Governança corporativa é fator de atração para investidores seletivos

Segundo especialistas, mapear os indicadores financeiros corretos é o primeiro passo a ser tomado antes de buscar um aporte

Após anos desafiadores para a captação de recursos, o cenário de investimentos em startups no Brasil sinaliza um movimento de retomada. De acordo com dados divulgados pelas plataformas Distrito e Sling Hub, só em maio as empresas de inovação e tecnologia receberam US$ 548 milhões em aportes, quantia 259% maior do que a registrada no mesmo mês do ano passado. Agora, especialistas apontam uma nova preocupação que deve estar no radar dos empreendedores: mostrar aos fundos que a startup possui maturidade financeira e contábil para conquistar uma captação.

“Por causa do ‘inverno das startups’, muitas empresas precisaram operar de forma mais enxuta. Para isso, foi preciso olhar com atenção para a área de finanças e desenvolver um maior controle contábil. Com a expectativa de uma retomada nos investimentos, as startups deverão mostrar que fizeram a lição de casa e estão bem organizadas para atrair investidores. Isso porque eles estão mais seletivos e exigentes ao realizar um aporte. A empresa precisa mostrar logo de início que consegue atingir os resultados esperados, e os dados financeiros devem estar registrados corretamente”, pontua Fernando Trota (foto em destaque), CEO da Triven.

De acordo com a CFO da Triven Renata Calil, é comum que as empresas só passem a dar atenção à área contábil quando decidem buscar um aporte. “No começo das atividades, os executivos estão dedicados ao desenvolvimento do produto, em fazer testes, estruturar o time de marketing e vendas. Nesse contexto, os setores contábil e financeiro podem acabar ficando em segundo plano. Porém, quando a empresa decide captar, surgem os desafios causados pela falta de governança”, explica a especialista.

Segundo Renata, uma boa organização é indispensável para acelerar o processo de captação. “O balanço financeiro será a primeira coisa que o investidor vai querer ter acesso ao negociar com uma empresa. Com esses dados financeiros registrados corretamente, essa fase se torna mais tranquila. Ao entrar em uma due diligence com a documentação completa e atualizada, o processo não será tão lento e cansativo”, pontua.

Desempenho
Os indicadores financeiros são essenciais para mostrar a evolução da startup e detalhar seu desempenho em áreas importantes. Porém, para alguns empreendedores, a definição de quais KPIs – Key Performance Indicators – apresentar aos investidores é um desafio. Para Karen Oliveira, controller na Triven, é preciso saber interpretar os indicadores para definir quais serão apresentados em uma rodada de captação.

“Indicadores como taxa de retenção de clientes, receita mensal recorrente e custo de aquisição do cliente são alguns exemplos de métricas importantes. O executivo precisa mostrar que é capaz de cultivar relacionamentos duradouros com os clientes, que o modelo de negócios é escalável e que a estratégia adotada para obter usuários gera retorno para a empresa. Os investidores também vão querer saber quanto tempo o negócio pode operar sem a necessidade de financiamento adicional e se a startup tem uma posição competitiva no mercado”, complementa.

Ela destaca que a qualidade das informações é mais importante do que a quantidade. “Uma seleção criteriosa pode gerar insights e direcionar a atenção para os aspectos mais relevantes do desempenho financeiro da empresa. Por isso, também é preciso saber interpretar as dinâmicas do mercado”, finaliza.

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