Palestina e Israel juntos, na NoledgeLoss: inovação quebra barreiras ideológicas

Em passagem pelo Brasil, a palestina Enas Awwid e o israelense Tal Givati compartilharam os desafios e barreiras que enfrentam

Em um momento no qual a intolerância religiosa e ideológica tomou conta de algumas sociedades ao redor do mundo, gerando conflitos que estão dizimando vidas e reduzindo a chance da convivência pacífica entre os povos, o empreendedorismo tem se tornado uma chave importante para alcançar a paz global. Prova disso é a existência de empresas cuja inovação vai muito além de um produto cheio de tecnologia, mas que gera conexões entre polos diferentes.

Uma delas, a startup israelense NoledgeLoss, tem como seus fundadores a engenheira de software palestina Enas Awwad, de 29 anos, muçulmana ortodoxa nascida na Cisjordânia, e o engenheiro industrial Tal Givati, isralense judeu de 33 anos, casado e pai de uma filha recém-nascida. Mesmo sendo de origens cujos povos estão em um forte desentendimento desencadeado pela barbárie ocorrida em Israel em 07 de outubro, ambos deixam de lado essas diferenças e dividem sua paixão em comum pela tecnologia, descoberta quando Givati e Awwad estudavam em Boston, nos Estados Unidos.

No início deste mês, os fundadores da NoledgeLoss estiveram no Brasil e dividiram o palco do evento Inovação pela Paz, promovido em São Paulo pelos Amigos Brasileiros da Universidade Hebraica de Jerusalém com o intuito de mostrar como a inovação consegue construir pilares para que o mundo, de fato, viva em harmonia.

“Não são somente ideias disruptivas que movimentam a inovação, mas sim pessoas diferentes que estabelecem elos de comunicação, gerando uma ligação entre lados que são difíceis de serem conectados”, diz Dana Lilian Revi (foto em destaque), CEO da Universidade Hebraica de Jerusalém, cuja instituição conta com alunos de vários locais do mundo e de diferentes culturas convivendo entre si e participando de discussões importantes sobre como alcançar o respeito e a convivência mútua por meio da paz.

Desafios: e não são poucos
Tal e Enas contaram um pouco sobre o negócio da empresa – a startup desenvolveu e comercializa uma solução via IA que ajuda as empresas a não perder dados importantes e cruciais compartilhados pelos colaboradores caso eles se desliguem da companhia – e principalmente os desafios significativos que estão enfrentando desde o início do conflito entre Israel e Hamas.

Desde o dia do massacre, a KnoledgeLoss perdeu colaboradores e, pela dificuldade de fazer suas entregas, acabou ficando também sem alguns clientes. Além disso, ainda estão recebendo negativas comerciais pelo fato de terem origens diferentes e integrantes do conflito atual na região.

O que chama a atenção, de acordo com Dana, é como eles estão encarando de frente essas adversidades. “Eles não estão dispostos a entregar os pontos, mesmo atuando em um país que está em guerra. Mesmo morando a 45 minutos de distância, por conta do conflito eles não conseguem se encontrar presencialmente, somente em eventos no exterior. E ainda encontram entraves políticos para voltar para casa, como aconteceu no retorno do Brasil”, conta.

Apesar disso, a empresa vem chamando a atenção do mundo e recentemente recebeu um aporte de capital no valor de US$ 120 mil de Guy Israeli, diretor executivo da Techstars Tel Aviv e um experiente empreendedor de tecnologia, que tem mais de uma década de empreendedorismo e investimento em startups promissoras em mercados emergentes e desenvolvidos.

Para Dana, a NoledgeLoss é um case de sucesso não somente pela inovação de sua solução, mas por quebrar barreiras, unindo forças para a construção de um mundo melhor. “Tão diferentes entre si em diversos aspectos, eles deixaram de lado os pré-conceitos e se deram a oportunidade de dialogar e compartilhar suas visões, promovendo a ‘tecnologia da paz’”, conclui.

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