Negócios desenvolvidos na periferia impulsionam economia do Brasil

Conheça 3 empreendimentos, acelerados pelo BNDES Garagem, que estão transformando a realidade das comunidades pelo país

No panorama dos negócios, muitas vezes, são as menores iniciativas que têm o maior potencial de impacto significativo. Esses empreendimentos, que constantemente estão fora do radar dos grandes mercados, são criados em locais periféricos e sabem exatamente as dores das pessoas que vivem lá, além de entenderem a emergência de se resolver determinados problemas. Nesse caso, são elas: Mais1Code, naPorta e Visão Coop, startups com negócios desenvolvidos nas periferias.

De acordo com uma pesquisa feita pela Fundação Arymax, o empreendedorismo social periférico possui capital inicial 37 vezes menor e receita 21 vezes menor, quando comparado a empresas sociais de outras localidades. Limitados quando contrapostos aos negócios de outras regiões, esses empreendedores enfrentam desafios como infraestrutura, barreiras culturais e falta de acesso ao financiamento. Mesmo com esse cenário de desvantagem, o impacto é intenso, uma vez que os empreendedores trazem experiências pessoais comuns às necessidades de quem reside nessas áreas.

Diante disso, o sucesso dessas startups nascidas na periferia não deve ser avaliado só em termos de capital inicial ou receita, mas sim, pelo impacto que tem de melhorar as condições de vida da população local e solucionar desafios sociais, abordando questões que podem ter sido negligenciadas, preenchendo uma falha na prestação de serviços e na criação de oportunidades econômicas.

“Tem crescido o número de startups que temos apoiado com empreendedores que vieram da periferia. É missão de programas como o BNDES Garagem valorizar a diversidade presente nas startups brasileiras, oferecendo acesso a uma rede de mentores, conhecimento estruturado e conexão com potenciais parceiros e investidores. Dessa maneira, acreditamos estar aumentando as chances de sucesso desses negócios”, destaca Felipe Alves, head do Consórcio AWL, responsável pela aceleração de startups no BNDES Garagem. “Há muitas pessoas talentosas e empreendedoras nas periferias do Brasil e que conhecem de perto as dores que estão propostas a solucionar. Isso pode representar uma vantagem ao se criar um produto ou serviço de impacto, ao tornar o processo de validação da solução mais rápido e com menos barreiras de conexão e entendimento das realidades das periferias”, completa.

A seguir, conheça três startups de impacto que atuam em periferias e que estão sendo aceleradas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em parceria com o Consórcio AWL (Artemisia – Wayra – Liga Ventures):

Mais1Code
Idealizada em 2019, a Mais1Code, tem como propósito transformar a vida dos jovens da periferia, ensinando programação de forma gratuita. Tauan Matos e Diogo Bezerra, fundadores da edtech, já impactaram mais de dois mil jovens com o negócio. “Como crescemos na periferia e vivemos na pele a luta contra a desigualdade social para alcançar os nossos objetivos, resolvemos trazer uma perspectiva diferente para o futuro dos  adolescentes”, conta Tauan Matos (foto ao centro), Co-Fundador da Mais1Code.

A empresa oferece um curso 100% gratuito, com foco nesses jovens de baixa renda, chamado de “Lab Mindset”, no qual passam por identificação de habilidades, desenvolvimento de base tecnológica, ideação de solução tech e encontros semanais com os facilitadores da edtech. O segundo passo é “Universidade Mais1Code”, na qual os alunos desenvolvem conhecimentos sobre as linguagens de programação, criam protótipos, participam de workshops e aulas exclusivas dentro da plataforma do negócio. E, por fim, passam para a fase “Mercado de Trabalho”, processo que orienta os jovens em habilidades emocionais e sobre o mercado de tecnologia. Depois que se formam, os participantes são contratados pelas empresas parceiras da Mais1Code e se tornam encarregados de financiar a formação de outro aluno.

Em 2022, a Mais1Code conquistou o pódio da competição de pitch do GSEA (Global Student Entrepreneur Awards) e também apresentou seu case de sucesso no Web Summit de Lisboa, maior evento de tecnologia do mundo.

naPorta
A naPorta é uma empresa que opera com o modelo de Logistic as a Service (LaaS), com um modelo de armazenagem e entrega de produtos em várias localidades, incluindo áreas restritas, zonas rurais, ribeirinhas e periféricas. O objetivo é fornecer uma solução completa e sustentável, abrangendo serviços de entrega com uma tecnologia de ponta. Atuando com mini hubs nas proximidades das comunidades onde há o acesso para recebimento de mercadorias que vêm de operações cross docking, em áreas estratégicas da cidade.

A empresa foi fundada em 2021 por Sanderson Pajeú, Katrine Scomparin, Leonardo Medeiros e Rodrigo Yanez. As mercadorias são processadas, roteirizadas e, com trabalhadores locais,  as entregas são feitas na porta do consumidor final. Além disso,  os moradores podem acompanhar a rota em tempo real, bem como ter a opção de retirada em uma das agências, sem custo.

“A maior expectativa para 2023 é crescer 3 vezes em relação ao ano passado. E estamos no caminho para isso, com mais de cem mil entregas realizadas. Além disso, fomos certificados por dois anos consecutivos pelo selo de impacto por cumprir as ODS da ONU. Em menos de oito meses nos tornamos a terceira principal transportadora da C&A”, afirma Katrine Scomparin, CMO e Co- Fundadora do naPorta. A startup já gerou mais de 100 oportunidades de empregos nas comunidades, impactando mais de 1,6 milhão de pessoas.

Visão Coop
Criada em 2020 por Fabrícia Sterce e Lennon Medeiros,  a Visão Coop é um laboratório que constrói estratégias de adaptação e tecnologias para resiliência climática nas periferias brasileiras. Os fundadores nasceram na baixada fluminense, em Queimados, cidade que tem mais de 60 anos de enchentes documentadas, e que sofreu com um ciclo de 10 anos de enchentes ininterruptas. Depois de mobilizar mais de 150 voluntários, produzir incidência em entidades governamentais e apresentar planos de adaptação que foram implementados pelo poder público, em 2023, pela primeira vez, não registraram enchentes nos pontos monitorados.

“Nosso foco está em produzir estudos e experiências de inovação territorial, buscando entender as necessidades e características regionais, bem como potencializar tecnologias sociais com ferramentas digitais, trabalhando com criações localizadas, adaptadas ou feitas no contexto em que serão aplicadas”, explica Lennon Medeiros, diretor executivo da Visão Coop.

Nos últimos 3 anos, a startup capacitou mais de 3 mil jovens em ferramentas digitais para a resolução dos problemas, levantando dados das prioridades de mais de mil moradores da Baixada Fluminense, local onde já  foram socorridos mais de 10 mil vítimas das enchentes.

Em 2023, a Visão Coop recrutou brigadas de cinco regiões do Brasil para ajudar a preparar os moradores e territórios para conter os desastres ambientais, testando no pior momento de chuvas o potencial de socorro da ferramenta.

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