por Flávio Cardozo Jr.
Presentear alguém é uma dessas tarefas que costumam deixar muita gente com o coração na garganta. É preciso ter algum conhecimento sobre a pessoa a ser presenteada, ter uma certa sensibilidade para compreender as sutilezas das relações sociais. Há ocasiões em que escolher um objeto para outro parece uma tortura. Há 21 anos, um médico criou um remédio para aplacar esta angústia que sentimos ao percorrer lojas e lojas sem encontrar o que sirva aos nossos propósitos: disposto a mudar de ramo, o carioca Sebastião Rosa, que havia se mudado do Rio de Janeiro para Florianópolis, criou a Imaginarium, empresa especializada em artigos para presentes criativos, divertidos e de bom gosto. A empresa investe na antecipação de tendências, no fun design e, para se expandir, no sistema de franquias, receita que a tornou uma das mais importantes do ramo no País: possui 113 lojas franqueadas, 20 quiosques e 600 pontos no Brasil. Além disso, um exército de mais de 300 profissionais se dedica à criação de novas ideias, criação de produtos e vitrines. Hoje, ao lado de Sebastião, dirigem a empresa as filhas Nanina e Cecília.
A criação dos produtos é da Imaginarium, mas a fabricação é terceirizada. São 80 fornecedores no Brasil e outros 120 na China. Os conceitos criativos surgem na sede da empresa, na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, onde os colaboradores dispõem de um espaço multifuncional integrado à natureza para poderem trabalhar livres das preocupações do dia a dia. Produtos para casa, de uso pessoal, moda, eletrônicos e artigos para presentes são comercializados, sempre se levando em conta o conceito de fun design – é preciso que o artigo surpreenda, que seja divertido, que se diferencie.
A capacidade de identificar rapidamente as tendências, o dinamismo para atingir novas metas estipuladas e o trabalho livre dos responsáveis pela criação, além do cuidado com a logística, estão na base do sucesso da Imaginarium. “Para ser dinâmica, a empresa precisa ser ágil, deve se reinventar constantemente. Não somos definidos pelos produtos em si, mas pelo conceito. Precisamos de criatividade, originalidade, para surpreender o cliente. Por isso, investimos no talento pessoal e na capacitação profissional, e observamos o mercado”, afirma Carlos Zilli, diretor-geral da marca. Um dos filões que estão sendo explorados agora é o consumidor da classe C, que compra com voracidade e que já há algum tempo vinha demonstrando a intenção de fazê-lo, embalado pela estabilidade econômica. A empresa apostou e acertou na mosca.
O sistema de franquias foi adotado ainda no primeiro ano da empresa, em 1991. A primeira loja foi inaugurada vendendo produtos de decoração, com um espaço de floricultura e café. A segunda, logo em seguida, foi instalada no então único shopping de Florianópolis, já com o conceito de vender apenas objetos de decoração. Daí para frente o crescimento foi exponencial, pela adoção das franquias. Em quatro anos eram 15 unidades. Hoje são 113 lojas, algumas no formato compact, que exige um capital menor para ingresso do associado. A meta é abrir 100 novas lojas pelo País até 2015. Há também mais 600 pontos de corner franchising, sistema pelo qual o associado instala seu negócio, com a devida comunicação visual da Imaginarium, em estabelecimentos multimarcas já consolidados no mercado.
A empresa também firma parcerias para diversificar a oferta. Em 2009, inseriu artigos de moda com a marca Visto (mochilas, bolsas, camisetas, chapéus e bonés), com os óculos e headphones Spitfire (marca sul-africana que virou febre na Inglaterra) e com acessórios e bijuterias de diversas procedências. Seguiram-se outras iniciativas inovadoras, entre elas o redesenho da logomarca, que em 2011 rendeu à empresa o prêmio Idea/Brasil, a versão nacional da maior premiação norte-americana em design. O International Design Excellence Awards (Idea) premia, há mais de 30 anos, os melhores trabalhos de design de empresas de todos os continentes. Nesse período, a Imaginarium investiu R$ 200 mil em marketing, pesquisa e desenvolvimento, em parceria com a Sanrio, para a criação do dockstation iHello Kitty, que vendeu 3 mil unidades logo no primeiro mês. Também firmou parceria com a Converse, comercializando modelos do tênis All Star produzidos com o fun design e a irreverência que caracterizam a Imaginarium.
Também em 2011 a empresa passou a apostar em ações ecologicamente corretas. Integrou-se ao Franchising de Baixo Carbono, um programa de compensação de emissão de gases poluentes. A rede calcula a emissão ao meio ambiente de algumas de suas unidades e investe no plantio de árvores. Como a iniciativa está sendo bem-sucedida, a empresa pretende ampliá-la para todas as suas unidades nos próximos anos. Essas ações tendem a fazer com que a marca Imaginarium seja mais bem vista pelo público em geral. A comunicação com o público, por sinal, é um componente importante da estratégia da empresa. Tem 500 mil seguidores no Facebook, mais de 40 milhões de impressões na Fan Page, 6 milhões de views no Flickr, mais de 44 mil seguidores no Twitter e 70 mil visitantes por mês no blog.
Em relação às dificuldades comuns a todos os empreendedores brasileiros, Carlos Zilli diz que o emaranhado tributário é uma das piores. “Precisamos manter muita gente só para entender as regras do jogo, é bastante complicado. Mas a logística também dá muito trabalho. Distribuir produtos para todo o País é um desafio à eficiência, em razão dos problemas de transporte.” Quanto à competição com os artigos estrangeiros, Zilli é taxativo: “Não nos preocupamos. Combatemos com criatividade, que é o nosso ponto forte”.