Hoje, no Brasil, existem 9,3 milhões de mulheres à frente de uma empresa. Porém, o número representa apenas 34% de todos os donos de negócios do país. Não é possível falar de empreendedorismo sem considerar que mulheres e homens ainda não estão em pé de igualdade. Para fomentar o empreendedorismo entre as mulheres em áreas como economia criativa, tecnologia e inovação, o Sapiens Parque, SEBRAE/SC e Cocreation Lab anunciam a criação do Concreation Lab Mulher, uma pré-incubadora focada em negócios comandados por mulheres. A unidade será em Florianópolis e está com inscrições abertas. O programa é totalmente gratuito.
Na busca por igualdade e representatividade, dados mostram a importância de se levar em conta as particularidades da realidade das mulheres brasileiras. Segundo o relatório especial Empreendedorismo Feminino no Brasil, do SEBRAE (2019), a proporção de negócios por necessidade é maior no grupo das mulheres (44% de necessidade contra 32% no caso dos homens). Elas também trabalham menos horas no negócio (18% menos que os homens), e 25% trabalham no domicílio, dividindo-se entre o próprio negócio e afazeres domésticos ou cuidados com os filhos, contra apenas 6% dos homens.
Ainda segundo o SEBRAE, empreendedoras brasileiras atuam principalmente em quatro atividades: serviços de alimentação, serviços domésticos, comércio varejista de roupas e cabeleireiros. Em relação à tecnologia, inovação e economia criativa ainda há um longo caminho a percorrer, mas também há oportunidades. Para o presidente do Sapiens Parque Daniel Leipnitz, é importante ter representatividade:
“As mulheres foram muito prejudicadas, principalmente nas gerações passadas. E ainda são minoria no universo da tecnologia. Precisamos eliminar o preconceito existente de que mulher não serve para exatas, e iniciativas como o Cocreation Lab Mulher ajudam a empoderar. Falamos muito no ecossistema do poder do exemplo. Meninas e mulheres precisam de referências locais, de outras que moravam no mesmo bairro, que estudavam na mesma escola, e que conseguiram empreender e criar uma carreira. Para elas, é muito importante enxergar outras que fizeram isso. Tem um poder transformador gigantesco. Inclusive, muito do desenvolvimento do ecossistema se deu por isso. As pessoas se sentiram empoderadas: se ele conseguiu, eu também consigo”, comenta Daniel Leipnitz, que irá assumir a presidência do Sapiens Parque.
“O SEBRAE/SC trabalha fazendo alianças com parceiros estratégicos em prol de um objetivo único: fomentar o empreendedorismo em Santa Catarina. Essa parceria com o Cocreation Lab vai ao encontro disso, já que unimos forças para auxiliar os empreendedores da Grande Florianópolis a tirarem suas ideias do papel e a abrirem suas empresas. O empreendedorismo é um aliado da população, principalmente em momento de crise como esse que vivemos. Ser parceiro de iniciativas como essa do Cocreation Lab Mulher nos enche de orgulho”, diz Wanderley Andrade, Gerente Regional Grande Florianópolis do SEBRAE/SC.
“O Cocreation Lab Mulher vem para incentivar o empreendedorismo entre as mulheres. Já temos muitas empreendedoras em todas as nossas turmas, já recebemos inúmeras startups com equipes formadas apenas por mulheres, mas sentimos a necessidade de criar um programa pensado especialmente para este público, levando em conta suas especificidades e desafios”, conta o professor da UFSC e criador da pré-incubadora Luiz Salomão Ribas Gomez.
A metodologia exclusiva TXM Business será adaptada para a realidade das mulheres. Serão trabalhados temas como psicologia feminina, autoconfiança, jornada tripla e mulheres na tecnologia. As participantes terão apoio de mentoras mulheres, além de atividades como palestras e conversas com profissionais de diversas áreas.
“A transformação para um mundo mais igual passa pela presença das mulheres em todas as instâncias de poder. Até hoje, continuamos tendo um espaço de segundo plano em todas as estruturas, do trabalho à vida pública. A iniciativa do Cocreation Lab Mulher é extraordinária pois vai oferecer mais oportunidades e preparação técnica para o trabalho. Vai dar a elas as ferramentas que elas precisam para pensar seu negócio e ativar o empreendedorismo, principalmente no período pós-Covid, já que as mulheres foram tão afetadas”, opina Anita Pires, presidente da FloripAmanhã.
Vanessa Resende, ex-cocreator e CEO da Benvou, plataforma que reúne profissionais da área da saúde, bem-estar e beleza, conectando-os com pessoas e empresas, acredita que capacitação e empreendedorismo andam juntos.
“É preciso de capacitação para se inserir no mercado tecnológico. Já temos que chegar munidas de conhecimento, pois às vezes perdem-se talentos porque as pessoas não se capacitam. Nós temos resiliência, garra, mas ainda vejo dificuldade na questão de adaptação. Geralmente, as mulheres vêm de outras áreas e têm que estudar muito sobre o universo das startups. Eu mesma tive que aprender muita coisa sozinha, estudava à noite, pelo Youtube. É importante ter propósito, mas ainda mais se capacitar”, defende a empreendedora, que também dá mentoria para mulheres e outros profissionais.
