Muitos recrutadores já devem ter pautado suas decisões na máxima de que o perfil ideal de candidato (a) é o que traz no CV certificações, diplomas, se a universidade em que se formou é renomada no mercado, se estudou línguas fora do país, experiências em intercâmbios, e por aí vai. Ah, indicações também costumam ser um critério de escolha.
Entre as novidades no mercado para tornar as contratações mais estratégicas e assertivas é o uso da inteligência artificial, que se baseia não em opiniões enviesadas, mas na análise puramente de dados. Tem ajudado a área de RH a romper com os rótulos e estereótipos durante o processo, desde o preenchimento do anúncio para abertura das vagas até o fechamento delas.
Um exemplo de que a contratação pode ser feita sem viés é a própria jornada e experiência de João Manesco, de 25 anos, que foi contratado pela Kenoby, software de recrutamento e seleção, após ter atuado como instrutor de mergulho por quatro anos. A startup tem como parceiro a Mindsight, empresa que faz o matching entre pessoas e ambientes, mapeando o perfil do candidato e das organizações de maneira comparável e escalável, também responsável pela aplicação dos testes psicométricos.
“Acredito que quando a empresa contrata uma pessoa com os mesmos valores e com as habilidades certas para aquele cargo, um ciclo virtuoso é criado naquele momento e tem tudo para dar certo. O funcionário estará feliz e será estimulado a crescer naquele lugar”, diz Manesco, que hoje é analista de atendimento da Kenoby, e dá suporte via chat para empresas e candidatos usuários do software.
Movido pelo desejo da família em que se formasse como engenheiro, ele percebeu que não era bem a ´praia´ dele, por se considerar uma pessoa muito comunicativa. Hoje, ele está cursando Publicidade e Propaganda. “Existiam outras áreas em que eu poderia ter optado em seguir, como o mergulho técnico que se faz em cavernas ou em grandes profundidades. Durante minha experiência como instrutor, aprendi a liderar, a me comunicar e ver o mundo de outra forma. Assim, achei que tinha capacidade de me encaixar em outras áreas e fui.”, comenta o jovem.
O profissional conta que chegou a ser desclassificado de um processo seletivo pelo currículo. “Eu sempre me orgulhei da minha carreira como mergulhador e fiz questão de colocar isto no meu CV. No entanto, ‘cai do cavalo‘, pois passei por uma entrevista em uma empresa considerada jovem e diferente e achei que eles iriam gostar disto. Quando cheguei para a entrevista, escutei em tom de deboche do recrutador: ´Você que é o doido que colocou que é mergulhador no CV? ´, e o tempo todo brincava com isso. No fim, nem feedback eu recebi”, relembra.
Talvez esse fato explique o dado levantado pelo LinkedIn em que, para “78% dos candidatos entrevistados, as experiências ruins indicam como as empresas tratam seus colaboradores”. Na visão de Marcel Lotufo, sócio fundador da empresa, e que chegou a atuar como headhunter antes de fundar a startup, muitos talentos são desperdiçados todos os dias pelo fato de se analisar apenas os dados do currículo.
“O gestor quer alguém que o ajude a resolver problemas da área, e isso não está geralmente associado às qualificações do CV, como o nome da faculdade que concluiu, se é mulher ou homem, branco ou negro, e sim ao comportamento, atributos e características da pessoa. Contratamos o Manesco não pelo o que vimos no currículo, mas pela pessoa que mostrou ser durante todo o processo seletivo. A prova maior que acertamos e ver que ele realmente era a pessoa certa para a posição.”, argumenta.
RH sem viés e do futuro
A plataforma da Kenoby recebe, em média, mais de um milhão de inscrições de currículos por dia. O programa analisa atributos como pensamento criativo, grau de influência e apatia, resiliência, humor, ambição e flexibilidade, entre outros, além de apresentar um ranking dos profissionais que mais se aproximam do perfil da vaga. São feitos testes psicométricos que avaliam a parte comportamental, cognitiva, cultural e social dos candidatos e, com a ajuda da inteligência artificial, se faz o cruzamento de dados para chegar a um arquétipo ideal de candidato para determinada vaga. Logo, as chances de acertar na contratação é muito maior. “Humanamente, esse tipo de análise seria impossível de se fazer manualmente, pois demandaria muito tempo dos recrutadores”, conclui Lotufo.