Essa empreendedora promove inclusão financeira para os “invisíveis” do Brasil

Vivência pessoal com exclusão financeira levou a empreendedora Rafa Cavalcanti (foto em destaque) a criar a CloQ, empresa que já impactou mais de 100 mil pessoas

“Ver minha família sendo descartada pelo sistema financeiro formal, mesmo com tanto esforço, me marcou profundamente. Foi ali que comecei a entender quem são os verdadeiros invisíveis da economia”, relembra Rafa Cavalcanti, CEO e cofundadora da CloQ, fintech de impacto social que auxilia brasileiros a construírem um histórico de crédito positivo, seguro e inclusivo por meio do nano-crédito.

Natural de Recife (PE), Rafa cresceu em uma família de empreendedores informais da periferia. Seus pais, que trabalhavam com vendas, enfrentaram uma sequência de 17 assaltos em pouco tempo, o que comprometeu o capital necessário para manter o negócio e os levou ao endividamento. Sem recursos para recomeçar, ficaram inadimplentes – excluídos do sistema financeiro. O ciclo de exclusão começou ali e, mais tarde, essa vivência transformou sua história em propósito.

“Foi nesse contexto que entendi que não basta trabalhar duro. Sem acesso ao crédito, milhões de brasileiros permanecem à margem das oportunidades. Por isso, decidi buscar conhecimento e me formei em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco, em 2013, determinada a encontrar caminhos que me permitissem não passar pelo que meus pais passaram e, acima de tudo, ajudá-los”, reforça.

No ano seguinte, em busca de novas perspectivas, a executiva saiu do Brasil para estudar na Europa, onde se tornou Master em Business pela Vrije Universiteit Amsterdam e acumulou experiência em expansão de negócios por quatro continentes, incluindo passagens pela Índia e China. Alguns anos depois, já estabelecida na Holanda, decidiu levar sua mãe para viver com ela. Porém, sem alternativas formais de crédito, a família enfrentou novamente a falta de acesso a recursos financeiros. Para viabilizar a viagem, sua mãe – sem que a filha soubesse – recorreu a um agiota. Esse episódio se tornou o gatilho para que a executiva decidisse mudar essa realidade.

A partir disso, ao lado do amigo Koen Lassooij, ela fundou a CloQ: uma fintech de impacto social que desenvolve uma análise de crédito independente de renda ou score tradicional, permitindo que mais brasileiros construam um histórico positivo e saiam da invisibilidade. Nascia ali uma nova trajetória, marcada pela inovação e pelo compromisso com a inclusão financeira, que já impactou mais de 100 mil brasileiros, liberando R$ 4,5 milhões em nano-créditos e ampliando o acesso a oportunidades no sistema financeiro.

Com operação 100% digital, a CloQ transformou a tecnologia em aliada, utilizando um aplicativo, disponível para Android, como porta de entrada para clientes. O resultado dessa jornada já é visível: os propósitos da fintech atraíram a atenção de importantes parceiros, como o Village Capital, o Sustainable Development Solutions Network e o programa Google for Startups Startup Advisor. Além disso, a fintech conquistou um lugar de destaque no banco de dados online da ONU de boas práticas dos ODS, além de consolidar sua presença em todo o território nacional.

“Sei o quanto é desafiador romper barreiras e construir algo que realmente faça a diferença, mas decidi investir nesse mercado porque acredito que o acesso ao crédito não deve ser um privilégio de poucos, mas uma ferramenta de transformação para todos. Nossas soluções vão além de simplesmente oferecer crédito, buscamos criar um caminho para que as pessoas construam um histórico financeiro positivo, incentivando um comportamento mais consciente e comprometido com os pagamentos”, destaca Rafaela, que também é fellow do FMI e da Cartier Women’s Initiative, além de youth leader da SDSN da ONU.

Hoje, apesar dos percalços, a família seguiu empreendendo e já alcançou uma segurança financeira. A executiva enxerga que parte de sua missão foi cumprida, mas está longe de chegar ao fim. O que começou como uma dor pessoal se transformou em um projeto de transformação coletiva. Com tecnologia, empatia e visão estratégica, ela continua a quebrar ciclos de exclusão e a abrir portas para milhares de brasileiros que, como sua família no passado, só precisavam de uma chance.

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