Para Vanessa, o fato de muitas mulheres começarem a jornada no mundo da tecnologia sem a capacitação necessária ou sozinhas faz com que muitas desistam de seus projetos. De fato, dados da mesma pesquisa do SEBRAE mostram que a maioria das donas de negócio não tem sócios (81%). A pesquisa também mostra que a conversão de “empreendedoras” (mulheres que têm um negócio, formal ou informal, visando ter o próprio negócio) em “donas de negócio” (aquelas que estão à frente de um negócio, como empregadoras ou por conta própria) é 40% mais baixa que a do público masculino, o que mostra que há uma desistência maior no caso das mulheres. A casa 10 empreendedoras, apenas 3,9 se tornam donas de negócio (GEM – Global Entrepreneurship Monitor 2018).
Mentora do Cocreation Lab, ex-cocreator e CEO da Newspass, plataforma digital especializada em ajudar escolas de ensino médio e cursinhos pré-vestibulares no ensino de atualidades, Carolina Cordioli acredita que ainda há um longo caminho na busca por diversidade. Com mais de 20 anos de experiência na área de comunicação, com passagem por grandes agências de publicidade, ela compara os dois mundos:
“Acho que nas duas áreas existe um esforço bem grande para promover a diversidade, mas ainda há um longo caminho pela frente. Existe o discurso mas, na prática, a gente precisa que as empresas façam muito mais. Precisamos de programas eficazes. Por isso, é muito legal a iniciativa do Cocreation Lab de ajudar as mulheres a chegarem no mesmo lugar dos homens. Empreender é não desistir. Isso às vezes é difícil, tanto para homens quanto para mulheres. Mas nós já somos criadas para correr menos riscos. Os meninos podem se lançar em aventuras, subir em árvores. Para as meninas, dizem para tomarem cuidado”, opina a profissional.
Saiba mais sobre o Cocreation Lab Mulher
As inscrições para o Cocreation Lab Mulher vão até o dia 20 de abril. Podem se inscrever equipes de Florianópolis e a proponente do projeto deverá, obrigatoriamente, ser mulher, cis ou trans. A obrigatoriedade não se estende aos demais integrantes da equipe, porém as equipes compostas exclusivamente por mulheres terão um acréscimo de 20% na pontuação na avaliação dos projetos. Serão selecionados até 15 projetos, que depois passarão por cinco meses de pré-incubação gratuita.
Cocreation Lab ultrapassou fronteira de SC em 2021
A primeira unidade da pré-incubadora foi aberta em Florianópolis em 2016. Desde então, o Cocreation Lab chegou a 20 cidades do Estado, em parceria com prefeituras, Fapesc, Sebrae, ACI – Associação Ctarinense de Imprensa, instituições sociais e universidades. Em 2021, vai ampliar a atuação em Santa Catarina, com abertura de novas unidades e novos editais nas cidades já contempladas pelo projeto.
Em janeiro, o programa anunciou que novas unidades de seu ecossistema de inovação serão criadas no Distrito Federal e Entorno para ajudar futuras startups da região a desenvolverem e colocarem todas suas ideias no papel. A realização das novas unidades vem de uma parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) e a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), com apoio da Universidade de Brasília – através do Parque Científico e Tecnológico PCTEC/UnB e do CDT (NIT DA UnB) – e do Isntituto Federal de Brasília. O programa será sediado em quatro espaços de cocriação nessas instituições de ensino e as inscrições abrirão em breve.
Sobre o Cocreation Lab
É uma pré-incubadora que ajuda empreendedores a transformarem suas ideias em realidade. O programa oferece cinco meses de mentorias, palestras, workshops e networking, em encontros presenciais e também pela plataforma da metodologia exclusiva TXM Business, idealizada pelo professor de Design da UFSC e fundador do Cocreation Lab Luiz Salomão Ribas Gomez.
A pré-incubadora está presente em 20 cidades catarinenses – 15 delas em uma parceria com o Programa Nascer, iniciativa da Fapesc e do SEBRAE/SC. Além disso, tem unidades em Florianópolis (MESC, Campeche, CTC-UFSC, ACI e Monte Cristo), em São José, em Biguaçu, em Criciúma (SATC), Fraiburgo, Maravilha e Xanxerê.
Desde a fundação, já passaram pelo Cocreation Lab mais de 500 projetos, dentre eles a Smart Tour Brasil, iniciativa que visa a criação de rotas turísticas inteligentes com uso de tecnologia que conquistou o Prêmio Nacional do Turismo 2019 na categoria Inovação Tecnológica e é finalista do Healing Solutions for Tourism Challenge, da Organização Mundial de Turismo; o Conexão Solar, projeto que busca popularizar a energia fotovoltaica no Brasil com soluções para empresas integradoras e residências; a Newspass, primeira plataforma on-line que ajuda as escolas de ensino médio e os cursos pré-vestibulares no ensino de atualidades; e a Rentsy, plataforma para locação de equipamentos hospitalares que atua no formato marketplace.