tecnológica – a proteção de ativos – que hoje está focada nos produtos destinados à indústria cosmética, mas que também pode ser aplicado no segmento odontológico, têxtil, do agronegócio, entre outros”, explica Ricardo Henrique Ramos, CEO da Nanovetores.

A trajetória do casal Betina e Ricardo Ramos pode ser considerada como uma legítima história de sucesso, onde o pioneirismo empreendedor aliado a um processo científico altamente inovador catapultou uma empresa que nasceu em uma sala de 30 metros quadrados para um seleto cenário internacional. Tudo começou quando Betina finalizou o doutorado, em Bordeaux, na França, elaborando pela primeira vez um processo pioneiro de encapsulamento de ativos. A tese logo ganhou visibilidade e a cientista passou a ser assediada por laboratórios de várias partes do planeta, interessados na novidade. O espírito empreendedor de Ricardo Ramos, no entanto, contaminou a parceira para trilhar um caminho próprio, surgindo então a empresa que iria se transformar em um caso de sucesso e inovação que ultrapassaria as fronteiras nacionais. A empresa também contou com um fator extra, o surgimento em 2006 da Lei de Inovação, um marco legal que permitiu a órgãos de fomento investirem em empresas com a marca da pesquisa e da criação. “Na época, eu trabalhava com médicos e pessoas ligadas a universidades, em projetos de captação de recursos para subvenção econômica. Isso possibilitou uma expertise na área de captação, que somado ao impulso proporcionado pela Lei de Inovação nos levou a criar a empresa. Lembro muito bem daquele dia, quando decidimos criar a Nanovetores e partimos para registrar a marca no INPI, dali para cá não paramos mais”, recorda-se Ricardo Ramos.

Entre 2006 e 2008, a empresa passou por um amplo processo de formatação e, em 2008, já instalados na incubadora Celta, obtiveram um impulso através de investimentos via Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de SC) e Sebrae. O edital de inovação do Pappe (Programa de Apoio a Pesquisa em Empresas) financiou o primeiro projeto, voltado ao desenvolvimento de um produto para tratamento de unhas, baseado em óleos essenciais. O projeto repercutiu muito bem e a Nanovetores deu início a uma trajetória de prêmios e muita visibilidade. Em 2012, um aporte do fundo Criatec, do BNDES, conferiu uma nova perspectiva de crescimento. Atualmente a empresa conta com 40 funcionários que atuam na sede do Inovalab (Laboratório de Inovação e Tecnologia), no Sapiens Parque, e deve fechar o ano com um faturamento estimado em R$ 20 milhões. Os planos de expansão apontam para um faturamento de R$ 100 milhões até 2022 e uma sede própria que deve começar a sair do papel no ano que vem.

Com representação em 26 países distribuídos pelos cinco continentes e uma escritório em Pompano Beach, nos Estados Unidos, a Nanovetores tornou-se uma multinacional brasileira com reconhecimento internacional.  A estrutura industrial deve ser ampliada nos próximos anos, mas já conta com uma capacidade de produção de até 10 toneladas ao dia e um processo de produção just in time, de acordo com a demanda de cada cliente. Atualmente os clientes da empresa constituem grandes marcas do mercado nacional e internacional de cosméticos.

De acordo com Betina Ramos, o Brasil está entre os três maiores mercados de cosméticos do mundo e na área de tratamento capilar é líder em desenvolvimento de produtos e novas tecnologias. Portanto, é natural que a Nanovetores concentre esforços na produção de novos ingredientes para essa indústria, embora a empresa esteja desenvolvendo novas linhas para os segmento e alimentar e têxtil, como a transposição de uma solução desodorante para a roupa, ou a ação repelente de insetos e também de frescor. Para a empreendedora, o crescimento da Nanovetores nos últimos anos também pode ser creditado a uma equipe afinada, que mescla diversas idades e níveis de atividade profissional, ligadas a áreas como a química, biologia, sanitária, cosmetologia e engenharia de produção, que integram-se com as áreas comercial e administrativa.

Ricardo Ramos recorda-se dos primeiros anos da empresa, quando os esforços de convencimento do mercado de que um produto inovador poderia dar certo era a tônica do negócio. “Até lançar o produto e incluí-lo no portfólio da indústria cosmética era como vender uma viagem para a lua, porque até o processo inovador evoluir e virar um produto no mercado leva tempo”, define.  O processo de maturação de um produto novo, como os ativos encapsulados nanotecnológicos, para chegar à indústria e depois ao consumidor final, exigiu um esforço extra nos primeiros anos. “Na época, a questão era catequizar e mostrar a boa nova da inovação”, lembra Ricardo Ramos. Vencidos os esforços iniciais, no entanto, quando um produto com características novas se consolida é como rastilho de pólvora na indústria, que marca a eficiência como uma característica irreversível e passa a adotar o novo. De acordo com o CEO da Nanovetores, as vendas internacionais são cada vez mais consistentes, mas o mercado brasileiro ainda é o grande atrativo. “Se chegarmos a prover 0,1% da indústria nacional de cosméticos, já estaremos dando um salto incrível nos próximos anos, tamanha é a grandeza e as possibilidades desse mercado”, avalia.

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